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Poesias-->Sombras & espelhos -- 19/03/2007 - 16:44 (JOÃO FELINTO NETO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Prefácio



O que é nossa imagem no espelho

Se não sombra.

Essa realidade nunca nos assombra

Por sermos nós mesmos.



Leio meu reflexo nesses versos

E acompanham meus olhos,

Minha sombra.



Veja leitor, sua chama

Interpretada primeiro,

O seu vazio derradeiro,

A sua alma que clama.



Versos

Que se não nos tornam inteiros,

Nos fazem quase perfeitos,

Moldes de lama.



Leia

Cada poema, sem medo

De descobrir-se uma dama.;

Se dama,

Um cavalheiro.

Leia primeiro.

Depois me chama.



Resolvi eu mesmo escrever este prefácio. Por ser de minha preferência, o fiz em verso.

Espero que os poemas reunidos em sombras e espelhos possam tornar você, uma pessoa reconhecida por si mesma, através de seu reflexo que não passa de uma sombra dentro do espelho.

Se acaso não enxergar nada, feche os olhos e imagine.



O autor.

























Sombras & Espelhos



Estas páginas,

Tal espelhos,

Dão imagem a meus versos.

Um estranho universo

De fantasmas

Que alcançam a dor física,

E em silêncio

Rompem o tempo

Num escorço de palavras.

Nos espelhos,

Estes versos viram sombras,

Transparentes, desumanas,

Assoalhadas.

Fecho a mão,

Empunho a lança,

Uma moderna esferográfica.

















O mendigo



Porta um veloz corcel,

O esnobe que se acha

Maior do que o céu

E as nuvens de fumaça.

Agride a natureza

Com seu arco e flecha.

Arrota sua destreza

Sob castiçais nas festas.



Um dia o inaudito,

Na trilha que envereda,

Descobre um esquilo

Que insulta sua nobreza.

Como da boca, o bicho

Falava com esperteza.

Num bosque assombrado,

Regado de tristeza.



És mago, feiticeiro

Ou és um estrangeiro

Em terras que são minhas.

O nobre alisa as crinas

De seu corcel talhado.;

Espreita com cuidado,

O bicho que caminha

De um a outro lado.



Sou um esquilo nato,

Que tem essa proeza.;

Um dom da natureza,

O bosque encantado.

Pertence ao teu reinado.

Mas, podes ter certeza

Que só com a pureza

Terás bom resultado.



Sou nobre, sou louvado.

Eu piso em quem me espelha.

E em minha grandeza,

Jamais fui insultado.

Repito obstinado

Que em minha fortaleza

Há cabeças de presas

E corpos pendurados.



Conversa de pedante.;

Não passas de uma lesma.

Grandeza há num gigante.

Tua pequenez, soberba.

Se nesse mesmo instante,

De um inseto, fosses presa,

Em febres e delírios

Perdias tua nobreza.



Maldito esquilo ofende-me.;

Atiro-te uma flecha

Que tua testa fende

Como o vulcão, a terra.

Ou ponho armadilhas

E atrás de ti, matilhas

Que o seguirão por milhas

Até a vida eterna.



Tua pequenez, violência.

Instinto pra ciência.

Para a crença, o diabo.

Olhando-te deste galho

Eu imagino um raio

Partindo tua cabeça.

Iníquo, não esqueças,

Pra natureza eu valho.



Não serves nem pra caça.;

Ririam pela graça

De tão pequena presa.

Não valeria empreita

Pra ínfimo resultado.

Um esquilo danado

Que quer me ver queimado

Como acha em fogueira.



Tua pequenez, insulto.

Um homem tão astuto

Que perde a cabeça

Diante de um bicho.;

Dirá de um inimigo

Com lança de madeira

E de ferro fundido.;

Serias então vencido.



Não há no céu, na terra,

Sob água, sobre serra,

Varão me ver vencido.

Não serei esquecido

Por milhares de eras.

Sou nobre, sou galhardo.

A um esquilo safado,

Não mais darei ouvido.



A isso, não duvido.

Jamais é esquecido

Um flagelo severo

Que fere a natureza.

Tu és com certeza,

O exemplo mais louvado

Para mostrar o errado,

O antônimo da beleza.



Devastarei o bosque

Que pertence ao meu reino

E para o meu herdeiro,

A ordem que o sufoque,

A cada vez que brote

Que volte a queimar.

E que qualquer um pode,

Um esquilo matar.



Quão dói o que é verdade.

Na infância ou mocidade,

Na avançada idade,

Ninguém a quer ouvir.

Preferes então mentir.

A terra há de se abrir

E numa enorme fenda,

Sei que irás sumir.



Tu não me ofendas,

Oh, esquilo danoso.

Eu quebro o teu pescoço

Como se racham lenhas.

Sou a ti superior

Por ser um ser pensante.

Cala-te nesse instante

Ou mostro o meu furor.



Em que és superior?

Diga-me nobre.

No arco, no alforje,

No senso ou no humor?

Aguarias a flor

Que ao campo, morre?

O que nos torna forte,

É a espada e o amor.



Sou forte pela minha ousadia,

Nobreza e galhardia.

Dos meus sou defensor.

Não me importa a flor.

Na certa, a pisaria.

A espada é meu guia.;

Meu arco, meu mentor.

Assim, eu sou superior.



Ser nobre é dá valor

A tudo que nos cerca.

Tu não és, na certa,

O melhor condutor.

Na minha ironia,

Jamais tu, passarias

De um rude sem pudor

Que adota a tirania.



Sou nobre de família.

Herança tem meu garbo.

Sou um caçador nato,

Assim meu pai dizia.

Sou o senhor da vila.;

Por todos, aclamado.

O teu maior pecado

Foi incitar-me à briga.



Ninguém aqui duvida

Que és senhor da vila,

Do reino e do que for.

Mas, que mente vazia.

Eu mesmo mostraria

Que à natureza habita,

Teu reino, tua vida,

Teu cargo de senhor.



As árvores nascem outras.

A caça é abundante.

Enxergo tão distante

Que vejo além das coisas

Que queres me mostrar.

Jamais se acaba, o ar.

As águas vão durar

A minha vida toda.



Há! Que cabeça oca.

Além de tu, há outros.

Fecha essa tua boca,

Estás ficando louco.

Tudo o que tens é troco,

Diante do planeta.

Os bens da natureza,

Um dia, serão pouco.



Estou desconfiado.

És um servo escondido

Que usa do artifício

De ser um bom ventríloquo

E de algo ver vingado?

Não nota que o danado

Do bicho enfurecido

Assusta o seu cavalo.



