Usina de Letras
Usina de Letras
24 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62286 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10389)

Erótico (13574)

Frases (50677)

Humor (20040)

Infantil (5458)

Infanto Juvenil (4781)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3310)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6210)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Poesias-->De versos, diversos versos -- 19/03/2007 - 16:07 (JOÃO FELINTO NETO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Prefácio



Alongar-me-ia na amplidão de termos para elogiar o trabalho do estranho poeta João Felinto Neto, porém, pela nossa amizade, sou suspeito.

A estranheza está em versos que insinuam situações abrangentes, raramente pensadas e traduzidas à poesia.

De versos, diversos versos é um título expressivo que quantifica a obra em retalhos de poemas.

A poesia engrandece com versos arraigados em estruturas filosóficas, impelidos ao esdrúxulo cotidiano num arrebatamento temático.

O sentido prático e real se desabrocha em uma flor com pétalas de versos coerentes com a situação crítica e imaginativa. Mais que uma flor, esses diversos versos são folhas que se desprendem de uma árvore em um clima outonal.

Eu vejo o poeta traduzir verdades através dos seus diversos versos, consolidando razão em poemas que expõem sentimentos múltiplos e de aspectos tão diversos quanto os mesmos.

Não é possível deixar de perceber nuances de influências diversas no âmbito de leituras poéticas, sem haver necessidade de citá-las.



André Tales











De versos Diversos versos



Um montão de versos soltos,

Quantas letras pra colher

Num trabalho que aos poucos

Diversos poemas vou ter.



De versos, são feitos os meus sonhos,

São diversos, sem limites.

Abro os meus olhos tristonhos

Entre versos infelizes.



Juntei minhas dores, meus risos.

Dispersos ficaram os amores.

Dentre os versos mais felizes,

Abrem-se cores em matizes

Como num jardim, as flores.











CARRO-DE-MÃO



Eu nasci só.

Não tão só.;

Pai, mãe, irmãos.

Minhas mãos

Pedem ajuda

Em duas luvas

Sem dedos.

Sem medo,

Chamo-me João.

Eu posso ser você

Ou não,

Empunhando um carro-de-mão

Numa velha construção

Vazia.











NÓS DOIS



Solidão à tarde,

O sol se foi.

Você também. Quem sabe

Nós dois

Numa lembrança de ontem?

Que ano é hoje?

Hoje é o primeiro de todos.

Todos serão amanhã

Em lembranças de ontem,

De nós dois.











NEÓFITO



Seria a primeira vez

Que meu olhar se fecharia.

Na boca,

Um beijo francês

Que em outra

Não conseguiria.

Por meu remorso,

Talvez,

Repensei no que faria.

Amar a outra não posso.

Continuaria neófito

Pelo que não conhecia.











A NOIVA



Ouço à minha porta,

Um bater de palmas.

Em poucas passadas,

Alcanço as rótulas.

São apenas asas

De uma ave branca

Tal qual uma dama

Em passos de valsa.



Abro a porta a tempo,

O vento aproveita,

Tiro da sarjeta

Aquela que amo.

Eis que seu véu branco,

A pouco enganara.

O vento em pranto,

À porta, escancara.



É a chuva que adentra

Enquanto ela lembra

A quem ama tanto.

E no meu espanto,

Sua voz me acerta

Com a palavra certa.



Espinho no peito.

O buquê desfeito,

Flores perdem pétalas.

Cabelos sem jeito,

Quase que a perco.



Um jantar a velas.;

As chamas e o vinho

Acendem o ninho

De um casal que voa.

Roupas ficam à toa.

Não sou eu, o noivo.

Mas, é minha, a noiva.











OPERAÇÕES



Ainda procuro

Migalhas de pão no caminho.

Não volto sozinho,

Há sempre alguém no escuro.



Na soma de tudo,

Sou múltiplo.

Que subtraído

É resto.

Que se dividido,

Se perde na multidão.



Apertos de mãos,

Estranhos que são vizinhos.

Que andam sozinhos

Seguindo a mesma direção.



Migalhas de pão,

Não há mais no caminho.

Em goles de vinho,

Entre flores e espinhos,

Espeto o meu coração.















A espera de carona



Estavam lá,

Cada um com um filho nos braços,

À espera de um carro

Que os levassem a algum lugar.

Aonde iriam parar

Pelas mãos do acaso?

Nessa hora eu passo

E começo a pensar.

Poderia chorar.

Mas, o mundo é amargo.

Para mim, mais um trago,

Eu consigo aceitar.

Essa é a dor em meu peito,

Concordar: - Não tem jeito.

E simplesmente passar,

Pelo retrovisor olhar

E tentar esquecer.

O que o mundo vai ser,

Se fingirmos não ver

E simplesmente passarmos?













Religião, filosofia e/ou ciência



Teorizo sobre minha existência,

Por não ser plena

Nossa forma de pensar.

Religião, filosofia e/ou ciência,

Razão, demência,

Moral, decência,

Crença e pecar.



Não encontro uma razão

Para ser louco.

Quantificar nossos valores

Sempre é pouco.

Engrenagens e motores,

Eis nossa locomoção.



O que sou além de matéria ambulante,

Um animal em si, pensante,

Dominante

Em um reino de ilusão?



Nosso céu não é eterno.

Nosso inferno

É precisão.



Não importa se meu berço

Foi o barro.

Se eu sou escarro

De um macaco

Ou de Adão.



Em um museu

Sou pré-história.

Não há memória

De que eu

Seja João.

































Apedrejamento



Ouvi um padre

Jogar pedras na ciência.

Quanta inocência

Ou distúrbio de um fraco.

O seu pecado

Não passa de sua crença.

Viraram demência,

Deus e o Diabo.

Sua oração é apenas subserviência

À simples crença

De um fanático.

Correr em círculo

À procura do início

Do que nunca foi criado.

Sua batina

Cobre mais que sua vergonha,

Cobre o instinto mais carnal.;

Não cobre o mal

Que na carne o acompanha,

Cobre apenas o sinal

Da cruz que ama,

Cobre a razão que o faz normal.















