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cronicas-->Vencer na vida. -- 02/06/2004 - 20:02 (Leila S.) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A minha amiga A. é bióloga e trabalha como pesquisadora no CDC (Center for Disease Control), em Atlanta, um dos mais bem conceituados centros de pesquisa do mundo. A sua especialidade é Hepatite C, defendeu tese de doutorado no começo desse ano na USP.

Os pais dessa minha amiga são bahianos que foram, como tantos, tentar a vida em São Paulo, terra de oportunidades, sem dúvida. O pai tinha dezenove anos, mais ou menos, quando deixou, numa pequena cidade da Bahia, a sua namorada e foi na frente para ajeitar as coisas, arrumar trabalho....Isso que vocês já sabem. Ou não? Logo no começo, uma tragédia, enquanto trabalhava numa usina, colocando tecidos numa máquina, um problema técnico fez com que a engenhoca engolisse não só a peça de pano mas também a sua mão. Ali estava ele, um homem só, sem a mão esquerda, sem família para consolá-lo e sem, talvez para sempre, a namorada. Coragem para enviar à família tal notícia ele não tinha, para a namorada, muito menos. Assim foi cortando o contato e vivendo só, por alguns meses, a sua tristeza. Um dia tomou coragem e escreveu para a família contando em que dera a sua aventura em São Paulo, ou melhor, contou uma parte e omitiu outra. Pensou que fosse melhor ir anunciando aos poucos. Nem uma palavra para a namorada que, sem saber do acontecido, se acreditava abandonada de vez. Quando, finalmente, teve ocasião de visitar a família na Bahia tudo se esclareceu, como não podia deixar de ser. A namorada foi ter com ele e disse-lhe que o amava por inteiro, não somente a sua mão esquerda. Aqui, vou poupar-lhes dos detalhes, o importante é que o pai da minha amiga não era homem de se deixar vencer pelas adversidades, casou-se, com essa namorada (como podia ser diferente?) e tiveram duas filhas que estudaram em boas universidades e, no nosso modo de ver, pode-se dizer que venceram.
Quando a minha amiga estava fazendo o mestrado na USP aconteceu de ficar sem bolsa de estudos por algum tempo e foi dar aulas em uma escola particular. Transcrevo aqui, uma das muitas conversas de alunos que ouviu por lá:
_ Ai! Mas é burra aquela empregada lá de casa, viu?
_ De onde ela é?
_ Da Bahia.....
_ Ah, tem que ter paciência, é assim mesmo, precisa ver o zé mane que trabalha lá na portaria do meu prédio..
_ Hum, imagino.
_ Mas tem que ter gente burra no mundo...é, senão quem é que vai ser porteiro, limpar a casa....Tem que ter paciência, tó falando.
Nesse dia a minha amiga A. ainda tentou ensinar um pouco de humanidade a esses alunos e ouviu:
_ O que que é professora, você também é de lá?

Duvidam? Eu não, primeiro porque a minha amiga não é mentirosa, segundo porque eu também já ensinei nas tais escolas e ouvi conversas similares e..... já vi alunas pintando as unhas durante as aulas. Um dia, muitos anos depois, abri o jornal da minha cidade e vi essa aluna das unhas numa enorme foto na coluna social da cidade. Ela também deve ter vencido. A seu modo.
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