Dos arreios, desvencilhado,

Põe-se de pé, o nobre.

Desfere então um golpe

Que não é acertado.

O esquilo dele foge

Tal qual no céu, um raio.

Insiste por ser forte

Mas cai no chão, cansado.



Que bicho dos diabos.

Resmunga então o nobre.

Sem seu garboso porte,

Ficou desfigurado.

Por achá-lo uma farsa,

Deixou-me a pé na mata.

Que bicho atinado,

Não acertei-lhe a espada.



Do outro lado, o esquilo

Num galho acha graça.

Pareces intranqüilo.;

Onde aprendeste a usá-la.

Acostumado ao longe

Com a flecha atirada.

Jamais é cara-a-cara.;

O caçador se esconde.



Cuidado esquilo covarde,

Exageras na troça.

Talvez armar eu possa,

Um bote, então pegar-te.;

Prender-te numa jaula,

Sem água e sem comida

Até que enfim, me diga

De onde vem tua fala.



Teu ceticismo me cala.

É algo que admiro.

Deves está doido, eu digo.

Pois esquilo nenhum fala.

Se prestares atenção,

O que tem em tuas mãos

Não é nenhuma espada.

É uma faca enferrujada.



Que magia desgraçada.

Minha espada virou faca.

Dessa forma estou perdido.

O danado do esquilo

É uma bruxa disfarçada.

Essa mata é encantada.

O que irás fazer comigo,

Diz o nobre em voz alta.



Eu não te faria nada

Posto que nem mesmo existo.

Olhe bem, que eu, o esquilo,

Sou um pedaço de tecido

De uma manta esfarrapada.

Meus movimentos, o vento.

O teu louco pensamento,

Minha imagem, minha fala.



Bruxaria! Não duvido.

Transformado em pano, o esquilo

E a minha espada em faca.;

A densa mata em beco.

A realidade eu vejo.

Sou apenas um mendigo,

Sou um personagem vivo

De uma história sem fada.

































Quadro borrado



O que procuro

Neste imenso escuro,

Num pequeno barco

Onde balança o fardo

De minha existência?

Uma luz, ciência.

Um velho candeeiro

Que meu tempo inteiro,

Fico a observar.

Procuro encontrar

Esse que me habita.

O meu corpo grita:

- Quem em mim está?

Nasci, vou vivendo.;

Não importa o tempo.

A morte é uma ilha

Que jamais queria

Nela aportar.

Procuro encontrar

Mais que a mim.;

Ir além do fim

E recomeçar.

Estou a deriva,

Eis a minha vida.

Não importa o frio,

Nem o desafio

De uma procela.

Meu destino, a vela

Que o acaso guia.

Existir seria

Um quadro borrado

De um pintor cansado

De viver, morria.

Eu sou procurado

Nessa tela imensa.;

Que o pintor entenda,

Sou desanimado.

Quando eu for achado

Pelo eu primeiro,

Eu serei inteiro,

Um grande pedaço

Desse quadro inverso,

Grão do universo

Que apenas queria

Saber se existia

Ou se o inventaram.

Não me derrubaram.;

Mas, eis que eu me erguia

Entre a utopia

E o imaginário.

Eu procuro o claro

No profundo escuro.

Quando enfim mergulho,

Nada em mim descubro.

Talvez, seja tudo,

Um nada encantado.

Sinto-me apanhado

Numa armadilha,

Porque não podia

Eu ficar calado.

Sinto-me lesado

Pela evolução.;

Deu-me a razão,

Por isso eu indago:

-Quem sou eu

De fato?

























A máquina do tempo



Estou começando a olhar

O agora, com desinteresse.

Estou pensando em viajar

Nos anos, através do tempo.

Minha máquina, o pensamento.;

Se ao passado eu voltar.

Sigo na imaginação

Para o futuro alcançar.



Volto a muito tempo atrás,

Quando ainda uma criança.

Eu em forma de lembrança,

Olhava cada vez mais

O céu em seu infinito.;

Tão bonito, tão distante,

Um enigma inebriante.

Eu avanço um pouco mais.



Sou apenas um rapaz.;

Eu me vejo pensativo.

Qual seria o motivo

Pra pensar longe demais.

Pensava então, no futuro

Seria um homem maduro.

Uma chance no escuro.

Adianto um pouco mais.



E diante de um espelho

Fito a indagar: - Quem és?

Nos olhos eu sinto medo.

Olhando ainda em viés,

Minha face no presente,

Continuo descontente.

Adianto um outro tanto

Para ver-me mais à frente.



Sou um velho resistente

Que procura uma resposta.

Continuo a ir em frente.;

Vejo-me em minha alcova,

Fechar os olhos para a vida.

Minha história está contida

Nas paredes de uma cova.;

Dou às costas, vou embora.



Vejo meus ossos, agora.

Lá fora, os descendentes.

Continuo a ir em frente.

Não existi na história.

Vejo uma vida inteira

Como risco na areia,

Apagar-se quando molha.

Sigo em frente, sem demora.



Minha essência, alma, espírito,

Nada vejo no infinito.

Já não tenho consciência.

Não sou mais um indivíduo.

Não me chamo mais João.

Sinto, não é mais visão.

Não sou parte, pois sou tudo.

Sigo em frente, continuo.



Sou o próprio universo

Em eterna expansão.;

Sou a última implosão.;

Sou o vazio, sou o nada.

Abro os olhos na calçada.

Volto a ser, de novo, João.

Minha máquina do tempo

Não passa de pensamento e muita imaginação.













Mensuração



O meu amor é tanto

Que eu não saberia

Dizer o quanto amo.

Porém, meu amor diria.



Não há sequer engano

No tanto que seria.

Mas, sofro o desengano

De alguém que me queria.



O amor não tem tamanho,

No entanto, tem intensidade.

O amor se mede estranho

Por quilômetros de saudade.





















Pelo sinal da cruz



Fizera a sua cruzada.

Acreditara que era jus.

O sangue na sua espada.

Pelo sinal da cruz.



A inquisição queimara.

A fogueira, a única luz

Que à noite iluminara

Pelo sinal da cruz.



Usara duras palavras.

Condenara corpos nus.

A muita gente, enganara,

Pelo sinal da cruz.



Com sua bênção e graça,

A igreja ao mundo seduz

E também cega e cala

Pelo sinal da cruz.



A mente evangelizada.

A fé nos olhos azuis.

A humanidade se mata

Pelo sinal da cruz.



















Eu, poeta II



Eu, poeta,

Sou um palco sem comédia.;

Uma tragédia em único ato.;

Um ator, sempre descalço,

Numa triste atuação .



