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Contos-->Iguais, mas não tanto assim -- 24/05/2006 - 17:39 (Carlos Fernando Barros de Carvalho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Iguais, mas não tanto assim

Nasceram iguais e iguais foram por toda a vida. Iguais externamente, é verdade. Nasceram após um tratamento de gravidez que sua mãe fez. Desde pequenos, eram tão parecidos que a própria mãe, muitas vezes era incapaz de distinguir um do outro. A não ser por um sinal nas costas de João e uma mancha na mão de José, nada poderia diferenciar um do outro. Eram gêmeos univitelinos e nasceram chamados assim pela devoção católica dos seus pais: Ariovaldo e Hermelinda.
Desde pequenos, quando começaram a entender de mundo, usaram essa semelhança em proveito próprio. Crianças, compareciam às aulas, mas sempre que podiam, enganavam os professores, fazendo-se passar um pelo outro. Na adolescência, quem sofria eram as namoradas. Os dois namoravam quase todas as garota de Pirenópolis, cidade do interior do Paraná, fazendo alternância entre eles. As garotas não desconfiavam de nada e, muitas vezes, contavam segredos de um para o outro sem perceberem. Ficaram adultos altos, louros , bonitos e fortes. Tinham descendência alemã e acalentavam um sonho de ir morar na capital, Curitiba. O que ninguém sabia, a não ser eles e sua mãe, era que o que eles tinham de semelhança na aparência eram totalmente diferentes no caráter e na personalidade. Enquanto João era bom de coração, estava sempre ajudando os necessitados e era totalmente emocional, José era uma praga. Ruim que nem peste, sentia satisfação em fazer maldade e o sofrimento dos outros era muitas vezes sua alegria, principalmente quando ele era o causador do sofrimento. Discutiam muito por causa disso e, com o passar dos anos, essa diferença só foi aumentando, principalmente porque enquanto João ia se dando bem na vida, já tendo inclusive aos dezesseis anos terminado o segundo grau e ido para a faculdade, José não tinha sequer terminado o primeiro grau. Suas maldades e maus pensamentos não o levavam a nada, mas insistia em continuar assim, embora estivesse cada vez mais com inveja de seu irmão. José disfarçava muito bem a sua inquietude e ninguém percebia sua raiva pelo sucesso do outro.
Apesar dessas diferenças, eles não conseguiam se separar. João, inocente, acreditava e até torcia pelo seu irmão. Tinha na verdade uma bondade burra, acreditando que todos são bons como ele. No entanto, seguindo seus planos de ir para a cidade grande, se mudaram para um apartamento em Curitiba. Trabalhavam em uma lanchonete para ter o sustento. João, além do trabalho, estudava muito, se preparando para entrar na faculdade e, mesmo quando já tinha entrado. José logo perdeu o emprego. Se dizia um infeliz e passou a viver no dispêndio do irmão. José fazia crescer dentro de si um monstro. Mal conseguia conviver com o irmão e escutar as suas história o deixava com muita raiva. Era uma pena um moço tão bonito, inteligente se deixar levar assim pela inércia.
João se formou, arrumou trabalho em uma grande empresa, com bom salário. Casou-se e logo a esposa estava esperando bebê. Tentava ajudar o irmão, incentivando-o a encontrar um emprego, fazer uma faculdade, mas tudo em vão. José, cada vez mais, tinha raiva do irmão e passou a acalentar um pensamento. João não se importou em manter o antigo apartamento de solteiro para o irmão. Também não se importava de pagar toda a despesa do irmão e continuava tentando fazê-lo acordar para a vida. José foi se afastando cada vez mais do convívio da família. Se isolou no apartamento e só saía vez ou outra. João era o único que o procurava e ele passou a ter um interesse na vida do irmão. João se animou pensando ser aquela atitude uma forma de se reabilitar e ajudava o irmão no que podia. Explicava sobre o seu trabalho, falava dos amigos, dos parentes da sua esposa. José pedia para João levar fotografia e vídeos da vida familiar e estava sempre perguntando de detalhes da sua vida.. Até detalhes da sua esposa, como sinais, hábitos ou desejos sexuais João falava para o José. Não se sentia bem fazendo isso mas faria qualquer coisa para o José se tornar um homem de bem. A esposa do João não gostava do José e pedia ao João para não ir tanto no apartamento. O que o João não sabia era que o José estava pondo em prático o seu plano. Ele só tinha esperado a morte da mãe.
Em uma tarde de inverno Curitibano, de sol a pino e um frio de dois graus, José ligou para João, dizendo que queria lhe falar um assunto importante. No final do expediente João ligou para a esposa e disse para que ia trabalhar sozinho até mais tarde e depois ia cortar cabelo. Ela deveria ir com a Aline, sua filha, para a festa de seu sogro e esperar por ele lá. Marcela não gostou mas obedeceu, pois sabia que João era determinado. João logo após saiu e foi ao apartamento do José. Logo que chegou seu irmão perguntou o que ia fazer depois de sair dali. João até pensou que José iria com ele mas seu irmão pediu para ele fechar os olhos, pois iria lhe mostrar uma surpresa. O taco de beisebol acertou a cabeça do João em cheio e parte do celebro espirrou na parede. José se certificou da morte do irmão e arrastou o corpo até o banheiro. Tirou a roupa de João e o mergulhou o corpo na banheira cheia de ácido, que tinha comprado aos poucos, durante anos. Aos poucos o corpo de João começou a se dissolver. Um cheiro de carne invadiu o ambiente. José saiu e fechou a porta do banheiro e acabou de vedá-lo. Limpou um pouco o que tinha sujado na roupa do João e a vestiu.

Marcela estava preocupada com a demora do João e quando viu o carro dele estacionar na frente da casa, se despreocupou. Chamou a Aline e foi em sua direção. Ele estava muito bonito, com um corte novo de cabelo. Aline estava toda feliz e nos seus cinco anos de idade só queria estar nos braços do pai. José beijou a Marcela e chamou a Aline para lhe dar um beijo também. Aline se afastou um pouco e depois de olhar nos olhos de José saiu correndo dizendo que ele não era seu pai.

O assassinato do João nunca foi descoberto. José conseguiu se passar integralmente como sendo o irmão em todas as situações de vida. O que ninguém nunca explicou é como a Aline mudou tanto desde o dia da festa do seu avô. Passou a ficar arredia, chorava pelos cantos e não queria ir para o braços do pai de jeito nenhum. Nunca mais foi a mesma e Marcela nunca conseguiu entender porque Aline não gostava do pai.. Nem a própria Aline sabia porque.
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