IX
"Encostado à barranca, enrolado, em remanso,"
indiferente à noite, indiferente ao dia,
aos coros da cidade e da mata, em responso,
fica o rio a sonhar, na eterna calmaria.
E eu me fico alembrar:- sete anos só teria,
que, em férias de Natal, no plácido descanso
de sua margem,, plantei uma ingazeira esguia.
Talvez, no mesmo dia, além, noutro remanso,
uma gentil deidade, em tranças, inocente,
também outra ingazeira, ingênua, plantaria...
São traçados por Deus os destinos da gente!
E o rio tudo vê, tudo ama e tudo sente...
Desperta e se espreguiça... e retorna à porfia...
"E, além, solta a cascata uma canção dolente..."
X
"E, além, solta a cascata uma canção dolente,"
essa mesma canção que virginais enleios
calentou na tua alma cândida e inocente
e fez amadurar os pomos de teus seios.
Quantas vezes, amor, dormiste docemente
ao som desta canção.; e, no teu sono, veio
meu sonho insinuar seu ardor pubescente,
na mensaagem febril de cálidos anseios!
E nosso amor nasceu ao som desta cascata,
ao calor deste sol, sob a luz desta lua,
no vai-vem da cidade e quietude da mata.
Nas pedras da Encoberta, o rio se insinua
e, vencendo desvãos, seu rumo esgaravata,
"turbilhona em quebrada e a lutar continua..."
XI
"Turbilhona em quebrada e a lutar continua",
escarvando a barranca e contornando outeiros.;
e entre desvãos de pedra, arisco se insinua,
cortando no seu curso campos e terreiros.
Também nosso viver foi de lutar constante.
Longe de teu achego, às margens de outros rios,
em vez da tua voz, tão meiga no descante,
ouvimos, a cachoar, corredores bravios.
E, a cada rude queda, ao levantar de novo,
lembramos este bem, saudosos deste povo:
nosso lar, nossa gente, a casa, a praça, a rua...
Tal e qual como o rio, além desta divisa,
recorda com saudade a terra que batiza,
"Nosso destino é igual: a minha vida é a sua."
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