Eu, poeta,

Sou o próprio coração

Mutilado

Pelo amor em mim criado,

Fruto de uma comoção.



Palmas para o poeta.

Não!

Grito, personificado

Num maluco enciumado

Com a sua criação.



Eu, poeta,

Sou enfim,

Eu, para mim.

Para você,

Não.



















Sobre suas lágrimas



Eu me senti completo.

Decerto,

O amor me preenchia.

(Eu o compus em verso).

Você não correspondia.

E nossos beijos entre soluços

Aceleraram o seu pulso.

Qual de nós dois mentia?

Você foi sem regresso.

Eu a esperaria.

Meu amor era eterno,

Chama que jamais cedia.

O seu foi um sopro gélido

Que enfim, me apagaria.

Minhas últimas palavras

Resumiram-se em dor.

Hei de sorrir, amor,

Sobre suas lágrimas.













Intensamente



Todos os meus dias

Foram eternos

Por cada hora que vivi.



À morte,

Com os seus mistérios,

Nunca temi.



Não importava

Céu ou inferno,

Ganhar, perder,

Errado ou certo.;

Apenas cada amanhecer.



Viver,

Era sempre estar por perto

De você.















O último desejo



Às vezes, me debruço em pensamentos.

Neles invento um amor que já havia

Nas páginas de um álbum de casamento,

Conservado em velhas fotografias.



Vivi nele, cada volátil momento

Que o tempo não conseguiu apagar.

A saudade é o meu maior sofrimento

Por ter aprendido a amar.



Quando tive, do amor, conhecimento,

Pude enfim, compreender o que era amar.

Nela havia um exalar de sentimento

Que eu mal conseguia respirar.



Abro os braços numa manhã de dezembro.;

Entre eles tenho alguém para abraçar.

A mim, parece ser tão pouco tempo

Que volto àquele mesmo lugar.



Como é bela a pessoa que se ama.

Quão estranhas são as formas de encontrar.

Eu fui pego qual inseto por aranha,

Numa teia que o acaso foi armar.



Meu amor fora apressado e insistente.

Foram poucos os passos até o altar.

Nosso amor era mais que evidente.

Nunca, em vida, ele iria se acabar.



E de filhos fomos logo enchendo a casa.

Mesmo sem asas, começaram a voar.

Vieram netos, que brincavam na calçada,

Quando nela, íamos todos sentar.



Éramos bem mais que companheiros.

Nossos sonhos um consenso parcial.

Fomos sempre, confidentes verdadeiros,

O mais completo e inteiro casal.



Eu estava dia e noite ao seu leito.

Nunca tinha me sentido tão mal.

Lembro agora do seu último desejo,

Que parecia tão especial.



Minhas lágrimas molharam o seu beijo.

Para mim não era a vida real.

Uma dor estraçalhava meu peito,

Como ferido pelo gume de um punhal.



Abro os olhos, vejo minha realidade:

Minha imagem retratada no espelho.;

Um ancião que apesar de sua idade,

Ainda cumpre um pedido, um desejo.



Viva o máximo que puder, ouvi àquele dia,

Não sabemos o que pode acontecer,

Muito menos o que há depois da vida.

Minha querida, quanta falta de você.



































Se amar um dia



Alguém, de amor,

Me falou.

De qual amor,

Falaria.

Amar é bom.

Se não for?

Só sabe se amar um dia.





































Fossa



Noite avessa

Ao amanhã que dorme.

Vai de porre,

Sombra que se move

Sob a lua cheia.



Sorvo em goles

Lágrimas de quem sofre

Uma vida inteira.



Não espere que eu sempre chore.

Hoje chove,

Amanhã clareia.

As pegadas que plantei na areia,

Já não mais se movem.



Passam os dias

E o vento encobre.;

Tal o tempo faz com a tristeza.

Não há marca,

Nem profundo corte,

Que eu jamais esqueça.



























Soneto da vitrine



A vidraça estilhaçada,

Não desfaz a minha imagem,

Não subtrai da cidade,

A luz do sol ofuscada.



De pé, fiquei na calçada

Com minha mão estendida.

Exorcizei minha vida

Na pedra que arremessara.



Por um instante, escutara

O som de ossos quebrados

Da montra fragmentada.



Meu corpo feito estilhaços

Que os passantes pisavam

Entre espanto e gargalhadas.















Causídicos



Consolidar a força do que pensa

Pra superar o pretexto de uma luta.

Não há desculpa

Para quem em sã consciência

Acastela a força bruta.



Uma disputa entre o intelectivo

E o que motiva uma apologia para a arma.

Só o pensamento nos dá asas

Para voar sobre os quintais dos mais perversos

No universo de intrigas sem motivo.



Luzes ou chamas?

Luzes, idéias que clareiam nossa alma.;

Na hora exata esta torna-se razão.

O punho escreve muitas vezes com pancada,

Chamas amargas que defloram o coração.



A guerra é a ignorância desmedida

Que jamais em si habita, a verdadeira bravura.

Causídico é aquele que anuncia

Que a força melhor valia

Teria no amplexo da cultura.

Cão-de-guarda



Estalo os dedos.;

Ao animal, apenas iludia.

Sua alegria

Se resumia ao balançar da cauda.

Um cão-de-guarda

Que não demonstra sua fúria contida.

Em cada lambida,

Sua lealdade é exaltada.



À noite, espreita

Na escuridão, a sombra que se move.

O canaz não dorme,

A espera de alguma presa.

Um grito eclode

Na madrugada.; uma luz acesa.

Um pandilha na rua sofre,

Cambaleante corre

Enquanto o sangue escorre,

O biltre pranteia.











O nó



Desatei o nó

Que me prendia ao passado.

Ninguém ao meu lado.;

Vejo-me tão só.

Verbo desusado,

Ancião amargo

Que de si, tem dó.

































D



A mesma letra, nossos nomes, inicia.

Somos a mesma viga

Que sustenta o teto.

Eu sou o mal do céu.

Vós sois o bem do inferno.

Colecionamos almas.

Somos eternos.

As minhas são ruins.

As vossas, boas.

Talvez sejamos nós,

A mesma pessoa.

Eu não existo à toa.;

Há um motivo.

Para chegar ao céu,

O inferno é preciso.



















Poetas



São tantos os poetas

Quanto estrelas,

Dispersos em bandeiras

Pelo mundo.



Eternos e profundos

Pelas letras,

Em digressões soberbas,

Em dimensões sem fundo.



São tantos os poetas

Que o planeta,

Em tinta de caneta,

É resumo.



Enorme rascunho

Em línguas estrangeiras.

A tradução perfeita

Das emoções do mundo.









Regresso



Pensei, amor, que me abraçaria

No dia em que eu voltasse.

Talvez, ainda houvesse uma família

Com a qual me reconciliasse.



Não quero debruçar-me em poesia

Para ter a chance de ficar.

Basta, amor,

O tempo cicatriza a ferida.

Uma dor antiga é difícil apagar.



Como poderei lhe convencer

Que apenas queria navegar.

Mas, naufraguei em terras desconhecidas.

A solidão e o vazio, eu tive que enfrentar.



Perigos e tormentas, me impôs, o mar.

Assim, entre procelas fui parar

Em uma pequena ilha

A muitas e muitas milhas deste lugar.



O vento deu-me a ida.

A volta eu tive que buscar.



Tive noites mal dormidas.

Muitos dias pra pensar.



Alguns deram-me guarida.

Outros, tive que enfrentar.



A lua, muitas vezes, não saía.;

Na escuridão, eu temia caminhar.



Durante o dia eu seguia

Com o sol ardente a me queimar.



Foram tantas tentativas,

Com a vontade já vencida,

Que eu quase desistira.



A esperança floria

No deserto do errar.



Mas, eu posso lhe jurar,

Numa dessas escapei

Pra buscar o que deixei,

Minha eterna companhia.

Hei-me aqui para provar.

















As frases



Eu conheci um poeta

Que como a flor do deserto,

Apesar do tempo incerto,

Teimava em sobreviver.



Admirado em ouvir

Os versos que declamava,

A palavra que encantava.

Não sabia escrever.



Certa manhã, eu fui ter

Na praça cotidiana.

A vista, então, me engana.

O que está a acontecer?



Vi no chão ensangüentado,

Por um auto atropelado,

Um sonho ser extirpado.

No deserto, morre a flor.



Do auto, a placa ficou,

Com frase que enganaria:

“Desse carro, o motorista

É Jesus, o salvador”.

Na camisa do finado

Que se tornou rubra cor,

Estava assim estampado:

“Jesus é meu protetor”.























Olhos



Fotografei em memórias

Momentos de perda e glória.;

Colecionando pra sempre,

No fundo de minha mente,

Retratos de um eu ausente,

Recortes de minha história.



Em uma luz repentina

Queimou-se em minhas retinas,

Um negativo molhado.

Enquanto o eu isolado

Mantinha o álbum fechado

Às minhas dúbias meninas.























Desvio de personalidade



Perdoa-me o pecado

Do mal olhado,

A espionagem cotidiana,

O pensamento na cama

Entre beijos e abraços.



Perdoa a quem te ama,

Que dessa forma te engana

Num desvio de personalidade,

No agir da imaturidade

Do seu outro eu.



Perdoa a quem perdeu

O que o mantinha vivo,

A ausência de motivo

Por perder

Por que

Perdeu.





















Campo de batalha



Pela dor, minha alma

Exaure entre meus dedos,

Enquanto escrevo

À minha distante amada.



Na minha espada,

Sou bem maior que o medo.

Porém, o meu segredo

Está em minha calma.



Em minha fala,

Imponho o meu direito.

Mas, em meu peito,

O seu amor me cala.



Volto à batalha,

Pois já não tem jeito.

No outro, eu vejo

A dor que me abraça.



O mundo pára.

Hei-me ante o espelho.

Fura o meu peito,

A minha própria espada.

É bem mais amarga,

A ilusão de um beijo,

Que morrer tão cedo

No campo de batalha.

























O mar e você



Não me canso nunca

De olhar o mar.;

Como não me canso

De seu rosto, olhar.



Não me importo,

Por não entender

O mar e você.



No mar, uma tormenta.

Você é tão ciumenta.

Nada posso fazer.



Há uma calmaria.

Eis você no outro dia,

Sempre a me surpreender.



O mar e suas ondas

Num eterno vai e vem.

A vida de quem ama

É assim também.



Eu luto em seus braços.

No mar o mesmo cansaço.

Nadar para quê?



No mar eu levaria

Toda a minha vida,

Sem jamais esquecer.



Entre sal e sol,

A sede.

Entre punhos numa rede,

Encantado por rever

O mar e você.





























Copo e caneta



Nunca escrevi

Um único verso,

Ébrio.

Não leve a sério

O que escreve

Um poeta embriagado.



A minha mão talvez revele

O meu estado.;

Não pela letra trêmula,

E sim, pelo palavreado.



Não estou acostumado

Com essa mistura avessa.;

Feita de copo e caneta,

De tinta preta e de álcool.

















Árvore torta



Uma folha reservada ao silêncio,

Assim me encontro

Desesperado e só.

É a última volta pelo parque,

A última chance para que eu me ache.

O vento me arrasta em pensamentos.;

Folha seca que através dos anos,

Perdeu-se pelas aléias.

Observo minha árvore, vida,

Minha tarde espargida

Pela imensidão do medo.

Sou um pote

Que se derrama em lágrimas.;

Assim, águo meus sentimentos,

Meus tormentos,

Lembranças aditivas,

Flores vivas

Que exalam um cheiro forte.

Velho corte,

Um talhe,

Um naco de minha mãe,

Árvore torta,

Virou porta

Que se abre.



























Mosaico



Em minha mão,

Mil pedaços.

Antigo quadro,

Uma mesa,

Alguém que come calado

Com discrição ou tristeza.



E lado a lado

Na mais extrema destreza,

Enfileirado

Sob a antiga nobreza,

Assenta-se o mosaico.



Sob os meus pés, o passado

Em um quadrado,

Pintado

Nesse retalho do tempo.



Breve momento

Guardado

No mais antigo mosaico

Preso à calçada,

Ao tempo.































Família



Minha família,

Meu pulmão,

Minha respiração contínua.

A linha

Do meu coração.

Eis a razão

De ser minha.



Minha família é ainda,

O beijo nas costas da mão,

É a bênção na cozinha,

O café em comunhão.



Minha família

É conversação

Sob o alpendre à tardinha.

A linha

Que prende o botão

Na camisa engomadinha.



Minha família é estima,

É zelo, é dedicação.

Sorrisos, quando todinha

E lágrimas, quando se vão.

























Velas II



Estou arcado em velas.

O vento em aquarela

Vem me pintar.

Quero tragar

Meu vício.

Pescar sorrisos

Em meu eterno mar.

Me afogar sem elas,

As mesmas velas

Que arcam o arco-íris

Em cores que me risquem,

Em dedos que me belisquem

A me acordar.

