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Contos-->MEIO SÉCULO -- 15/06/2006 - 20:34 (Luiz Antonio Barbosa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MEIO SÉCULO
Quando o o ônibus parou na pequena rodoviária daquela cidadezinha do interior paulista, eu acordei, olhei pela janela e tentei reconhecer algum rosto. O desligar do motor trouxe um silêncio mórbido, o ar com cheiro de terra apagada misturado à folhas verdes, uma nostalgia como a dos tempos de criança quando ia chegando o Natal, rostos parecidos com alguns perdidos no tempo, algumas lembranças, ansiedade, hora de descer. Alguns passageiros descem, cara de sono, cinco horas sentado, dormindo, sonhando com ruas de terra, com riachos e bambuzais, bem que poderia alguem no passeio de espera num tom de espanto dizer: " É VOCÊ"...?
O ceu limpido, estrelado, ruas molhadas pela chuva da madrugada, lua alta, redonda, lembranças de meio século, alguns carros arrancando e espalhando poças silenciosas cor de terra. Sem pressa olho para o colégio de Freiras que anexo tinha o educandário das meninas...Conceição...Ah! Conceição...Menina do olhar triste, interna, a primeira paixão, os olhares furtivos em dias de matinês no Cine São Pedro, "Seo Valter" o projetista do cinema, Paulão o lanterninha, Conceição que nào peguei a mão, sonhei beijá-la, não tive coragem, o anel de bronze dado com carinho, uma cartinha de amor...Ah...Meio século... Imagino que do outro lado do rio, lá no alto da Estação, Maria Fumaça vai apitar pra acordar a euforia das fagulhas morrentes na bruma da manhã que chega.
Vou a pé, como poderia errar o caminho, a mesma rodoviária, as mesmas casas, mesmas árvores, os mesmos rostos, velhos rostos velhos que agora o meu é mero coadjuvante, meio século que agora é um grito interminável na alma de um menino descalço que dormiu muito tempo.
Meus passos cadenciados vão trilhando o caminho de ilhas com tesouros, das 20.000 léguas submarinas, do Bily the Kid, do batmasterson, Bufalo Bill, Love Estore melodiando o compasso do marejar meus olhos, Romeu e Julieta reverberando o primeiro beijo, Tom Sawyer, Peter Pan, O Principe e o mendigo, e chegam a se misturar com as teses de a pouco, tento explicar a mim mesmo este turbilhão de ondas que misturam letras, mas o menino grita mais alto e se deixa levar pelos passos que já não vão na direção da razão.
Paro em frente a Matriz de São Benedito das quermesses do Padre Joaquim, o Castanheira da mesa de som, os recados apaixonados, levar a mocinha para casa, beijar no portão, latidos ao longe. Volto a andar, a cidade cresceu um pouco. A fabrica de botas do Seo Cícero, o primeiro emprego, carteira registrada aos 13 anos, exportava até pro canadá, eu escrevia no verso do couro recadinhos em português para Canadense ler... Infância mista de homem precoce, velhice mista de velho que inisiste não apagar o menino.
O dia nascendo vem saudado por sinfonia de pardais, há um brilho no alvorecer dos meus olhos, paro em fente à casa de meu pai, minha mãe não estará lá, descansa o sono dos sofredores terrestres. Aperto a campainha, um senhor grisalho aparece com rosto marcado, esboça um sorriso e me abraça, o homem duro que me fez crescer, agora chora, eu ainda nào tinha presenciado lágrimas suas, um dia eu quis sua emoção, hoje eu preferia seu olhar exigente sem rugas na alma molhada.
Falta a alegria do café barulhento nos dias de verão que uma vóz materna cantava enquanto brincava de ser menina nos sonhos de minha infancia, falta o sorriso escancarado da avó paterna ao ver o meu medo das estórias de lobsomem.
Revejo no horizonte ainda o revoar do casal joão-de-barro que cantava nas tardes de banho de torneira, os eucalíptos desordenados perfumando lembranças de meio século, o ribeirão dos mergulhos ao fundo do mar, dos lambaris saracutiantes na linha com anzol na companhia de meu pai, o café com bolo, sinfonia de sapos, chuvas torrenciais, papeizinhos soltos ao vento, recados de esperança que certamente eu encontraria no futuro hoje.


Luiz antonio Barbosa.
luigi_zanella@ig.com.br
16/06/06
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