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Contos-->O Conhaque -- 05/06/2006 - 16:37 (Carlos Fernando Barros de Carvalho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O Conhaque

Jaguarana é uma cidade de Santa Catarina, localizada ao sul do estado quase fronteira com o Rio Grande do Sul. Situa-se entre as montanhas, a mais ou menos quinhentos metros de altura e seu clima é ameno durante o ano todo e um pouco frio e úmido no inverno. Neste lugar de cidadãos pacatos e simples, a atividade econômica principal é a agricultura, voltada principalmente para as parreiras. O clima facilitava não só o consumo, bem como o cultivo e fabricação de vinhos e conhaques e era muito conhecido o Conhaque da região, que de tão apreciado passou a arrastar levas de turistas para degustá-lo. Jaguarana foi colonizada basicamente por poloneses e eram eles quem detinham o conhecimento do bom vinho e do conhaque com o gosto adocicado tão apreciado. Aos poucos a região de Jaguarana foi se transformando em um mercado dedicado à bebida e passou a fazer parte dos festivais de vinhos e bebidas da região.
Gonçalves era um típico morador da região. Descendente de poloneses, que chegaram à região na metade do século vinte, era dono de uma Taberna, muito conhecida e procurada pelos turistas e moradores do local. Ele transformou seu sítio, nos arredores da cidade, em um complexo gastronômico e lá podia-se hospedar e degustar as comidas típicas, acompanhadas pelos melhores vinhos e conhaques da região. Começou simples e aos poucos foi aumentando o seu comércio e hoje cuida desde o plantio até a fabricação de suas bebidas. Aos poucos, graças a propaganda boca a boca, a Taberna do Gonçalves foi ficando conhecida e o conhaque do Gonçalves ficando famoso. Era comum ver, nos dias de maiores movimento, vários ônibus de turismo estacionados no terreiro em frente à Taberna e principalmente aos sábados pela manhã. Gonçalves era muito trabalhador e pessoalmente cuidava de todos os detalhes e gerenciava seus empregados, alguns deles seus parentes, com firmeza, porém com justiça. Trabalhavam muito, mas não reclamavam, pois ganhavam bem. A taberna era dividida em três partes: a parte do restaurante e taberna propriamente dita, a parte da fabricação mais ao fundo e ao lado a sua residência, que oferecia todo o conforto, tudo em um único imóvel. A esposa e os filhos de Gonçalves de nada podiam reclamar.
Gonçalves era casado, tinha trinta e seis anos e era bem forte pela lida diária, Tinha três filhos com a esposa Dayse e um bastardo, mas reconhecido. De pouco estudo, não fazia questão alguma que seus filhos estudassem, pois os queria por perto e ajudando na batalha da sobrevivência diária. Tinha começado o trabalho ainda moço, ajudado pelo avô, mas na verdade tudo era fruto do seu esforço. O carro chefe da Taberna era o conhaque. Tinha um gosto todo peculiar, um gosto que não era encontrado em nenhum outro local na região. Variava entre o doce seco ao um pouco amargo, enfim um sucesso que todos queriam pelo menos provar. A vida de Gonçalves transcorria dentro desta normalidade, sem nenhum fato que viesse atrapalhar aquela vida pacata e tranqüila. No entanto, em uma noite de lua cheia, bem clara e fria, um fato veio mudar todo o rumo da história.
Porventura um curto-circuito ou descuido deu origem a um incêndio na Taberna do Gonçalves.. Por ser toda a edificação de madeira e de fácil combustão, o incêndio se alastrou rapidamente e o sítio, um pouco afastado da cidade, dificultou a chegada do socorro. Já era alta madrugada quando o incêndio diminuiu de intensidade e foi possível começar o rescaldo do que sobrou. Pela manhã, a população ajudava a retirar do local do incêndio as pipas com as bebidas da Taberna. Na ânsia de retirar os variados tipos de conhaques e vinhos do local, uma operação um pouco desastrada fez rolar e derrubar um dos maiores barris de conhaque que foi ao chão e se partiu, espalhando o seu conteúdo em todos os que estavam perto. Teria sido mais uma fatalidade se no que restou do barril, entre as ripas, não pudesse ser visto o corpo nu e mumificado de um adulto. Boquiabertos e curiosos os moradores e bombeiros se aproximaram e estarrecidos verificaram, os mais velhos, que o corpo era do avô do Gonçalves. Gonçalves foi chamado para explicar o que estava ocorrendo, embora aos poucos todos fossem percebendo o que realmente estava acontecendo. Gonçalves nada falava e por mais que fosse inquirido mais assustado ficava. Aos poucos todos começaram a quebrar os outros barris, com pedras, foices e martelos. Em todos os barris de conhaque foi encontrado o corpo de algum humano, sendo que, às vezes, eram mais de um corpo por barril. Eram homens, mulheres, crianças, adultos e velhos, alguns parentes do Gonçalves, todos tinham sido moradores da região e podiam ser reconhecidos pelos seus parentes. Os corpos, todos mumificados, estavam muito bem conservados em conhaque. Aproveitando a confusão que se seguiu, Gonçalves fugiu e nunca mais se teve notícia. A revolta era geral e muitos não conseguiam parar de vomitar. A população queria fazer justiça pelas próprias mãos e chegaram a tentar linchar a família do Gonçalves, mas a polícia não deixou e os levou para local seguro.
Aquele dia ficou na memória da população por muito tempo. Muitos até adoeciam depois que sabiam que tinham tomado do conhaque. Da família do Gonçalves nada se sabe até hoje, pois mudaram-se para São Paulo, para casa dos parentes da Dayse, mas comentava-se na época que eles não sabiam de nada e tudo era feito pelo dono da Taberna, sozinho.
Recentemente estão comentando muito sobre um conhaque de excelente qualidade e gosto adocicado que é fabricado pelo lados de Caxias do Sul e vendido na Taberna do Trajano.
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