GESTAÇÃO DA PALAVRA
Paulo Nunes Batista
Estraçalhada por meus dentes,
a Palavra,
ainda vive sob as carícias da língua
no útero da garganta.
Antes da Magia do parto,
lá no Mistério da concepção.
A Palavra se gasta no ventre da laringe.
É na solidão do Silêncio
que a palavra, sinuosa,
nasce, gera-se. exsurge
carregada de sonhos, sugestões, mistérios.
Palavra que não sei
o que é a Palavra.
Sei que tem algo de lúdico e onírico,
de telúrico, místico, metafísico,
mas também de paradoxo
de umbroso e inexplicável.
Solto-a, torno a pegá-la, burilo-a,
lustro-a, pinto-a, arco-iriso-a.
Às vezes amanso-as e tento entendê-las:
Algumas viram estrelas,
outras, buracos negros
ou grandes vazios cheios de nada...
Nada: esta aí uma palavra que me encafifa,
me funde a cuca.
Que coisa maluca
é a Palavra!
Anápolis, 27-12-2004
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