Usina de Letras
Usina de Letras
141 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62214 )

Cartas ( 21334)

Contos (13261)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10357)

Erótico (13569)

Frases (50609)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140799)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1063)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6187)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->Ele não gosta de trabalhar -- 24/05/2006 - 17:37 (Carlos Fernando Barros de Carvalho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ele não gosta de trabalhar


Osvaldo e Djanira moravam numa bonita mansão localizada na praia mais nobre de uma cidade do nordeste. Estavam casados há cinco anos e formavam a imagem de um casal feliz. Djanira, rica e inteligente era influente na política local e disso tirava proveito. Dentista por profissão, trabalhava na faculdade de odontologia e acumulava cargo sendo assessora na Câmara dos Deputados. Osvaldo era do lar e vivia basicamente na sombra da esposa. Mais jovem tinha sido jogador de futebol de um time pequeno mas hoje já não mais atuava. A casa estava sempre cheia de amigos e as festas que eles ofereciam já tinha ficado famosas. Era um entre e sai de doutores, deputados e até senadores era possível ver em dias de recesso do senado.

Osvaldo era de família pobre e seu único bem era um anel dado por seu avô que ele guardava com todo cuidado. Jovem nos seus trinta e cinco anos, vivia como podia da profissão herdada do avô, pedreiro. O porte atlético era dado pelo exercício da profissão e pelo gosto do culto ao corpo. Seus pais morreram quando era pequeno e o seu parente vivo mais próximo era sua irmã e dois sobrinhos de quem gostava muito mas, os mantinha a distância o máximo que podia. Sua irmã quando o visitava entrava sempre pela porta dos fundos pois essas eram as ordens. Seus sobrinhos não tem modos, dizia Djanira à Osvaldo, e sua irmã, muito humilde, pode criar situação embaraçosa para nós. Osvaldo acatava tudo sem reclamar e constrangido pedia a irmã para não visitá-lo. Deixasse que ele iria visitá-la de vez em quando, mas Osvaldo nunca tinha tempo. Nem quando um dos sobrinhos caiu doente e morreu, ele dispensou algum tempo para ficar com eles. Pagou o enterro mas não compareceu. Sua irmã afastou-se desde então do convívio com o irmão, magoada que estava pela pouca atenção e amor.

Djanira era de família rica. Foi criada como princesa e teve do bom e do melhor. Estudou em colégio de freira, teve festa de quinze anos como manda o figurino e viajou para a Europa várias vezes sendo a última dois anos atrás quando ficou por lá dois meses. Osvaldo não pôde acompanhá-la, pois Djanira estava fazendo a assessoria de um político influente. Seus pais ainda eram vivos e viviam na fazenda no interior. Não tinha irmãos e os primos não conviviam com ela. O pai chegou a ser prefeito na cidade do interior em que moravam e hoje era apenas um comerciante. Desde pequena percebia-se que Djanira não tinha sido abençoada pela natureza nas formas de mulher. Cresceu, encorpou e tornou-se uma mulher feia, sem atrativos físicos. Com o passar dos anos engordou e se transformou em uma matrona. Hoje, aos cinqüenta e dois anos não havia creme ou tratamento que fizesse milagre. Só a cirurgia plástica podia ter algum resultado mas ela morria de medo de cirurgia. Dizia-se que dos namorados que teve, todos, só a queriam pelo dote que tinha. Djanira sabia disso e sofria, mas sempre soube tirar proveito da sua riqueza.

Eles se conheceram na faculdade de odontologia. Ela professora e participante do conselho de ética e ele mestre de obras da reforma que era esperada a muito tempo na faculdade. Dos consertos nos canos e paredes da faculdade, Osvaldo passou a ser o pedreiro particular da Djanira. Fazia pequenos trabalhos e mantinha tudo funcionando na casa dela. Logo tomou lugar na cama de Djanira. Ele era o tipo de homem que ela gostava. Alto, moreno forte, de voz grossa e exalava virilidade por todos os lados. Ela tinha alguma reclamação dele mas não podia reclamar do vigor sexual. Ele estava sempre pronto para as orgias sexuais que ela gostava. Para ele, homem de pouca ou quase nenhuma letra, que não gostava de trabalho, aquele casamento era tudo que ele tinha sonhado na vida. Não se importava com a beleza que Djanira não tinha, pois podia ter as mulheres que ele quisesse. Ela por sua vez fazia vista grossa as escapadas de Osvaldo desde que, ela fosse a principal mulher da vida dele. Por sua vez Osvaldo se importava sim em não perder o que tinha conseguido. Era um casamento perfeito como a sociedade admira. Eles eram felizes.

Segundo dizem, não há bem que sempre dure ou mal que nunca se acabe e então....acabou. Quinze anos depois, mudanças na estrutura política e econômica no país fizeram com que Djanira tivesse que vir morar no Rio de Janeiro por algum tempo e posteriormente fixasse residência em Brasília. Osvaldo não quis ou não pode acompanhar Djanira. O modo de vida na capital, a idade de Djanira, agora sem atrativos nenhum, a perda da riqueza da família, fizeram com que eles ficassem separados. Ela muito bem acompanhada por amigos e a filha do primeiro casamento, matinha ainda um bom padrão de vida e era considerada nas rodas sociais. Ele ficou no Rio de Janeiro e começou a descer a ladeira da vida e hoje, cinco anos depois, mora em uma pensão no Estácio. Ainda guarda traços da beleza mas não tem mais o vigor físico nem sexual do passado. Foi obrigado a trabalhar e o pouco que Djanira lhe deixou foi sendo roubado aos poucos por quem se dizia ser seu melhor amigo. Teve mais uma ou duas mulheres para companhia e hoje vive sozinho. Seu único bem ainda é o anel que seu avô lhe deixou.

A irmã de Osvaldo também se mudou para o Rio de Janeiro. Casou novamente, tem dois filhos adolescente do segundo casamento e mora na favela de Mangueira. Osvaldo de vez em quando passa lá para apanhar algum dinheiro que sua irmã consegue retirar da despesa. Ele ainda sonha que vai conseguir ter a vida que já teve. Ela escuta tudo pensando que ele nunca vai mudar. Ele vai embora e ela fica vendo ele, descer o morro, indo embora. Ela não espera nada dele.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui