Ponho a mão no peito.
Morto. Não sinto mais nada.
Nem minhas memórias,
nem meus pensamentos,
nem meu inegável mau-hálito à meia-noite.
Sinto, entretanto
que acabou o mal-estar.
A náusea e o tédio deram lugar
à certeza da dissolução
com o universo.
Estou sendo lindamente
reconduzido a minha casa sem portas,
sem paredes, suspensa no espaço.
É tão bom estar bem morto,
solto pelo incomensurável nada.
É o descanso que sonhavam
minhas células nervosas.
É o beijo úmido que almejei
na infância, na maturidade, na velhice
e só agora veio, feito brisa
e me levou para o cantinho do cosmo
onde os demônios e os deuses
pegam na matéria-prima
para forjar nossos sonhos e pesadelos
de incontáveis novos mundos. |