QUANDO DAS CINZAS NASCEM FOGO
O fogo da fogueira se esvaneceu. Restaram somente as cinzas. Levantei-me, acompanhando familiares e amigos e fomos dormir.
Algo, porém, me inquietava: eu olhara para o fogo daquela fogueira e vi um
rosto que até então, jamais o havia visto. Não era assim por ser desconhecido. Era
um rosto de paixão. Meu Deus, um rosto de paixão somente poderia estar no fogo
da fogueira....Era isso. Virei-me de lado na cama e vi aquele rosto iluminado a me
sorrir, com olhos verdes, que beiravam a ferrugem. Ah, aqueles olhos, eram a lenha,
o combustível das labaredas que incendiavam meu coração estupefato e perplexo.
Então a paixão, longe de ir embora, uniu-se ao amor, lado a lado. E eu que
sempre acreditara que era impossível a convivência de amor e paixão, logo concedi
ao contraditório de minha alma quando meu coração disparou, feito metralhadora
com balas de flores coloridas. Ah, paixão, você me preenche a vida fazendo de meu
corpo em solidão mero instrumento do prazer de mel. Ah, amor, você me destitui
da dor, povoando meus pensamentos de sonhos.
Corri, então, à fogueira. Ela estava linda, toda cheia de lenha a queimar
com nuances coloridas em suas labaredas sopradas pelo vento sul, o minuano:
das cinzas nasceram o fogo.
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ANJO DE UMA ASA |