Odiava o Schumacher. Eu, o Galvão Bueno e o resto do Brasil. E não é que, já faz algum tempo, o piloto alemão conseguiu formar uma torcida empolgada aqui abaixo dos trópicos? Até mesmo o Galvão já o chama carinhosamente de "Schumi". Intimidade assim só para quem gosta muito. Um pouco desse comportamento se deve ao reconhecimento tardio de que o cara é um senhor piloto. Técnico, arrojado, metido a besta e dono de uma dicção horrível, como todo grande corredor. Outro tanto se deve ao fato de o Rubinho ter ido para a Ferrari se tornar o coadjuvante das conquistas do Schumi (xi, até eu!...). Ou seja, a transferência de equipe do Barrichelo fez com o que o brasileiro virasse a casaca. Isso só não é tolerado quando o assunto é futebol.
A decisão de torcer por um time ou outro é influenciada basicamente pela genética. A chance de um filho de flamenguista se tornar vascaíno é praticamente nula. Mas existem as exceções... Conheço um gremista fanático que entrou em depressão profunda só porque a filha vive vestida com a camisa do Inter pra cima e pra baixo, influenciada pelo tio. Mais uma vez a genética se faz presente! Agora, mudar de time depois dos vinte anos de idade, definitivamente não é algo comum. Estou com 35 anos e resolvi debandar para o outro lado. Sim. Justamente para o clube arquiinimigo. Tornei-me um palmeirense ferrenho. Daqueles que brigam nos botequins, que vão aos estádios e sabem de cor todos os hinos de guerra cantados no Pacaembú, Morumbi ou qualquer outro estádio do planeta. Cansei de ver o Corinthians ser desclassificado da Libertadores nos pênaltis. E justo contra quem? Esse negócio de ser um eterno perdedor, porém fiel, não combina muito com meu gênio. Prostitui-me, sim. Mas prefiro fazer parte da alegria dos vencedores do que das lamúrias de quem perde. E sei que tem um montão de pessoas querendo fazer o mesmo. Só não têm coragem.
Hoje estou aqui no Parque Antártica, gritando "Verdão, ê, ó; Verdão, ê, ó!" Tenho certeza de que, nos dez minutos restantes do segundo tempo, um gol salvador surgirá do Além e nos levará Ã conquista de mais um campeonato. Só que a partida está meio apertada... De vez em quando sinto aquela sensação assustadora de o estómago revirar, como nos velhos tempos em que era corintiano. E o tempo passando... O juiz prometeu três minutos de acréscimos e o placar já marca 47 minutos. Não, meu Deus! Roubaram uma bola na intermediária... Esticaram para o ponta... O centroavante...
- Acorda, acorda, Divino! - gritou minha mulher.
- O que foi?
- Sei lá! Você tá aí gritando, feliz, que o Porco se f...