São essas velas

Que porei na palma de minha mão,

Que pára um coração,

Que vive em solidão,

Enquanto vela

Em meio a velas,

Seu meigo olhar.































Único motivo



Te amo

Em teus ouvidos,

Pelas horas de silêncio.

Te amo

Pelo tempo

Que ainda é pouco para te amar.

Te amo

Pelo ar

Que no arfar

Mal o respiro.

Te amo

Pelo único motivo

Que é para sempre

Te amar.





















Só em te amar



Só em teus lábios,

Eu encontro meus gemidos.

Só em meus gritos,

Eu consigo te encontrar.

Como enganar

A emoção de estar aflito.

Eu te preciso

Como a noite, do luar.



Só em teus passos,

Eu caminho decidido.

Surpreendido,

Tento não justificar.

Sem teus abraços,

Os meus beijos são sofridos

Como os feridos

Que não podem se curar.



Só em te amar

É que eu encontro o sentido

De tudo aquilo

Que consigo imaginar.

















Esperança



Há um pedaço de uma alma

Pela rua,

Uma criança que procura

Sua casa.

Há uma mãe desesperada

Que continua,

Na esperança de encontrá-la.

Há uma criança

Que chora e cala.

E talvez para sempre,

Na rua,

Permaneça perdida.

Mas, a mãe nunca vencida,

Ainda luta.





















Vértebras



Sou um ser maquinal

Sobre costelas.

Sinto entre vértebras,

Aquela

Sensação de mal-estar.

Um vertebrado que caminha

Sobre pernas

Desde as cavernas

Até o último andar.

Deixarei ossos sob a terra

Ou espalhados sobre ela.

Eis a estética

Do meu fim.

E mesmo assim,

Procuro vértebras em mim.



















Pela janela



Jogamos pela janela,

Tal qual punhado de terra,

A nossa triste história.

O vento esparge na rua,

Uma poeira tão suja

De quem a muito, foi embora.

Haviam rosas,

Abaixo dessa janela.

Murcharam, velhas,

A espera de um cuidado.

Abandonado,

O mato tomou altura,

Ganhou a luta

Para o jardim florado.

Pela janela,

Vejo suas costas nuas

Dobrando a esquina

Do outro lado da rua.

Há um bom tempo,

Gravado em meu pensamento,

Uma cena sem aceno

Numa despedida crua.













Amiga II



O coração exige

Uma essência rara

Como a flor que vive

Na fenda da calçada.

O seu perfume é livre,

O que a amizade exala.

Mesmo que alguém a pise,

A essência é conservada,

A emoção persiste,

A voz então se cala,

A mão tenta ser firme

Enquanto à flor ampara.

A tudo, enfim, resiste,

A essência que é da alma

E nunca deixa triste

A esta que te exalta.

Essa amizade existe

E cede-lhe a palavra.

Vai minha amiga,

Fala.

















Secretária



Adentro a sala fria.

A moça educada,

Deseja-me um bom dia

Enquanto me intercala:

Senhor, do que precisa?

Senhora, tenha calma!

A todos atendia

Com paciência rara.

O coração seu guia.

A devoção, a estrada.

Seu sorriso servia

Para acalmar a alma.

Uma pessoa havia

Além da secretária.

E quando eu saía,

Pensei cumprimentá-la.

Ela se antecipara

A me dizer bom-dia.













Numeral um



Eu atribuo

Minhas palavras ao poeta.

Uma espera

Numa tarde em jejum.

Nós como dois,

Dividimos.

No que dera?

Apenas um.



Eu me situo

Nas medidas de uma régua.

A mais complexa

Ou talvez a mais comum.

Sou menos um,

Minha conta se completa

Com menos um.



Eu me anulo

Numa soma que me zera.

Um dois que nega

A existência de mais um.

Sou incomum,

Tabuada que ainda preza,

Numeral um.

Nada além



Eu não sou nada

Além de tudo que eu sou.;

Um intelecto

Formado de matéria,

Um esquelético

Nascido na miséria,

Um ser estético

Movido por rancor.



O meu valor

É a medida do que tenho.

O meu empenho

É a busca de quem sou.

A minha dor

Não é apenas fingimento.

O meu intento

É tornar-me um vencedor.;

Por não ser nada

Além daquilo que eu sou.

















Tenda



Meu coração submerge

E emerge

Num mar de sangue,

A chamar pelo seu nome

Para falar de amor

Através de um beija-flor

Que se feriu no jardim.

Desse amor

Que para mim,

Foi uma lápide sem flor.

Uma lenda

Que no fim,

Numa tenda,

Só,

Sem mim,

Meu cadáver,

Sepultou.















Nem você, nem eu



Eu poderia morrer

Sem saberem de mim.

Entre o parto

E o fim

Eu seria você.

Sem lutar,

Sem vencer

E sem nada a dizer.

Se eu não fosse você,

Quem seria,

Enfim?

Sendo assim,

Eu não tenho que ser

Nem você,

Nem eu mesmo

Para mim.

















Indiferença



Todas as vezes que eu choro,

Retiro cloro

De minhas lágrimas.

Todas as desgraças

Em meus poros,

Não se comparam às de minh’alma.

Todas as casas

Em que moro,

Perco, eu próprio,

Coisas raras.

Todas as damas,

Todas as camas,

São como a chama

Que se apaga.

Todos os ombros

Que me escoro,

Que rio e choro,

Não são nada.

Não me suporto

E não me importo,

Se fica ou passa.















Ambos II



Porque sentimos tanto

Se somos tão pouco?

Amar como louco,

Entre sorriso e pranto.

Esperar enquanto

Há rugas no rosto,

Orgulho, desgosto,

Certeza e engano.

Porque sentimos tanto

Se somos tão pouco?

Um procura o outro

E assim, somos ambos.



















Dedos



Meus dedos pedem mais

Que o coração implora.

Escrevo a toda hora,

A procura de paz.

Meus dedos querem mais

E sufocam agora

Nos nós de uma corda

Que balança atrás

De minha cabeça.

Que a tudo esqueça,

Que suba,

Que desça,

Que oculte o segredo.

Os meus próprios dedos

Escrevem minha sorte.

Talvez, minha morte

Revele o meu medo,

Meus dedos

E nada mais.











Quadro negro



Por trás das portas de um segredo,

O meu medo

De abri-las

E ouvir palavras frias

De mim mesmo.



Muitas vezes, me esqueço

E passo os dias

Preenchendo horas vazias

De desejo.



Reescrevo

Nesse imenso quadro negro,

Minha vida.



Quem viria

Me apagar da agonia

De sabê-lo?













Formigas



O que fazem as formigas

Em seus dias

De trabalho?

O que fazem lá embaixo?

Não me diga.

Somos as mesmas

Indecisas,

A marcarmos nossos passos,

Inimigas.

O que fazem as formigas

Com ferrões aguilhoados?

Somos nós mesmos ferroados

Pelo ácido da vida.

Não me diga

Que as formigas

São os homens disfarçados

De formigas.















Pedaço de sonho



Um pedaço de sonho

É maior que a realidade inteira.

Não existe maneira

De manter-me acordado.

E no sono velado,

Eu alcanço a fronteira

Onde a alma espelha

Meu mundo imaginado.



A penumbra e o silêncio

Acomodam meu sono.

Sob o mesmo, componho

O mais nobre e extenso

Sonho,

Denso,

Que me afunda pelo tamanho

Do tempo.















Diagnóstico II



Ainda sinto meu pulso

Na ponta do dedo

Polegar.

Não consigo enganar

A mim mesmo,

Nem guardar em segredo

A minha doença.

Sou um homem sem crença.

Não prometo

E nem perco o meu tempo

A rezar.

Já não posso chorar

Por ter os olhos secos.

Mas minha garganta,

Desejo

Molhar.

Minha pele amarela

Como a chama da vela

Dá-me um prognóstico:

És um jovem alcoólico

Que quer se matar.

O problema é cirrose,

Diz o diagnóstico.

A bebida é mais forte

Que meu mal-estar.

Minha última frase:

-Dei-me um copo.

Parti sem remorso.

Um carrasco a se vitimar.





























Uma pegada no jardim



Qual a última palavra

Que eu diria?

Não seria

Uma promessa ou uma jura

Nem tampouco,

Mesmo rouco,

Pediria

Eu desculpa

Nem perdão.

Diria com certeza:

- Não.

Em seguida, um silêncio.

Não há lenço

Que enxugue minhas lágrimas

Que tão raras,

Só chegaram-me no fim.

Nem a mim,

Solitário,

Sirvo para companhia.

Não diria

A ninguém que sou assim.

Cai em cascata

Sobre a cabeça aflita,

Minha vida

Estendida aos pés da morte.

Minha sorte

Como couro em estaca.

Acho graça,

Nessa última gargalhada,

Ver meu fim

Numa pegada

Esquecida no jardim.



























Sonhos II



Metade de meus sonhos é realidade.

A outra metade

Eu apenas sonho.

Componho os meus dias

Como se verdade.

Mas, na verdade,

São apenas sonhos.

É tão real meu sonho

Que creio acordado.

O que é real de fato

É o que não sonho.

E tudo que não sonho

É imaginado.

Assim, sonho acordado

E ao dormir não sonho.



















Louca varrida



Fui moça bonita,

Pura.

Ilusão perdida.

Sua

E de tantos outros.



Fui resto de vida.

Santa.

Puta atrevida.

Tantas

E morri só,

Louca varrida.

























Nas urnas



Feliz,

O homem que não cala em sua boca,

A dor alheia

E que semeia

A uma e outra pessoa,

A força que ainda rasteja

Em si mesma.



A chama de ódio encandeia.

A fuga

Se torna cadeia,

aldeia

de ferro forjado.



O homem que luta

Ao lado,

Sob a velha casa

Sem telha,

D’aquele que é enganado,

Que voa sem asa,

Pelado,

A vida inteira.





Feliz,

O homem que chora calado

Enquanto não vê resultado

Nas urnas

Do próprio país.































Madalena



Você não é

Alma à toa,

Não é sua escolha

Ser o que é.

Mas, se machuca,

Peca e perdoa.

Não se desculpa

Por ser pessoa.

Por não ser outra,

És o que é.



Você não quer

Ser pouca,

Louca.

Tira a roupa

Pra ver se é.

É um estado de semelhança,

Uma lembrança

De ser criança,

Gostar de dança

E de balé.



Você quem é?

Imagem inversa,

Gente perversa

Que julga a fé

Que lhe condena,

Culto, novena,

A madalena

Que é José.























Queixa



Não queira resumir minha culpa

A uma sentença,

Enquanto tua mão me acusa

Posta sobre a jura,

Mãe de tua crença.

Renego teu amor beato,

Teu pudor ceifado

Pela tua ofensa.

Não me verás ajoelhado

Nem súdito dessa tua crença.

Se dessa forma tu não pensas,

Não queira me ver condenado.

Assino essa minha queixa

De um cadáver que deseja

Ser ressuscitado.



















O boi



O que o homem vê

Com o seu olho fundo?

Quando não vê o mundo,

No fundo, ele não crê.

Quando não quer morrer

Pede socorro a cova

E quando vai embora

O chão ele quer ser.

Na grama do jardim,

Ele é pasto agora.

O boi o come outrora.;

É comido no fim.

























Poema discurso



Entre vestes,

Desfilamos nossas mágoas disfarçadas em sorrisos.

E com fios invisíveis fazemos nossos laços sociais.

Sejamos mais que pais,

Sejamos amigos.

E que então nossos sorrisos

Sejam afetos mais carnais.

Não importa no que você acredita.

Tão interessante é a vida,

Que tivemos nossas noites mal dormidas

Por capricho de um filho ou de uma filha.

O evento propicia

Ostentação

Do que aparentamos ser.

Mas, somente nas ações

Tendemos a transparecer.

Não importam nossas finas vestimentas.

O esnobe será sempre o mais pobre,

Pobreza de consciência.

Não julguemos pela primeira impressão.

Se olharmos com atenção,

Talvez vejamos solidão e/ou tristeza.

Façamos nossas mesas,

Ao redor, nossas crianças.

Que enorme discrepância

Na distância de nossa maioridade

A essa tenra idade,

A infância.

Vejam quanta elegância,

Não no traje.;

O que na verdade encanta é a criança,

Seu sorriso e a esperança,

A ingenuidade dos sonhos e a amizade.

Eis o que nos deixa com saudade do que fomos,

Ao que somos,

Nunca é tarde.

Nossos planos

São projetos de suas vidas.

Que essa noite nunca seja esquecida.

Que algum dia,

Mesmo com a vista cansada,

Por velhas fotografias seja uma data relembrada.

Um dia, alguns anos pela frente,

Com opiniões divergentes,

Não serão tão diferentes do que somos.

Suas vozes terão um tom de censura.

Suas alturas sentirão o peso da vida.

E que cada um decida

Qual caminho irá seguir.

