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Cronicas-->A história da refugiada que escapou do marechal Tito -- 09/10/2000 - 18:00 (Humberto Azevedo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
3 de outubro
Após dois dias de silêncio e de muita tristeza, ficou decidido que a personagem principal da página sete do Minas do Sul deveria ser a senhora Zlata Lackovic. A decisão foi tomada depois de uma conversa entre este repórter e o diretor do jornal, Ronaldo Carvalho, na tarde desta última terça-feira, por volta das 17 horas. O nome de dona Zlata foi aprovado com entusiasmo. Partimos, então, para a trincheira que pensávamos ser a mais difícil: a marcação de uma entrevista. Pois, na verdade, o nome de dona Zlata já tinha sido lembrado alguns meses antes, quando a publicitária do jornal, Fabiana Palma, nos indicou o nome desta Persona. Só que, na época em que foi lembrado o nome de dona Zlata, nós não conseguimos de nenhuma maneira marcar uma entrevista com esta senhora.
São 17 horas e 15 minutos deste último 3 de outubro, quando disco o número do telefone de dona Zlata. O telefone toca umas seis vezes até que uma voz feminina, rouca, com um forte sotaque "alemão" atende. Ao atender, esta senhora cumprimenta de maneira tradicional e faz uma interrogação: "Alou! (dizendo a última vogal da palavra com muita intensidade) Quem fala? O que quer?". Identifico-me anunciando o meu nome e dizendo-lhe que sou do jornal Minas do Sul. Neste instante percebo um grave problema auditivo desta senhora, que me arguiu dizendo: "Do Rio Grande do Sul?". Respondi que não e à partir daí sentir-me obrigado a falar com a voz mais firme e em tom mais alto. A "entrevista" ficara marcada para o dia seguinte, numa quarta-feira, 4 de outubro, às 14 horas, na residência desta croata de 85 anos, que reside em Santa Rita do Sapucaí desde o final dos anos 50, na rua Delcides Telles no número 384.

Fim da guerra
Para os croatas que apoiaram o exército de Hitler na Segunda Grande Guerra ver as Forças Armadas de Weimar cair por terra frente aos exércitos dos aliados (Estados Unidos, Inglaterra, a Resistência Francesa, a União Soviética e o Brasil) era difícil de acreditar. Mas, ainda, para uma jovem de 29 anos, católica, que vê a sua pátria ser anexada pelo marechal comunista Tito a algumas outras terras ali vizinhas. Era o fim da guerra e também a despedida de Zlata Lackovic de sua terra natal que nunca mais voltaria a vê-la. Com a Croácia sendo integrada por um novo país criado, a Iugoslávia, e com a religião sendo banida, Zlata foge com o marido Nicola Lackovic, com quem se casaria no religioso, na Áustria, que fez parte de sua rota de fuga. Da Áustria eles embarcam para a Alemanha, já entregue ao domínio dos exércitos aliados que, com o fim da guerra, iniciariam uma longa disputa nos bastidores da política. Da Alemanha, ela, o marido e mais duas crianças de 11 e 12 anos, filhos de um casal amigo, embarcam com aproximadamente quinhentas pessoas num navio rumo ao porto do Rio de Janeiro, no Brasil.
Zlata, Nicola e os filhos de criação Drágica e Ivo chegam no Brasil no final de 1945 e logo vão morar na cidade de São Paulo em casas de imigrantes croatas que já tinham chegado ao país alguns anos antes. Na sua maioria, os imigrantes croatas trabalhavam como comerciários e operários das fábricas. E essa não foi uma situação diferente da família Lackovic. Enquanto Nicola seguia para o trabalho, Zlata cuidava da casa e dos filhos. Um importante registro que se deve fazer aqui é que com todos esses acontecimentos a fé desta senhora croata fica ainda mais inabalável. Fé é uma palavra que marca bastante a família Balog, dos pais Wladimir e Sabina, que morreram na época da guerra. Zlata tem no único irmão, ainda vivo, Júlio Balog, sacerdote que veio para o Chile também após a guerra, a única referência do seu passado familiar. Na força da fé de dona Zlata consegue reunir forças para lembrar de um passado que ela sabe que nunca mais irá voltar. É na oração que ela consegue ter forças ao se lembrar da vida de professora primária que ela levava até os 30 anos na sua terra natal.

Texto publicado no jornal Minas do Sul em 7 de outubro de 2000
Escrito em 6 de outubro de 2000
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