Nos braços da ilusão



De que me adianta o céu,

Se eu não posso sentir o vento,

Nem a água me tocar.

Se minhas asas de anjo

Não sentem o vôo.

Não quero esse merecimento,

Quero mais tempo

Aqui.

A emoção ao sorrir

E as lágrimas da comoção.

O que eu posso sentir

Com minha mulher,

Nenhuma fé

Pode entender.

Não quero ter

Uma salvação.

Quero morrer

Nos braços dessa ilusão

Que é viver.











Não creio no amor



O amor talvez não seja

Sincero e verdadeiro.

Talvez não seja ela

Ou eu seja o primeiro.

Acostumados a ver

Com o mesmo olhar,

A vida conjugal,

Assim o amor parece

Ser eterno pro casal.

O amor amadurece

E a paixão esfria

Ou já não é o mesmo

Que sentimos um dia.

Será que a paixão tem fazes como a lua?

Ela é nova e crescente,

Minguante e finalmente,

Cheia como a rua.

O amor não continua,

Não dura para sempre.

Quando o amor acusa,

O beijo fica ausente.

Do amor, é que é a culpa

De estarmos diferentes.

As discussões freqüentes,

Acusações sem fim.

Quem sabe sendo assim,

O amor é uma quimera,

O amor que tenho em mim,

O amor que sente ela?













































Eu creio no amor



O amor é a certeza

Que se quer.;

O abraço comovido.;

As lembranças.;

Eterno quanto às esperanças

De ser eterno.

O amor é certo

Quando ambos estão errados.;

É lado a lado

Numa busca incessante.;

É todo instante

De um casal enamorado.

O amor é palco

De comédia,

De tragédia,

De espanto.

O amor é tanto

Que transborda em amizade.;

É a saudade

Que nos faz saber que enfim,

O amor não é quimera,

O amor que sente ela,

O amor que tenho em mim.

















Quem sou eu?



Sou um jovem ateu

Que entra na igreja

Para tomar cerveja

E beber café.

Desconheço a fé,

Mesmo na ressaca.

Rio quando a graça

É de um milagre

De ser eu um padre

Que toma conhaque

Num cálice de vinho

E vive sozinho

Pensando que sonha

Em ser um demônio

Que se sente Deus,

Ser o próprio Deus

Se sentindo humano,

Ser um santo insano

A brincar de ateu.











O pedido II



Se você não percebeu

Quanto a quero para mim,

Imagine ser a lua

Que ilumina meu jardim.



Não suporto sua ausência,

Um minuto mais sequer.

Não me deixe triste assim,

Seja então minha mulher.



Se você disser que sim,

Nós seremos sol e mar,

Onda e areia a se encontrar

Nesse vai-e-vem sem fim.





















Elas



Estava eu com minha neta,

A passear.

Numa calçada feita em pedra,

Uma jovem nos apressa

A andar,

E quase que nos atropela.

Tiro a criança do lugar

Em que se encontra,

Ponho em meus braços.

Palavra, sem ter embaraço,

Eu falo para ser ouvida:

- Você tem muito tempo pela frente,

Minha querida

E eu já vivi tempo demais.

Deixemos esta jovem na esperança

De que nunca teve infância

Nem envelhecerá jamais.

A jovem olha descontente

E entre dentes recrimina.

Depois sorri para a menina

E tenta então se desculpar.

Assim, eu vejo em seu olhar,

Alguém que da praia saiu

Em busca de um lugar vazio,

Uma ilha em pleno alto-mar.

Que de onde agora ela está,

À praia já não mais avista.

Até aonde alcança a vista,

Só vê a imensidão do mar.

A sua pressa não é para encontrar a ilha,

É o medo de ser iludida

E ali mesmo afundar.

Como resposta, digo: -Vá.

Mantenha a calma, não há pressa.

Na vida, o que interessa

É simplesmente navegar.

Na certa, não fui entendida.

Porém, ela segue mais passiva.

Talvez esteja arrependida

E agora ande devagar.

























Diante do espelho



Através de meus olhos no espelho,

Dentro de mim, eu vejo

Um jovem enfurecido.

Porém, adormecido

No velho que se espelha

Com sua cara feia,

Com o seu peso a mais

E ainda assim em paz

Consigo mesmo.

Guardo em mim, segredos,

Saudade e nostalgia

De um jovem que um dia,

Viu em seus olhos, medo,

Por descobrir-se preso,

Enquanto envelhecia.

Em sua agonia,

Pediu a mim conselhos.

Eu sou seu desespero.

Ele é minha alegria.











O batizado



Que enorme ventania

No dia do batizado.

Alguém havia lembrado,

O que o moleque seria.

Sou poeta hoje em dia.

Sou um louco desvairado.

O mesmo vento apressado,

Agora, traz poesia.

O que ele, então, queria

No dia do batizado?

Somente Deus e o Diabo,

Conhecê-lo poderia.

O que o padre não sabia

É que Deus naquele dia

Fizera as pazes com o Diabo.

Porém, o meu batizado

Fizera-os voltar à briga.















Ato inesperado



O pára-brisa trincado,

Um beija-flor se aproxima

E deixa o local molhado

No toque da sua língua.



A fome focalizou

A forma que a vida ensina.

O que pensou ser uma flor

Era apenas uma trinca.



Eu, sentado no volante,

Pude ver sua vontade.

Mas, durou apenas um instante,

A nossa ansiedade.



O beija-flor bate asas

E voa sem direção.

Eu me despeço de casa

Com pesar no coração.



O que temos em semelhança,

Um objetivo na vida.

Ambos em busca de esperança.

Eu, o amor, ele, a comida.

Lunático



A maior das mentiras,

A que mata

O amor inocente.

A pior das doenças,

A que abala

E nos torna dementes.

Sou inverso

Por ser o contrário.

Eu seria retalho de mim,

Fosse assim,

Em todo, um fanático.

Talvez seja melhor ser lunático,

Jamais crer que no fim

Eu serei condenado

Por um deus venerado

Por mim.

















Internacionais



Seriam elas belas

De olhos puxados.

Olhos azuis e pele branca.

Cabelos ondulados.

Negras sensuais

De lábios carnudos.

Seriam elas, frutos

Tropicais.

Seriam elas, damas

Trabalhadoras braçais.

Seriam brasileiras e internacionais.

Seriam elas tudo:

Mãe, mulher e filha.

O eixo central

Que sustenta a família.

Elas têm muito mais

Que um só dia,

Pois são eternizadas

Como Maria.

Enfrentam a discórdia,

A discriminação.

São elas as mais fortes

Em qualquer nação.

Do pólo sul ao norte,

Elas enfrentam a sorte.

Por decisão e garra,

Sem elas, com certeza,

O nosso mundo acaba.



































A mulher



Fora arrastada na pré-história

Pelo primata que a desejava.

Eis que agora, ela faz história

E pelo homem é cortejada.



Do fogo ardente de um fogão

À superação de tantas marcas,

Ela é símbolo de emoção,

De dedicação e de muita garra.



É genial em qualquer profissão

E está sempre com a razão,

Quando em conselho nos fala.



Ela é soberba quando em ação.

É do poeta, a inspiração.

É do leitor, a eterna amada.

















Desesperança



Quem é essa

Que me tira o sono,

Que arrebata o dono

De uma humilde casa?



Quem é essa

Louca, desvairada,

Que ao seio me prende

Sem saber se sente

A dor que a outro causa?



Lábios que procuram vida

Carne apodrecida

No envelhecimento.



Quem é essa

Que corrói por dentro

Como um veneno

Sem nenhum antídoto?



Eu sou outro,

Sou um homem dito,

Dito morto

Pela agonia.



Quem é essa

Musa e tirania,

Mistura que havia

Desde minha infância?



Quem é essa

Triste companhia?



Talvez seja a morte,

A desesperança.























Cicatrizes



Feri meus lábios

Por morder palavras.

Feri a palma de minha mão

Por aplaudir a violação

De tuas cartas.

Feri com lágrimas

Teus olhos castanhos.

Tornei-me estranho

À comiseração.

Feri teu colo

Ao negar meu filho.

Feri teu riso

Ao não pedir perdão.

Choraste em vão

Ante as cicatrizes.

Fomos infelizes

Em nossa paixão.

















Eunuco



Eu nasci

Para ser promíscuo,

Pra viver de risco

E doenças raras.

Eu nasci

Para ser de todas

E de mais ninguém.

Eu nasci

Para muitas bocas,

Para a sua, também.

Eu nasci

Para morrer de dor.

Se sentiam amor,

Eu só desejava.

Eu nasci

Para ser de tudo,

Até mesmo eunuco

Dentro desta casa.















Caravões



Mesmo que os caravões

Extirpem os meus olhos

Tal qual os personagens de Garcia,

Eu poderei não ver a luz do dia,

Mas jamais deixarei de ver tua silhueta

Como a mais bela estatueta grega

Lapidada à mão pelo escultor

Que fica inebriado pela cor

De tua pele completamente negra.



Mesmo que me arranquem a cabeça,

Eu continuarei sentindo o mesmo amor.

Mesmo depois que a razão se for,

Insistirá meu coração, tenho certeza.



E quando enfim, despedaçado,

Em cada parte minha será lembrado

Esse amor que será preservado

Em cada caravão que me estripou.



E quando cada um, dali, se for,

Ainda restará um velho cabisbaixo

Que acabara de pintar um triste quadro

De um homem condenado

Por amor.

Sem pretensões, nem risos



Eu caminhei

Sem pretensões, nem risos,

Sem motivo, sem palavras.

E ainda pouco, caminhava

Sem dar ouvidos

A quem me falava.



Eu continuei,

E fui surpreendido

Ao dar sentido

A essa caminhada.



Eu descobri

Que havia motivo,

Pretensões e risos,

E também palavras.



Eis que agora,

Eu sofro comigo,

Sem pretensões, nem risos

E sem palavras.









Paradeiro II



Entre os ditames

De uma vida ausente,

O paradeiro

De quem se procura.

Eis a loucura

De um paciente

Que não é inteiro.

Seu arcabouço é de um guerreiro,

Seu coração é feito armadura.

A sua mente

É fina e transparente

Ante a espessa lente de sua loucura.

Não há ternura,

Coração valente.

Não há vivente

Que traga brandura

A essa alma dura,

Inconseqüente,

De um ser diferente

Que não tem mais cura.











Ridículo



Eu sei que estou ficando velho,

Um velho esdrúxulo

Por me achar ainda enxuto

E cortejar à jovens belas

Que procuro conquistar

Em tentativas sem sucesso.

Não despertei, que um regresso

Nunca haverá.

Tento encontrar

O coração de um homem sério

Que escolheu o par eterno

Para amar.

Porém, me perco

Entre atrativos que são belos.

O eu promíscuo

Vence o sério.

O que na vida ainda espero?

Senão, a morte me levar.

À juventude, eu respiro.

Velho ridículo,

Tenta a si mesmo,

Enganar.











Poeira



Talvez assim,

A solidão me queira.

De outra maneira,

Não estaria só.

Apenas pó

Na imensidão, poeira.

A vida inteira,

Sendo laço e nó.



A solidão vem até mim, rasteira.

Nesse deserto,

Só poeira em pó.

Eu ando só

Em dunas de areia.

De companheira,

Eu tenho a pior.



A ventania

Forte e ligeira,

Que é passageira

E me causa dó.

Outra vez só,

Deixado na poeira.

Triste maneira

De voltar ao pó.











Cena real



Derramando lágrimas

Ante a cena,

Ninguém percebe seu choro.

Cadeiras enfileiradas.

O beijo na tela

Comoveu a ela

E também um outro.

As luzes são acesas

E o cinema fica vazio.

Suas almas presas

Por um único fio,

O amor.

Ao fitarem-se,

Percebem o horror

Que haviam cometido.

Um coração partido

Que não perdoou.

Um outro, arrependido

Por haver traído

O seu único amor.









O batizado II



Eis que no meu batizado,

Um vento forte soprava,

No açude ele formava

Pequenas ondas alheias

Ao nome então citado.



Eis que no meu batizado,

O vento então serpenteia

Movimentando a areia,

Quase arranca a igreja

Do cenário.



Por acaso,

Não seria o destino

Cometendo o desatino

De prevê que o menino

Não seguiria a fé

Ou quem sabe

Que um dia, poeta,

Não saberia, na certa,

Nem mesmo

Quem ele é?







Acéfalo



Procuro minha cabeça,

Não a encontro.

Onde estão

Meus olhos em pranto?

Minha boca

Em um sorriso?

Onde andam meus ouvidos?

Já não os escuto.

Meus cabelos,

Passo os dedos,

Não os sinto.

Os meus brincos,

Onde estão presos?

Sinto o peito ofegar,

Mas não posso respirar,

Pois não tenho mais nariz.

Como posso ser feliz

Sem o meu cérebro?

Como poderei pensar?

Entre tantos, um acéfalo.

Como alguém pode amar,

Discernir o que é certo,

Se perdeu sua cabeça

Por deixa-la de usar?













Amor de minha vida



Amor de minha vida!

Talvez eu seja um triste cavaleiro

Que trava uma briga

Consigo mesmo

Num duelo de vida ou morte.



Amor de minha vida!

Se eu fosse o mais forte,

E nesse trágico pesadelo

Encontrasse uma saída,

Eu venceria o meu medo

E mudaria minha sorte.



Amor de minha vida!

Se eu transforma-se o pesadelo,

Não perderia o sonho

E nem a chance de vivê-lo.

Na realidade, eu me disporia

Aos momentos de alegria

Nos braços que me dão guarida.



Amor de minha vida!

Em cartas que jamais foram escritas,

Eu poria flores.

Sobre a cama fria,

Eu a veria

Em um dos travesseiros.



Amor de minha vida!

Fui o primeiro

Numa competição que nunca venceria.

Estou em solidão,

Ainda que em sua companhia.



Amor de minha vida!

Procuro achar-me sob seus lençóis,

Aonde apenas um de nós

Conserva a dor da ida.

Meus beijos

Não a deixam arrependida.

Meus erros

Não sufocam sua voz.



Amor de minha vida!

Eu beijo outras bocas que desejo.

Eu fujo do meu próprio erro.

Eu choro

Por vê-la então traída.



Amor de minha vida!

Eu sofro no meu âmago,

Os horrores

De uma essência aflita.

E em meus temores,

Eu peço que haja um anjo ou demônio

Que cuide do amor de minha vida.



Amor de minha vida!

Talvez, eu seja uma boca que grita

Seu nome, apenas numa sílaba

Que antes de pronunciada,

Some.



























Pequeno mundo



Eu quero convalescer em dor,

Sentindo você, amor,

Ofegante, nos meus braços.



Tento,

Apesar de meu cansaço,

Repetir os mesmos passos

Demarcados nos lençóis.



Sinto entre nós,

Comprimir-se em silêncio,

Nosso peso.



E entre meus dedos,

Seus cabelos no escuro.

E num sussurro,

Sua voz.



Estamos sós,

Dentro de um pequeno mundo.

Soma e resumo,

Vitima e algoz.







Sou porta-voz

Do momento que vivemos.

Mal percebemos

A neblina e os faróis

Pela janela,

Tal a chama de uma vela,

Apagar-se

Sobre nós.

































Alianças



Talvez as mãos,

Através de suas linhas,

Levem às finas

Emoções do coração.



As alianças

Que os prendem pelos dedos,

Pedem respeito.



Que seja mútuo como o amor

Em cada peito.

Único jeito

De eternizar a paixão.



Desabrochada

Entre mãos que são tocadas

Com carinho e com pudor.



Para manter-se o calor,

A chama acesa,

Exige-se uma proeza,

O imprescindível diálogo.



A conversa

É o impulso, a correnteza

Que mantém as mãos coesas

Na impetuosa cachoeira

E no ameno riacho.



Para jamais sucumbir ao fracasso,

O casal guie seus passos

Pela mãe sabedoria.

Única guia

Que supera os percalços

Dessa imprevisível vida.































Anéis dourados



Nosso amor foi retratado

Pelos dois anéis dourados

Flagrados em nossas mãos.



Eu pus no teu, o noivado.

Você, no meu, a paixão.



Nosso amor foi reforçado

Quando os dois anéis dourados

Foram trocados de mão.



Somos agora, casados.

E os dois anéis dourados

Simbolizam a união.























Alianças II





Está em nossas mãos,

Eternizado,

O nosso amor selado

Em alianças.

Serão nossas lembranças

Do passado.

Serão nosso legado

Às crianças.

































Noivado



O amor segue seu rumo

E nos torna namorados.

Enquanto gira, o mundo,

Ele nos leva ao noivado.

Agora, requer cuidado,

Pode ser uma paixão.

Porém, pra ser censurado,

É preciso ter provado

Da mais dúbia emoção.

































Ao redor do dedo



O amor desperta

No cheiro, no beijo,

E mantém aceso

Cada coração.



Posto em duas mãos

Ao redor do dedo,

Eterno desejo

De uma união.



Pra não ser em vão,

Ame do seu jeito.;

Reacenda o peito

Com toda a paixão.























Em nome do coração



O amor talvez precipite

A decisão da razão.

Mas é o amor quem decide

Em nome do coração.

Há entre o sim e o não,

A indecisão do talvez.

E está em suas mãos,

Esse amor que a vida fez.



































Quinta geração



Quem é o pai de João Vítor?

O pai de João Vítor é João.

O pai de João é Francisco.

O de Francisco é João.

O de João é Francisco.

O de Francisco quem é?

Talvez, seja também João

Ou seja talvez, José.

É melhor parar com isso,

Já é a quinta geração.

Onde acaba a maldição

De um tetravô de João Vítor.



























O manto



Tenho minha visão

Repleta de enganos.

Os meus desenganos

São apenas aleivosia.

Em minha agonia,

Vem o pranto.

Sobre meus ombros,

O manto

Que a tempos me cobria.



Na frieza sombria,

Mantém-me o manto.

Nas dobras, meus tecidos

A si, cerzia.

Minha visão se abria

Em espanto.

Ao me despir do manto,

Descubro que existia.















A resposta



Caminhei em desalinho

Com minha roupa engomada.

Se caminhava sozinho,

Mais gente me acompanhava.

Fiquei à margem da estrada

Numa espera sem fim,

Enquanto alguém vem a mim

Com uma postura educada.

- Moço, por que a parada?

A resposta que eu dei

Foi um tanto enigmática:

- Paro para ver o que andei.;

Não pelo tanto que falta.

























Constrangimento



O meu descontentamento,

Apesar da posição

Que ocupo no momento,

O topo da evolução,

É com esse fingimento

De não ver com a razão.

Acreditar no pretenso

Mito de uma criação

Que põe um mundo imenso

Na palma de uma mão.



E o meu constrangimento,

Justo pela posição

Que ocupo no momento,

O topo da evolução,

É por tamanha invenção,

Aquilo que mais lamento,

Usar a imaginação



Para ocultar julgamento

Em cima dessa versão

Que abusa do bom senso.

Uma salvação como prêmio.

Por castigo, expiação.



Pergunta indevida



No meu intento

De descobrir-me quem sou,

Eu quis supor

Que era quem conhecia.

Triste euforia,

Que lamentável clamor.

Não sou quem sou,

Sou uma pergunta indevida.

Sei que sou vida,

Por respirar, ter calor.

Mas quem eu sou?

Não há resposta precisa.



























A tarde fala



A tarde versa

Sobre o sol fugidio.

Meu desafio

É tentar escuta-la.

A tarde fala,

Eu observo em silêncio.

Ela diz: - Tempo,

Levaste o sol, estrela cara.

O vento quente me deixa.

O vento frio me apaga.

Diante de minha queixa,

A noite ingrata me cala.



























Lógica II



Seria impossível, sem a lógica,

A cética proposta

Da razão.

Seria impossível ao coração

Seguir a lógica.

Contudo, o sentimento nos sufoca,

Enquanto a lógica

Nos liberta da prisão.

Seria em vão,

Buscarmos prova

Pra essa forma estóica

De visão.



























Teologia



No catre,

Com o livro escancarado,

Examino o meu pecado

Sob a ótica do céu.

Qual meu papel

No destino reservado,

Um silêncio recatado,

Um agitado escarcéu?



Na sela fria,

Em minha ortodoxia,

Não encontro compaixão.

Falta razão

Nesse livro que me guia.

A teologia

Só me leva à depressão.



Entre Deus e o Diabo,

Eu me sinto oprimido.

E sobre o livro sagrado,

O meu corpo é encontrado,

Estendido.













Palavra de honra



Perdeu-se como peça do passado.

Não há homem honrado

Sem palavra.

Agora é registrada e carimbada,

Pela lei é tarifada,

Pois tem preço no mercado.

É aceita num recibo assinado,

Quase sempre violado,

Embargada.

A essa caminhada,

O jovem acompanha,

Sem entender

O que é palavra de honra.

























Carta de alforria



Ser livre

Não é libertar-se, escrava,

É abolir a escravidão.

A sua carta de alforria

É a consciência que lhe guia,

Que a leva, à melhor direção.



Ser livre

Não é um passe de mágica,

É uma luta desarmada

Contra a própria condição.;

A de ser uma escrava

De uma crença,

De uma farda

Ou de uma opinião.



Ser livre

É ver com a luz da razão,

Que na verdade,

Ser escrava,

Não passa de ilusão.

















A lenda



O nascimento, numa noite de estrelas.

Uma centelha

Que da fogueira se esgueira

Em direção ao céu.



Um carrossel no infinito.

Dois lindos lírios,

Favos de mel.



Éramos meninos.

Gêmeos univitelinos.

E brincamos, muitas vezes, na areia.

Onde eu era o escravo soterrado

E o meu irmão o carrasco

Que soprava a tempestade em lua cheia.



Nossos pais eram membros de uma seita

E doavam a colheita

À adorada divindade.

Todavia, um dia,

Foram vítimas da idade

E partiram para outra feita.



Eis que éramos dois jovens destemidos

E seguíamos a mesma divindade.

Ao pecado nós temíamos

Mais que a morte.

Porém, chega nossa sorte.

Sopra um vento frio e forte

Que nos mantêm separados.



E cada um de nós

Atravessou a senda

Em corcovas de camelos

Esgotados.;

Por esse imenso deserto

Que sustenta

Dois beduínos

Que um dia terão venda

Nas areias que falaram, no passado.



Eis que então fui comprado

Por um velho haríolo do deserto.

Meu irmão, para longe foi levado

Por um homem muito perverso.



Deixei-me, assim, guiar pelo cajado.

Enquanto o profeta me previa

De uma tempestade de areia

Que viria

E me traria o irmão que foi levado.



Onde estão sepultados nossos pais,

Algumas noites atrás,

Armei minha tenda.

Que o profeta não se ofenda,

Já não espero mais,

Essa tempestade é lenda.



Eu não acreditei no velho fraco.

No entanto, um dia uma caravana corta

O deserto desolado

Na região montanhosa.

Uma tempestade tenebrosa

Assola homens e cavalos.



Vem em minha direção

Como em passos demarcados,

Um sobrevivente são,

Apenas muito cansado.

Eis minha cópia, meu irmão.

Num abraço nosso vínculo foi selado.



O profeta, num sorriso desbotado,

Iludia-se com a sua tola fé.

O lugar, um oásis avistado.

Meu irmão fora avisado

Pelo velho de cajado

Que estava ali de pé.

Felizes para sempre



Não se zangue, cavalheiro.

Se queria ser o primeiro

A chegar em minha vida,

Tivesse pedido guarida

Há alguns anos atrás.



