Usina de Letras
Usina de Letras
55 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62245 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22538)

Discursos (3239)

Ensaios - (10372)

Erótico (13571)

Frases (50643)

Humor (20033)

Infantil (5441)

Infanto Juvenil (4770)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140812)

Redação (3308)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6199)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->O ESPIRRO -- 13/04/2006 - 09:47 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O ESPIRRO

Fernando Zocca

“Você não deve perder! Conheça toda a trama que levou à morte as 59 galinhas do tio João! Em breve, você não pode perder. O espirro, a nova novela de Antonio Carrasqueta, na sua rádio Lobbo.”


Van Grogue cambaleante, adentrou ao boteco dos herdeiros da finada tia Cris. Ele tinha a barba por fazer e seus olhos estavam congestionados. Dele emanavam fluídos fétidos atraentes das moscas famintas.
Edbar B. I. Túrico e seu irmão Edgar D. Nal estavam com as panças encostadas no balcão há muito tempo. O atendente um moço louro, de olhos azuis e tez alva, passava com desalento e de vez em quando, um pano debaixo do copo dos beberrões.
Van trazia um exemplar da Folha de S. Paulo debaixo do braço esquerdo. Apoiou-se, com a mão direita, no trilho da porta de ferro, para entrar.
Ao se aproximar dos colegas disse: “Olham só a reportagem: Na grande São Paulo 10% da população carece de atendimento psiquiátrico. Aqui em Tupinambicas das Linhas a coisa é um tanto quanto que diferente. Nessas quebradas, 90% das pessoas precisam de Prozac.”
Edgar D. Nal respondeu: “O que essa negadinha carece é de comida, isso sim! Imagine só, está tudo invertido. Quem não come carne fica anêmico, sujeito aos humores do pânico. Onde já se viu, nessa terra tão rica e portentosa, com cana por tudo quanto é lado, faxineiras ganharem mais do que professores? Antigamente quando ia pro grupo escolar, tomava cada croque na moleira e piparote na orelha, que sentia até medo só de pensar em voltar para as aulas no dia seguinte. Hoje se uma professora encostar o dedo no aluno, pode parar na delegacia.”
Edbar B. Túrico entrou na prosa: “Eu me lembro que quando alguma professora queria acabar com a vida dum aluno, por ser devedora do seu pai, ou ter alguma quizila com parentes da criança, produzia o maior auê dificultando ao máximo o desempenho do aluno. Hoje mudaram-se as posições. Há uma espécie de compensação. Acabou a tirania da professora doida, neurótica e perseguidora”.
A tarde vinha chegando, a temperatura estava amena. No céu algumas nuvens esparsas indicavam que não choveria. No ar um perfume suave desprendia-se da arvorezinha próxima.
Van Grogue, depois de ingerir seu copo costumeiro de pinga, tomou o jornal da cidade, deixado num canto do balcão. A manchete dizia: "Gerente do banco Vossa Caixa é acusada de violar sigilo". Interessado, o cidadão prosseguiu na leitura, o texto era assim: "Etelvina A. Martinete gerente do banco Vossa Caixa, agencia centro, situada à rua Pró-dente dos Morais, em Tupinambicas das Linhas, foi denunciada ontem, pelo Ministério Público do Estado de S. Tupinambos, por violação do sigilo bancário de centenas de clientes da instituição. Segundo a peça processual, a criminosa passava as informações bancárias à pessoas ligadas ao comércio e prestação de serviços da cidade. Dona Mariazinha Regente, em entrevista à reportagem do jornal disse: Agora eu compreendo porque depois que caía um dinheirinho na minha conta, enchia logo de pedintes e vendedores na porta da minha casa. Mas não é mesmo um caso pra fuzilamento?
Algumas crianças passavam, em grupo, defronte ao bar vindas da escola vizinha. O alvoroço provocado pelos jovens chegava a inquietar o parente da tia Cris, alçado ao cargo em decorrência do falecimento dela.
A inquietação do atendente levou-o a ligar o rádio fixado numa prateleira acima da pia. O locutor com sua voz poderosa, anunciava a próxima radionovela das oito: “Você não deve perder! Conheça toda a trama que levou à morte as 59 galinhas do tio João! Em breve, você não pode perder. O espirro, a nova novela de Antonio Carrasqueta, na sua rádio Lobbo.”
O atendente louro pensava nos documentos que precisaria apresentar ao advogado para que fosse feito o inventário da tiazinha falecida. Ele disse: “É tudo tão complicado, tão difícil que tenho vontade de abandonar, largar essa papelada e ir para uma praia, ficar numa boa, bebendo água de coco e laranjada.”
Ao som de trombetas e clarins uma chamada para o jornal das 18 dizia, na super Rádio Lobbo, dizia: "O sindicato dos trabalhadores públicos do município de Tupinambicas das Linhas, que preparava a deflagração de uma greve geral na prefeitura, anunciou, agora as 17 horas, que não haverá mais o movimento paredista".
O moço louro, herdeiro do boteco comentou: "Dizem que surpreenderam o presidente do sindicato, um tal de Valcir Cricrileiro, bolinando a secretária nova na prefeitura. Deu o maior angu".
Edbar B. I. Túrico e seu brother Edgar D. Nal já sob os efeitos da pingaiada resolveram despedir-se; capengando deixaram o famoso bar Eflúvios, que por décadas foi o único ponto de referência e verdadeira área de lazer de Tupinambicas das Linhas, a cidade que, segundo constava, era concentrante da maior quantidade de loucos jamais vista em toda história da humanidade.





Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui