Sei que foi um presente da vovó. Não sei direito se ganhei no natal, no meu aniversário ou na páscoa. Eu era bem pequeno ainda e fiquei muito contente com o presente.
No começo até que usei como mochila. O urso cinza de patas brancas com o nariz preto feito de um material que mais parecia piche. As patas, dianteiras e traseiras, ficavam atadas por tiras de nylon, com fivelas reguláveis permitindo que fosse carregado preso nas minhas costas.
Por várias vezes o levei, assim, à casa de amiguinhos. Cheio de bugigangas ele ia preso nas minhas costas. Por várias vezes, também, mamãe o lavou e o pendurou no varal, secando com as roupas depois uma uma boa passada pela máquina de lavar roupas.
Mas aos poucos ele foi ficando mais e mais meu amigo. Eu o queria cada vez mais perto de mim e ele acabou indo parar na minha cama. Virou meu companheiro de noites e mais noites. Seu pelo foi perdendo o brilho; o zíper do bojo da mochila jamais se abriu e o nariz, bem o nariz...
Aquela bolinha de "piche" era a minha diferença. Antes de dormir eu ficava horas e horas burilando aquele nariz entre os dedos. Os fios que o prendiam se soltaram várias vezes obrigando mamãe a costurá-lo na base da agulha. Nada importava. Eu queria tê-lo junto comigo, engruvinhado em meu pescoço, aquecendo meu peito, ativando meus dedos.
Um dia, sem que eu soubesse, meu pai, para evitar o inevitável - pois um dia o panda amigo acabaria mesmo - resolveu escrever esta história. De real a imaginável meu pai o fêz durar para sempre, para que eu não esqueça jamais meu urso panda, mochila de pelúcia.
Lucas Vieira Gonçalves, meu filho, nasceu em 28 de março de 1985.