Não acha que é demais

Guardar-me por tantos anos.

Chorei rios de desenganos,

Quase que não tive paz.



Um dia, veio um rapaz

De muito longe daqui

E com ele fui dormir,

Acreditando, talvez,

Que a frase: Era uma vez,

Fora escrita para mim.



A história chega ao fim,

E o felizes para sempre

Se desfez.



















Entre poeta e leitor



Eu não estou lhe vendo.;

Tentar seria em vão.

Assim, vou escrevendo,

Pensando em sua ação.



Não sei sua emoção

E não o compreendo.

Os meus versos vão sendo

A nossa ligação.



Quando eu me perguntar,

Responda a você.

Ninguém vai escutar

E nem jamais saber.



Quem sou de fato eu

Além de um nome definido?

Qual será o motivo

Que me leva a pensar?



Será que há lugar

Em que exista morto-vivo?

Por que tenho que ter

Consciência de que existo?



Alguém pode escolher

Para eu mesmo ter nascido?

Por que nasci marcado pra morrer?

Por que tenho que ver

Meu corpo envelhecido?



Se não tenho respostas

Para tanto indagar,

Por que tenho o poder de questionar?





























O enterro



Um dia, eu acordei

Em uma casa estranha,

Na qual era visita e anfitrião.



Queimava tênue chama

Na mão, em uma vela.

Em tinta amarela,

Lia-se o nome João.



Alguém fechou a porta

Que era uma tampa aberta.

Senti-me um prisioneiro

Dentro de uma cela,

Em eterna solidão.



Percebo o movimento

Qual uma caravela.

Depois de algum tempo

É posta, enfim, no chão.



Uma descida estreita,

Enorme escuridão.

Alguém jogava areia

Na telha de madeira.



No absoluto silêncio,

À luz da razão,

Minha alma, enfim, clareia.

A casa estranha e estreita,

Não passava de um caixão.



























Mão e caneta



São os meus versos,

Toscos, reprimidos.

Versos não lidos,

Sem compreensão.



Em minha mão,

Pulsam os versos tidos

Como descritos

Por um homem são.



Assim, desliza uma caneta

Em tinta acesa,

Na escuridão.



Pintam meus versos

Em tinta preta,

Mão e caneta,

Que à luz acesa,

Desenham em sombra,

Minha razão.





















Caricatura



Talvez, eu seja

Esse desenho mal traçado,

Esse rosto contornado,

Esse esboço de figura.



Caricatura

Que acentua meus defeitos,

Que não mostra o meu peito

Sobre a linha da cintura.;



Só o meu rosto

Em contorno de grafite,

Onde o cômico decide

Revelar o meu caráter.



Caricatura

Que me deixa ver em parte.

De um ângulo, um detalhe,

Minha feiúra.





















Agouro



Selem meus excessos

Dentre bocas virtuosas.;

Ouçam meus apelos

Entre lápides e covas.;



Enquanto os meus versos

Declamados pelo agouro

De um louco,

Se desdobram

No soluço dos que choram

Em silêncio.



Sintam o vento

Que à árvore desfolha,

Cobrindo a cova

Onde jaz o pensamento,

Com flores mortas.



Uma mente torta

Que outrora,

Entre paz e fingimento,

Tornou-se estóica.

















Maria Rosa



Ela é fútil e inútil.

Só fala em gritos.

Alheia aos filhos.

É indecente em sua risada.

Com seus vestidos

É escandalosa,

É depravada.

Gosta de prosa,

De ser cantada.

Adora uma boca embriagada,

Gritar: - Gostosa!

Seu nome é Rosa,

Maria Rosa,

Sempre ao dispor.

É invejosa.

Odeia flor.



Negra de ancas largas,

É detestada pela família.

Gosta mesmo, de uma cachaça

E uma boa briga.



Seu cabelo é grosso,

E despenteada

Não fica aflita.

É insensível à dor alheia.

Tira a noite inteira

Num sono passivo.



Põe o seu branquelo

Para fora de casa,

Quando este está de folga.

O que a incomoda

É a sua cara

De bunda, amarelo.



Já provou os lábios de sua vizinha

Que estava sozinha,

Trocaram carícias.

E nessas delícias,

Consumiram droga.



É a Maria Rosa,

Ridícula e rancorosa.

Carrega a sua cruz

Que não é milagrosa,

O bêbado Jesus,

O negro que ela gosta.



















Silêncio e morte



O meu choro abafado no silêncio,

Um sofrimento

Qual o mais profundo corte.

Talvez, a morte

Não resuma nosso tempo.

Assim, lamento

Em silêncio,

Sua morte.

Não sou tão forte,

Minha dor grita por dentro.

Seria apenas fingimento,

Expor meu corte.

Tento fugir, todo momento.

Não sei o tanto que agüento.;

Nem se a mim, darão suporte,

Esse dueto que ostento,

Silêncio e morte.

















Conselho II



Olhe à sua volta,

O que você vê?

Lacuna exposta?

Tente preencher.



Navalha ou corda

Não é solução

E nem overdose

De medicação.



Não importa, agora,

Qual o seu problema.

Amanhã, o agora,

Valerá a pena.



Entre Deus e o Diabo,

Não tente escolher.

Viva a sua vida,

Procure prazer



Na brisa, à tardinha.;

No amanhecer.;

Na lua, sozinha,

Ao escurecer.;

No verde das plantas

E em outras tantas

Maneiras de ver

Esse nosso mundo,

Mágico e profundo,

Que precisa muito

Que exista você.

























Dentre as páginas de um livro



Na verdade,

Eu sou a única bandeira

Que provém de um lugar desconhecido.

Sou o exército

Que jamais foi envolvido

Numa guerra.



Sou a terra

Na qual fora erigido,

Um castelo de madeira.

A princesa

Que era escrava de um mendigo.



Sou o mito

De uma assombrosa fera

Que espanta com seu grito.

Dentre as páginas amarelas de um livro

Que eu li na primavera,

Estou perdido.













