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Poesias-->Gilson, o poeta dos tapumes -- 23/03/2007 - 16:19 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Gilson, o poeta dos tapumes



Félix Maier



No Distrito Federal, o Programa Picasso Não Pichava (http://www.ssp.df.gov.br/005/00502001.asp?ttCD_CHAVE=5219) tem o nobre objetivo de tornar pichadores em “grafiteiros do bem”. Com tal iniciativa, muitos jovens que se uniam em gangues para pichar muros e até monumentos da cidade estão se tornando verdadeiros artistas. Em vez utilizar tinta a spray para gravar frases obscenas e sujeira nos muros, muitos deles criam verdadeiras obras de arte por toda a Capital, principalmente em muros de escola e paradas de ônibus.



Na década de 1970, o poeta Gilson de Abreu Marinho criou a inusitada “literatura de tapume”, com a visível preocupação de substituir pichações idiotas em verdadeira poesia, para alegria dos transeuntes do centro do Rio de Janeiro. A respeito de sua obra, a Revista Designe 1 trata do “poeta do giz” em um de seus artigos (Pag. 76 - Gilson de Abreu Marinho – o poeta dos tapumes - Carlos M. Horcades - http://www.univercidade.br/iav/rev_designe03.htm).



Muitas vezes, encontrei o “poeta dos tapumes” no centro do Rio, escrevendo quadras poéticas nos tapumes que escondiam construções e reformas de edifícios. Vestindo seu indefectível boné, com cabelos longos, barba grande, porém sem bigode, Gilson tinha uma característica especial em desenhar pezinhos, que eram as pegadas que nos levavam até seus desenhos e suas trovas riscados com giz em muros e tapumes.



Em 15 de janeiro de 1977, Gilson (que é como ele assinava suas “obras” nos tapumes do Rio) publicou um opúsculo, “Literatura de Tapume n. 1”. Na introdução, assim ele nos fala:



“Agradecemos sensibilizados, a cada um daqueles que nos honrou com sua presença simpática e amiga no lançamento do nosso ‘32 Trovas do Poeta dos Tapumes’. As cenas comoventes presenciadas ao nosso redor nos tapumes da cidade enquanto autografávamos e dedicávamos o livrito, jamais serão esquecidas. Como é gostoso sentir a manifestação de carinho dessa gente maravilhosa da nossa Rio de Janeiro! Quanto abraço! Quanta palavra de estímulo! Crianças, jovens, anciãos... demonstrando sorridentes que o amor à poesia continua aceso nos corações!

Com o maior respeito e admiração, dedicamos singela homenagem às autoridades policiais, governamentais, eclesiásticas... cujo comportamento ante a nossa missão tem sido uma demonstração viva de que nosso trabalho é, acima de qualquer dúvida, benéfico à mente sofrida da comunidade. É incrível a satisfação espiritual que experimentamos diante da segurança e simpatia que transmitem por um olhar, um sorriso... e na maioria dos casos, por um abraço!

Deixamos nosso abraço para você, que lê agora estas palavras. Que cada minuto da sua vida seja marcado por um acontecimento agradável.; por uma alegria inesquecível.; pela certeza de que DEUS tem sempre uma surpresa agradável para aqueles que confiam em SUA presença.

Somos gratos de forma especial e muito profunda aos amigos jornalistas, que além de criar para nós o título ‘O Poeta das Tapumes’, que muito nos envaideceu, não pouparam esforços para esclarecer o nosso amado público sobre a real finalidade da nossa missão. Não serei mais extenso apenas pelo receio de cometer injustiças inconscientes, mas lembrarei de cada um com o maior respeito, colocando-me inclusive à disposição para o que estiver ao meu alcance.

Giz... Paz!

Gilson de Abreu Marinho.

Rio de Janeiro, 05, junho, 1977.”



Adquiri um exemplar do livrito de Gilson, recendo a seguinte dedicatória:



“Rio 290978

FELIX... NADA SERÁ NA VIDA MAIOR QUE TUAS FORÇAS POSITIVAS!

Gilson”



Na página 8 do livrito, Gilson se entrevista e nos diz qual é o seu objetivo ao pintar os muros do Rio com giz:



- Gilson, qual foi o motivo que o levou a escrever pela primeira vez em muros e tapumes?



- Em primeiro lugar, as frases obscenas e ridículas que ferem a estética da paisagem. Apago-as, ou, com muita cara de pau e coragem, desenho sobre elas minhas pegadas ou minhas trovas. Em segundo lugar, o comportamento tenso demais das pessoas que caminham pelas calçadas.; principalmente nas áreas comerciais.



- Você já foi severamente impedido de escrever?



- Não. Nunca fui agressivamente interrompido. Já fui abordado, mas de forma educada, por alguns vigias responsáveis pela boa conservação dos tapumes, mas sempre me limitei a pedir desculpas e a me retirar. Eles cumprem apenas com o seu dever.



- Alguma construtora já lhe pagou para decorar seus tapumes?



- Não. Mas o ato de me permitirem (escrever) neles é para mim uma grande recompensa.



- Você pede autorização para apresentar-se nos tapumes das construtoras da cidade?



- Em apenas duas vezes eu o fiz. Habitualmente, eu chego e vou largando giz!



- Você planeja ir a outra parte do mundo ou do país com o seu trabalho?



- Eu não sou muito de fazer planos. Simplesmente me deixo levar por DEUA. Ele é quem sabe das coisas... Mas há pouco tempo ELE me deixou passar um dia em Santos e sorridente coloquei em algumas partes a minha mensagem de PAZ!



- Você se exterioriza muito quando usa o seu giz, não é?...



- Sim! Cada tracinho do meu giz, mesmo que não pareça, leva de mim toda a intensidade que eu colocaria numa grande obra que fosse levar os meus melhores sentimentos para a eternidade!



- Por que você usa giz e sempre branco?



- Porque o giz, além de transmitir pureza pela sua brancura, pode ser facilmente apagado por aqueles que não compreendem minhas intenções!



Abaixo, algumas trovas que constam do livrito de Gilson:



“Por não ser um astronauta

É que vivo pela rua

Curtindo a paz que me assalta

Quando vem surgindo a Lua!”



“Quem nunca comeu melado,

Quando come se lambuza?

Eu cá fiquei foi queimado

Ao beijar-te, ó... brasa musa!”



“- Diz, mas com sinceridade,

Tapume, ó tapume ‘meu’...

Existe nesta cidade

Trovador melhor do que eu?

- Existe!... caro Marinho,

És um modesto aprendiz

Que deixa pelo caminho

Medíocres traços de giz!”



“Enquanto houver um sorriso

Na mente da humanidade

Haverá um paraíso

Entre as ruas da cidade.”



“Eu saio todo inspirado

Por entre as ruas do RIO,

Para ver meu povo amado...

Sorrindo aos versos que crio!”



“DEUS permita que eu sorria

Ao final de cada verso

Para mostrar com poesia

A PAZ do meu UNIERSO.”



“A doce recordação

De um rostinho de criança

Nos dá paz ao coração,

Fé em DEUS, luz e esperança!”



Não poderiam faltar as trovas de amor:



“Eu saí tão vacilante

Após beijar-te, Maria,

Que fui comprar um calmante,

Mas... Entrei na padaria!”



“Sem usar um bisturi.;

Pois não sou cirurgião,

Coloquei você aqui...

Dentro do meu coração!”



“Buscando viver sorrindo

Tu terás como resposta

O brilho de um riso lindo

Nos lábios de quem te gosta!”



“Meu amor, tenha bondade...

Dê-me um beijo! Amo-a! Não minto.

Mas se for com má vontade...

Prefiro viver faminto.”



“Eu jamais morri gelado

Nas frias noites de inverno,

Por ter teu corpo dourado...

- Ó pedacinho de inferno!”



“O retrato que ganhei

De alguém que soube me amar,

Por tantas vezes beijei...

Que acabou por se rasgar.”



“O verão entrou na história

Quando o sol entrou em cena

Cobrindo... cheio de glória,

O corpo de uma morena.”



“Mulata, ao ver teu corpinho,

E estes teus lábios de mel,

Até o Sol, maluquinho...

Ensaiou sair do céu!”



“Tu brotaste, ó loura flor,

Enchendo de encanto a Terra

E o Sol, luz, vento, calor...

Formaram a primavera!”



“O inverno foi planejado

Quando viu a natureza

Que ‘pro’ mundo era arriscado

Teu fogo, escurinha tesa!”



“Como os teus olhos têm brilho,

Expressão de amor, luz, vida...

Quando estás com nosso filho

Entre os teus braços, querida!”



“Ao ver a garota triste,

Sentada na condução,

Tentei cantar um tuiste

Mas... saiu samba-canção...”



“Que os teus olhos são só meus,

Estou seguro, querida.;

Pois eles graças a DEUS...

São a luz da minha vida!”



Na página 11 do livrito, Gilson escreveu “Ensaio para um soneto”:



“Saí pelos tapumes da minha cidade

Munido com meu giz e a luz do CRIADOR

Com uma tremenda ânsia de felicidade...

Para plantar sorrisos onde havia dor...



E a cada verso meu, surgido da brancura

Do giz, que entre meus dedos loucos se gastava,

Sentia a mente inteira envolta na ternura

De DEUS... Que ante o meu povo me iluminava.;



E a cada vez que via em meio a multidão

Um rosto interessado em trovas que criei,

Sentia a recompensa vinda do meu REI...



E DEUS com seu poder sabia... a gratidão

Mostrada por alguém que em versos exaltei,

Representava tudo o que de bom sonhei!...”



Por onde andará hoje Gilson, o eterno “poeta dos tapumes”? Bem que poderia aparecer aqui em Brasília, no bairro de Águas Claras, onde eu moro, considerado o maior canteiro de obras do Brasil e o terceiro do mundo. Tapume é o que não falta por aqui!







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