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Contos-->AS CANECAS -- 24/05/2006 - 16:57 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AS CANECAS

Fernando Zocca


"O Esporte Clube 7,5 de Novembro engata uma terceira e segue firme rumo ao seu destino." (Manchete do Diário de Tupinambicas das Linhas, quando o time da cidade baixou para a terceira divisão).


Seu Zé B.Beu era o mais ferrenho, apaixonado, fã incondicional e colecionador de fotos do decadente E. C. 7,5 de Novembro da cidade de Tupinambicas das Linhas. Na verdade seu Zé começara sua coleção de fotografias do time, com uma brincadeira. Ele iniciara, quando tinha seis anos, ao guardar os papéis de balas, nos quais os fabricantes estampavam fotos dos heróis futebolistas daqueles tempos de antanho.
Essa mania, segundo os teclados peçonhentos de plantão, teria inspirado também, anos depois, algumas pessoas cabeças-fracas a serem comerciantes de balas e bombons nos cinemas da cidade. Naquele tempo era modismo em Tupinambicas das Linhas o comércio da guloseima: é que uma fábrica instalara-se na região central da urbe. Segundo constava o proprietário era igualmente dono do sanatório gerido por professores da seita maligna do pavão-louco.
Mas, B. Beu já alquebrado pelo fluir dos anos aguardava sonolento a passagem dos seus dias, e como lhe incomodava a monotonia, vivia parte do tempo no bar Eflúvios da Lucy Nada.
Naquela manhã de quarta-feira, Zé B. Beu encontrou, já escorado no balcão, seu amigo Noecyr Ponteiro que deglutia, muito feliz, a sinhazinha.
Quando viu o velho entrando Noecyr falou: "Lá vem ele com a mania do timinho perdedor”. Zé B. Beu, sem pensar rebateu: "Não me aborreça a cabeça; hoje tem jogo do 7,5, mas já está perdido. Já era, já foi pra terceira! O que sobrou foi saudosista puxa-saco escrevendo bosta no jornal."
Lucy Nada até o momento, quieta no seu canto, lavando copos, meteu o bedelho: "Não se pode generalizar assim seu Zé. O que é isso? Todo mundo é saudosista agora? Ora, faça-me o favor! Tem gente, gente louca, mas gente que gostava e gosta do time. Tem um fiscal de rendas, mais antigo do que andar prá frente é verdade, mas que nasceu amando o time. Ora o que o senhor tem com isso? É feio falar assim seu Zé! Se isso acontecesse alguns anos antes o senhor já estaria cotado para ocupar uma vaga no sanatório da turma do pavão-abilolado".
Porém sem se abater Zé B. Beu mandou ver: "Quem conheceu Arakem Matusquélico, não pode aceitar jogadores ganhando uma fortuna para não fazer nada. Essa situação não vai durar muito. Esses loucos vivem a chaleirar atitudes erradas. Tem que dar no que deu. O clube vai morrer por falência múltipla dos departamentos. A diretoria atual deu fim nos sonhos de muita gente. Faz tempo que guardo até ficha dos jogadores”. E depois, olhando fixamente para a dona do boteco grunhiu: "Devolve as canecas com o brasão do time. Cansei; nesse bar não bebo nem mesmo água torneiral. Estou fora."
Noecyr Ponteiro então falou em alto e bom som: "Dizem por ai seu Zé, inclusive quem está espalhando pra todo mundo é o Jean D. Bruce, que é o senhor quem fornece os dados pessoais dos jogadores e funcionários do clube, para a seita maligna do pavão-louco fazer as estripulias que sempre fez. É verdade isso?".
O semblante do seu Zé B.Beu tornou-se grave. Como se mirasse um túmulo, amparado na bengala, ele amuou. Capengando saiu do bar, sem levar as canecas. Quem ouviu seus resmungos pôde afirmar que ele dizia: "Antes só do que mal acompanhado. Vou jogar futebol de botão; não dá prá enricar, mas fortalece. De mim mesmo não posso perder; é verdade ou mentira?”
Pagando sua conta Noecyr Ponteiro exclamou já na ausência do colecionista: "Adeus, seu Zé B. Beu! Seu alvará está vencido. Expirou o prazo de validade. Rarará!"
Uma senhora jovem conduzindo, pelas mãos seu filho, aluno do grupo escolar, à primeira aula do dia, ao presenciar a cena, disse num tom sério: "Tá vendo o que faz a pinga? Vergonha!"



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