Meu erro



Quero fugir de meu erro,

Que ironia,

Quero fugir de mim mesmo

Enquanto é dia.

Entre tantos que conheço,

Quem eu seria?

Seria o que não tem zelo

Com aquilo que queria

Ou o que tem tanto apreço

Que nem mesmo percebia

Que cometia um erro,

O mesmo que eu cometia?

Chega enfim, a noite fria.

Então, vem o meu desejo

De repetir o meu erro,

O erro do qual fugia.



















Transmutação



Eu gostaria de ser você,

Mulher.;

Enquanto você seria o meu homem.

Carregaria para sempre o sobrenome

Daquele que pouco dar

E muito quer.



Assim, teria sua força de vontade,

Sua coragem

E também sua ilusão

De acreditar num tolo e fraco

Que já não sabe de que lado

Fica o seu próprio coração.



Eu sentiria no meu rosto,

A emoção de quem se cala.;

Enquanto escorre uma lágrima

Em busca de seu coração,

Por entregar-se corpo e alma

A esse louco que lhe fala,

Pedindo calma

E perdão.

















Filosofia poética



Entre hábitos,

A vida nos carrega.

Na estética,

As formas ideais.

Os normais,

Entre a moral e a ética.

E dentre essa página aberta,

Filosofia poética

Que nos transcende ao real.;

Uma lâmina fatal

Que perfura nosso cérebro

Através de toscos versos,

Que devassa o universo

A procura de um sinal

Da verdade absoluta,

Uma incógnita que reluta

A uma explicação cabal.

















Postal



O que é real

Perante os olhos intuídos.;

A flor, o riso,

Uma forma casual?

Sou imortal

Perante os olhos redimidos,

Ou sou motivo

De um fenômeno temporal?

A pedra, o sal

Seriam sólidos diluídos?

Os meus sentidos,

Divisão de bem e mal?

Talvez, normal

Seja estereótipo fictício.

Feio e bonito,

Os dois lados de um postal.



















Um singular presente



As formas

São definições do que se vê.

O que se vê

Não é essência do que existe.

Quem sabe,

Não esteja em seu poder,

Reconhecer

A realidade que persiste?

As horas

São reprises permanentes.

Enquanto o sempre

É o espaço sem o tempo.

Assim, seria o nosso pensamento

Um singular presente.























Sombra perfilada



Existo

Pela extensão de uma idéia.

Numa caverna,

Sou a sombra perfilada.

Minha mente,

Uma chama que se apaga.

No silêncio,

Em meu pensamento

Crio o mundo à minha volta.

Minha história,

Um engano da ciência.

Minha crença,

Uma ilusão de ótica.

























Mundo imaginado



Sou condenado

Por viver na inocência.

Peço clemência

A um deus fantasiado.

O meu pecado,

O peso da consciência.

Minha inocência,

A de um mundo imaginado.



































Percepção II



Percebo a vida

Através de meus sentidos

E acredito

Na realidade percebida.

Então, imagino

Que é real o meu caminho

E sigo uma idéia

Que me guia.

O pensamento

Que é reflexão no tempo,

É minha única companhia.





























Realidade oculta



Sou eu, enfim,

Uma matéria resoluta

Que vive em luta

Com a essência que há em mim.

Talvez, no fim,

Seja realidade oculta,

Sendo matéria que se ajusta

Para esse fim.



































Uma idéia solta



Eu era um homem

Que me achava certo.

Com um livro aberto

Falava do fim,

Onde o mundo

Se acabaria.

Porém, não sabia

Que o mundo que havia

Já chegara ao fim.

O mundo era uma idéia solta

De uma mente louca

Que havia em mim.



























Pela segunda vez



O meu espírito

É volátil como a vida.

Meu corpo físico

É matéria expressiva,

Decomposta pela terra.;

Sendo eterna

Em constante transformação.

Minha emoção,

Meu confuso pensamento

Esvaindo-se no tempo

Qual minha imaginação.

Os meus sentidos,

De minha boca,

Dos ouvidos,

Dos meus olhos redimidos,

Pelo cheiro,

Pelas mãos,

São passageiros

Como serão os meus versos

Quando houver no universo

Uma nova explosão.













Outrora



Pela janela,

O céu azul em nuvens brancas.

Em minha rede,

Balanço as lembranças

Do passado.

Entre as paredes do meu quarto,

Assim, descanso.

Entre cochilos

Não percebo o avanço

Da escuridão lá fora.

Da mesma forma,

Não percebi a magia

Quando a noite virou dia

E eu me tornei outrora.























Socorro!



Não peço nada mais

Que ajuda

Ante os momentos

Que a fraqueza me condena.

Diante do problema,

De mim, cuide.

Essa atitude

Alivia minha doença.

Não peço que me cure,

Não está em suas mãos.

Só peço que me ajude

Enfrentar um mal que fere o coração.



























Comungar



Degusto teu corpo

Em minha boca.

Teu sangue,

Num cálice, eu bebo

E lentamente, tu desces

Às minhas entranhas.

São coisas estranhas,

Que tuas preces

Só me fortalecem.

Sou eu, quem te engana.































Fingimento



Não sou subterfúgio,

Nem glória.;

Minha história

Permanece em silêncio.



Venda que sufoca

Meus olhos

Que ainda choram

Sob o peso de um lenço.



Enquanto penso,

Um sorriso esboço.

Faço o que posso

Pra não ser fingimento.























Somos diversos



Somos esdrúxulos,

Velhos banguelas

Que esqueléticos

Sopramos fétidos

Hálitos de ervas.



Somos favelas,

Bolsões de lixo.

Somos prolixos

De roupas velhas.



Somos bacanas,

Jovens sacanas,

Somos patéticos.



Somos diversos,

Membros carnais.

Jamais eternos,

Somos mortais.













Apenas um sonho



Todas as vezes que sonhamos,

Contornamos a realidade.;

Tornando verdade,

Aquilo que acreditamos.



Somos humanos

Cheios de fatuidade.

Já é um sonho,

Sermos realidade.