Não sabemos se ouviram nossos conselhos,

Que em primeiro

Está sempre o respeito

Às enormes diferenças.

Não importam quais as suas divergências.

Mas que tenham consciência,

Prudência e decência em si mesmos.

Já que ao tempo não importa a idade,

Temos que lhes mostrar a verdade

Que somente o conhecimento dá ao homem Liberdade.























Mundo ilegal



Eu verso

Sobre aquilo que mais prezo

No verso do caderno temporal.

Comparo o meu normal

Ao seu inverso,

Um menino sem nome,

Um homem

Sem moral.

Eu vejo o meu filho com fome

Nos olhos da criança que pede.

Eu vejo o meu filho com febre

Na porta do hospital.

Eu vejo o mal

Que atravessa o seu caminho.;

Nunca o deixarei sozinho,

Pois o mundo é ilegal.

















Estrela solar



Não precisa ostentar

O que tem.;

Não há ninguém

Que consiga ofuscar.

A não ser que ostente o bem,

Pois outro também

Ostentará.

Eis que o mundo assim tornar-se-á

Uma estrela solar

Que não vem

Ofuscar a ninguém,

Pois o bem

Tende a iluminar.























Capricho natural



De que importa

O que visto,

Se o meu corpo

É um capricho

Natural.

Mas se o mundo é formal,

Meu juízo

Não aceita o que digo:

-Sou normal.

Minha escola,

Esse mundo perdido.

Meu gemido,

Um afago carnal.

O meu mal

É o silêncio obtido

Com a força de um grito

Animal.















Até o fim



Busco o prazer

Para viver.

Busco o prazer

Até o fim.

Busco o prazer

Só para mim

Como você

Busca o prazer

Que há em mim.

Busco o prazer

Para mim, e você

Busca o prazer

Por ser assim.

Busco em você

Todo o prazer

Que há em mim.

Buscamos nós,

Quando a sós,

Eu e você,

Para poder

Vivermos

Até o fim.

















A esfera



Plantaram-me numa ilha

Que gira sem parar.

Quiseram me enfeitar

De margarida.

O olhar fingia

Denunciar.

Entre o sol e a lua

Eu vivo a girar

Como quem brinca,

Ainda criança,

Ciranda, ciranda.

Pele vermelha,

Negra, amarela,

Branca qual vela

Ao mar.

Podem gritar:

- À vista, terra!

Uma esfera

Sempre a girar.



















Plural eterno



Aos teus olhos

Eu sou plural eterno.;

Mais de um verso,

Uma composição.

Uma mão

Estendida e tão perto,

Quase toca o próprio coração.

A ilusão

De quem ama a carne

E o verbo.

Numa tarde,

Explode de emoção.;

Estilhaços dispersos no universo,

Num regresso

À fonte da razão.

Aos teus olhos

Eu sou plural eterno.;

Mais de um verso,

Uma composição.

















Dois pedintes



Onde está Deus

Enquanto eles caminham?

Um pedaço de lenho preso na axila pelo braço,

Uma sacola na mão.;

Eis nosso Adão.

Eis nossa Eva

Com um saco de plástico.

Há luzes nas árvores.

Está próximo ao natal.

Não me sinto mal.

Mas, emudeço em minhas frases.

Tenho certeza que ele não existe.

Porém, fico triste

Por eles acreditarem

Que não estão sós.





















O viúvo



Bela dona, eu ainda te procuro

No meu quarto escuro

Em silêncio.

Volto ao tempo,

Bem antes de meu luto.

Minhas lágrimas, enxugo

Com o vento.

O teu rosto moreno

Vejo em vulto.

Não desculpo

O meu triste pensamento.

Um tormento,

A ilusão que eu desfruto.

Eu desfruto

De todo amor que tenho.

Atenho-me a tua alma em sussurro

E descubro

Que enfim, estou morrendo.





















Soma sem resultado



As mulheres nos singularizam

À beleza,

Às costas nuas

E aos seios parcialmente à amostra.

De que gosta

Cada uma,

É impossível compreender.;

Seus caprichos,

Seus delírios emocionais,

Seu eterno devaneio

Á procura de um príncipe encantado.

Nos esforçamos,

Mas só conseguimos ser

Um lacaio

Que abdica de seu intenso desejo

De beijos e mortificações

Na loucura de amar.

Somos um mar

Sem ondas.;

Somos uma soma

Sem resultado.



















Carta de baralho



Cada carta

Talvez estipule sua sorte.

Porém na morte, não há cartas de baralho,

Há dores e recatos.

Vencer o jogo da vida

Não é superar adversários,

É simplesmente viver.

Na vida,

Para vencer,

É preciso bem mais que uma cartada a tempo,

É preciso reflexão e silêncio.



























Volta ao tempo



Meu verso triste

Prova que em mim ainda existe

Um coração ciumento.

Aprendi a dominar o vento

Com a mão,

O pensamento e um fino assobio.;

Que apaga o pavio

De uma velha e suja lâmpada.

O antigo alpendre

Prende tantas esperanças

Quantas lembranças

Que o frio vento da noite

Traz para me consolar

No pequeno e doce lar

De minha infância.

Minha alma aflora

Em cima da hora.

Do que importa a distância

Entre o que sou agora

E o que fui outrora.

















Decurso



Saudemos ao tempo de convívio

No qual desfrutamos do apreço recíproco,

Esse laço contumaz

Que prende nossas vidas em um enorme presente,

Por muitos natais.

Quantos ais

E ilusões pendentes

Pelas diferenças que nos fazem iguais.

Saudemos com o cálice da paz.

E que nossos desafetos, mágoas e ressentimentos

Sejam suplantados pelo tempo

De carinho mútuo e de harmonia.

Que deixemos de lado nossa aleivosia

Que consome aos outros, menos que a nós mesmos.;

E evitemos, assim, exprobar o caráter alheio.

Saudemos ao que temos

De melhor em nós

Que é o sentimento

De aceder-se ao próximo pela voz

E pela enorme necessidade.

Somos uma família sem laços de sangue.

Somos um enxame

Em laços de amizade.

Que cada um de nós,

Mesmo a sós,

Acredite nessas palavras serenas

Que enaltecem o poema

E exaltam essa enorme ternura

Engrandecendo o mundo.





































Poema de Cibele



Recebi como uma reverência

De uma amiga que me deixou lisonjeado,

Um poema que talvez inacabado

Merecesse uma extensa.



Hei-lo linha a linha:



“Para o poeta-louco-arretado-apaixonado

Que por suas mãos conduz o cabaz que esconde a opalina.

Mas que mãos,

As mãos de alegres negras africanas

Ou as mãos brancas lavadas em águas cearenses,

Ou quem sabe,

mãos ensaboadas e perfumadas em caras essências?”



Sou poeta,

Sou louco e apaixonado.;

Arretado foi sua benevolência.



Por minhas mãos

Foi cabaz manufaturado

E enfeitado

Com frutos de minha demência.



A opalina

Nos ofusca a retina.



Mas que mãos?

De alegres africanas?

Não em camas.



As mãos brancas

Foram lavadas na lembrança

Em águas cearenses,

Cristalinas.;

Ensaboadas e perfumadas em caras essências

Na incidência

Das poesias minhas.



















Soneto do corsário



É tão difícil andar em linha reta

Por sobre a tábua à borda estendida,

Onde a lâmina afiada da vida

Nos força a agir com tanta pressa.



Escutar o vento sacudir a vela

Para saber da caravela a direção.

Em braçadas que aceleram o coração,

Essa sublime embarcação que nos carrega.



A talvez morrer na areia que enterra

A esperança que se torna alucinação.;

Uma falsa intenção dada por certa.



Para vencer a solidão, o amor à espera.

A mais intensa força de impulsão

De um corsário que à razão nunca se entrega.















Há alguns anos



Nos dispersamos um dia,

Há alguns anos atrás,

Numa viagem que nos trouxe emoção por demais.;

A viagem da vida.

Enfim, nos encontramos

No caminho

E voltamos

De alguma forma ao nosso embarque,

Onde éramos meninos.

Talvez não tenhamos

Realizado nossos sonhos.

Mas ultrapassamos

As barreiras das adversidades

E galgamos

A escalada rumo à felicidade

Realizando o sonho de outros meninos,

Nossos filhos

Que trilham

Os mesmos caminhos

E que também não se dão conta

Da extraordinária onda

Que é a juventude.

O tempo é impiedoso com o corpo.

No entanto, generoso com o espírito.

A inquietude de nossa juventude

Tornou-se reflexão e equilíbrio.

É imensamente gratificante

Poder reencontrar nesse instante

Cada um daqueles meninos

De tantos anos atrás,

Transformados em homens e pais,

E principalmente com o mesmo vínculo,

O da amizade.

Que nos vejamos

Com mais brevidade,

Pois que o tempo

Não nos dará tantos anos.



























Há 25 anos



O calendário nos dá o tempo exato.

De fato,

Foi há 25 anos.

Em planos,

Destinamos nossos atos.

Em enganos,

Nos mostramos mais humanos.



A saudade

Perpetuou a amizade

De jovens que queriam vencer.

Não importa hoje, a realidade.

Na verdade,

Um deles era você.





















Data expressiva



O natal, assim, seria

Uma data expressiva

Onde se anuncia

A vinda de alguém.;

Onde se diz amém

Quando se negocia.

A estrela que é guia

No céu de Belém.

Mas, criaram também

Um velhinho com barba

Que com sua risada

Conquistou as crianças.

Hoje, tudo é lembrança.;

Menos a esperança

Que o natal seja dança

Do bem com o mal.

Não exclua ninguém

E diga também:

-Tenha um feliz natal.



















Luz de minha razão



Não acredito em céu

Por estar preso a terra.

Não acredito no papel

Da predestinação.

Eu temo a escuridão

Da morte eterna.

Porém, diviso uma chama

Que é tenra e bela,

A luz de minha razão.



Não acredito em pecado.

Porém, em erro e engano.

Não acredito em dom e/ou fadário.

Mas, em instinto humano.

Não acredito em um plano

Já traçado.

Mas, no incrível acaso

Da mais sublime união

Com a luz de minha razão.



Eu acredito em perdão

Por que sou falho.

Às vezes, sofro e calo

Por uma grande emoção .

E nesse amor tão altivo e venerado,

Não sou um louco isolado

Por ter você ao meu lado

Que é a luz de minha razão.































Envelope



Eu violei o envelope

E nenhuma carta havia.

Serei um louco que foge

De sua própria agonia

Em uma tarde chuvosa,

Em uma noite sombria,

Com sua face chorosa

Pela melancolia

De um amor que não foi rosa.;

Mas, desabrocha um dia

Qual envelope violado,

Vazio e endereçado

A uma casa vazia.























Estrutura



Amar assim talvez seja loucura.

Mas é tanta ternura

Que vale a pena sofrer

Por você,

Minha estrutura.

Jamais terei sua altura

No equilíbrio de ser.

És a força que me abusa,

Põe minha mão sob a blusa

E me faz enlouquecer.

És aquela que me acusa

Por retê-la pela cintura

E fazê-la em mim, doer.

Quero morrer

Sob a jura

Da enorme estrutura

Que é você,

Que ainda pede desculpa

Pelo tanto que me culpa

Por não deixá-la viver.





















Tarde demais II



Da morte, sou o veneno.

E do veneno a dor

Em gotas que colocaste

No cálice

Que se quebrou.

Depois de seu estertor,

Caio num enorme silêncio.

Pela janela, o vento

Carrega o cheiro do amor.

Estás em paz,

Em meus braços,

Sem os mais falsos abraços,

Sem o menor dissabor.























O poder feminino



O poder feminino

Que me transforma em menino,

Que me cativa,

Que me leva a concordar

Na delicia

Do mais puro manjar

Que ela quer me servir,

Ainda o posso sentir

No estranho ofegar.

Quando tento mentir,

Ela me faz calar

Com o olhar

A se dilatar

Em mim.





















Pólos ativos



Eu sinto sua falta

Tal qual a falta que faz

No desenho, a cor.

Eu meço o meu amor

Do tamanho da razão,

Que sem ela, enlouqueço.

Você, jamais eu esqueço,

Mesmo

Na mais estupenda alegria

Ou na eterna agonia

Do silêncio.

Meu verso, não me surpreendo,

Sua ausência o instiga

A reverberar sobre a viga

Do meu triste pensamento.

Louco,

Se não o entendo.

Pouco,

Se falta me faz.

Você talvez seja mais,

Enquanto eu sou o de menos.

No amor,

Pólos ativos seremos.

Desencontrados sinais.

Fonte eterna



Sou capaz de ser feliz.

Mas, às vezes, por um triz

Perco o desabrochar da flor

E o doce beija-flor

No vôo nupcial

Que beija o bem essencial,

A fragrância parcial

Que é exalada da flor.

Desenho e pinto a sua cor

Numa figura que é bela,

Com a instigante aquarela

Que é o amor.

















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