Todas as fatalidades,

Como nossos desenganos,

São pesadelos que encontramos

Na realidade

Que talvez seja, apenas um sonho.





















Candelabro



Hei de acreditar que não sou louco

Na sobriedade de meus atos.

Porém, sou outro

Na intimidade do que faço.



Hei de superar o meu desgosto

Na felicidade de meus dias.

Serei um outro,

Livre de tristeza e agonia.



Hei de vencer um dia,

Na superação de um insensato.

Serei tão claro

Quanto à luz do candelabro

Que me alumia.





















Feição expressiva



Quero notar uma feição expressiva

No teu olha,r

No dia em que te encontrar,

Quando assim, eu gritar

Te amo, te amo, te amo.



Quero te ver adormecer

Com a cabeça em meu ombro,

Enquanto eu for falando

Te amo, te amo, te amo.



Quero entender

Por que jamais consegui te esquecer

E andei ti procurando,

E repeti a mim mesmo, em segredo,

Te amo, te amo, te amo.



Não me importa

Em que lugar eu me encontro,

Infinitas vezes, vou falar:

Te amo, te amo, te amo



Quero te ver acordar,

No teu ouvido irei sussurrar

O quanto ainda te amo.

O outro



Tenho medo de encontrar o outro eu

Que se esconde

Nesse cérebro que é meu.

Sei que ele virá à tona

Ante a fome, ante a sede e a desonra.

Por minha sobrevivência,

O eu de fúria

Desconhece a inocência,

Sua frieza, sua loucura

E sua própria natureza.

Uma besta

Que não espera

Para matar.

Uma fera

Que não sabe

Esperar.



















Quem é? Será?



Quem é essa santa

Que como tantas

Não me agüenta

A falta de crença?

Será essa outra

Que nunca consegue

Levar-me à novena?



Quem é essa louca

Que na sua reza

Sempre me condena?

Será uma madrasta,

Um anjo de saia

Com voz feminina?



Talvez, minha sina

Seja o inferno,

Por ódio eterno

Da luz que ilumina.













A sombra II



Sombra que corre

Alarmada,

Sob a casa

Que assombra,

Enquanto a luz a mantinha.



Sombra apagada

E sozinha,

Dentre a escuridão

Se acaba,

Sombra minha.





























O relógio à corda



- Que horas?

Eu pergunto com muita insistência.

- Agora,

Minha hora não importa,

Pois já não faz diferença.

O relógio me responde com ofensa.

- Eu prometo dar-lhe corda.

- Passa das três e quarenta.

O relógio não se agüenta

E diz a hora.































Castos



Pela janela um vulto

Demarcado pela lua.;

Em um leito impoluto

Sua forma se insinua.



Ele viera da rua,

Se achegara sorrateiro,

Enfrentara a noite crua

Pelo seu amor primeiro.



Dama casta

Que se ardia em desejo.;

Nua,

Sentia na pele sua,

Um frio que metia medo.





















Translato



Quem me dera

Eu pudesse iluminar

Seu caminho para o mar,

Tal qual a lua.



Vê-la nua,

A banhar-se devagar,

Me faria desejar

A pele sua.



Eu seria esse vento

Que tua pele, acaricia.

Mesmo num breve momento,

Lentamente, eu morreria.



Se eu pudesse renascer,

Eu voltaria.

Qual o sol no dia-a-dia,

A cada amanhecer.



Quando viesse anoitecer,

Novamente eu vê-la-ia.

Desta vez, eu choraria

Numa chuva fria

Que caía em você.

Pêndulo



Meu rosto pálido,

Mergulhado em pensamentos,

Enquanto o pêndulo

No silêncio, oscilava.

Seu próprio peso

Demarcava o movimento.;

Assim, lamento,

O meu peso me parava.

Em meio à sala,

Olho em direção ao pêndulo.

Na mão, ostento,

A caneta que grafava.

Meu pensamento,

Tal qual o pêndulo,

Balançava.





















Ativismo



Talvez, em tempo ainda hábil,

Eu possa modelar o mundo.

Sei que no fundo,

Todo ativista é volátil.



Talvez, o meu perfil,

Seja aceitável.

Mesmo sendo indomável,

Meu caráter.



Talvez, a minha mão

Entre em ação

E à razão,

Não seja tarde.



Talvez, oposição seja ilusão,

E ilusão seja coragem.



Quem sabe?













Narrador demente



Nos delírios

De um narrador demente

Que ainda sente

O calor de sua história,

Eu repito que sou sobrevivente

De um trágico acidente

Que à minh’alma devora.

Entre cordas

E um esforço permanente.

De um navio

Que afundara sem ter glória.

Dos destroços,

Um barril desponta à frente.

Sua carga,

Um menino que ainda chora.

Foram dias e noites,

Mar afora.

Uma ilha desponta, de repente.

O resgate de um sobrevivente

Que um dia recorda,

Que não passa de um narrador demente

Que imagina da história,

Ser o personagem outrora,

Existente.





















Que mundo é esse?



Que mundo é esse

Que se espalha

Entre becos sem saída,

Entre ruas vazias,

Umas vezes, em tumulto,

Outras, em silêncio?



Que mundo é esse

Que tremula em bandeirolas

Esquecidas desde o último

Movimento,

Que pediam mais empenho

Da nação?



Que mundo é esse

Onde as dores são em vão

E o sofrimento

É esquecido pelo tempo,

Como também, a lição?



Que mundo é esse

Onde a fome anda ao redor da abundância

E a esperança

Já não passa de um sorriso

De seu filho,

Uma inocente criança

Que olha ao redor, indeciso,

Sem saber

Que mundo é esse?















































Cerco



Se o cerco está fechado,

Busque uma saída

E não me diga

Que tem medo de errar.



Errar é apenas tentativa

De acertar.

A ocasião só está perdida

Se não tentar.



E mesmo se errar,

Tente em seguida.

Sendo pra salvar a vida,

Dê quantas investidas

Precisar.



Morrer tentando escapar,

Não é suicida,

É gritar para si mesmo:

- Nunca desista!

E lutar.











Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui