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Contos-->Psicografia -- 20/06/2006 - 21:21 (Marcilon Fonseca de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A porta se abre e dois homens entram gritando impropérios ás poltronas vazias, que desentendidas da aberração, ou talvez “berração”, a sua volta, permanecem no seu estado de inércia absoluta.
O ar pesado, que respiram os dois homens, se torna mais pesado. O sono bate à porta e, autorizado, invade as salas, os quartos e tudo que se pode desvendar, Os seres viventes, tomados de assalto, todos caem adormecidos. As horas parecem Ter parado. O tempo toma consciência de sua eterna escravidão e tenta se libertar. O caos está formado!
Nesse clima, chovendo lá fora é que entro na estória, correndo para não mais me molhar, pela porta escancarada da casa isolada e mal habitada. Tropeço, logo na entrada, em um cão enorme. Quando me viro, e vejo a fera, penso logo no fim, que poderia estar próximo; mas o animal mantinha a sua fisionomia feroz, como se fosse uma máscara mortuária; parecia estar morta ,mas parecia estar vivo. Não me preocupei. Bati palmas à procura dos donos da pequena mansão; o som ecoou por vários minutos, como se não houvesse ali móvel algum, ou mesmo, estivessem a uma distância muito maior do que a divulgada por minha torpe visão. Dirigi-me, então, à poltrona que estava próxima a minha frente. Caminhei em sua direção, horas seguidas, e nunca conseguia alcançá-la. O pânico foi tomando conta da única entidade sóbria e viva ali existente: eu. Comecei a correr como um louco, teria quebrado todos os recordes em uma olimpíada, mas tudo permanecia a mesma distância a minha frente. Outra vez me viro, mas agora o enorme cão estava tão pequeno e tão distante, que o desespero foi aumentando…Voltei voando para alcançar o, agora, filhote adormecido. Parecia um pesadelo, mas ao me beliscar a dor existiu. O cachorrinho se mantinha longe. Tentei adormecer, mas foi em vão, pois nem o chão eu conseguia alcançar. De alguma forma, outra dimensão estava zombando de mim. Estava agora em uma casa sem chão ou espaço, e com o tempo se rebelando com a situação, absurda do não regresso. Eu estava morto, pensei eu; deve ser assim o inferno. Chorei amargamente!
Passei muito tempo ali parado, pensando, tentando acordar daquele sonho maldito. Resolvi gritar em busca de auxílio externo, ou de onde quer que viesse, mas o espaço também estava louco, o som não sabia de onde sair ou mesmo para onde ir. Eu estava isolado em um limbo, ou em um sonho alheio. “E! Talvez seja isso. Agora basta acordar esse alguém”, pensei eu. Mas quem era e, como chamá-lo se eu podia falar ou chamar quem quer que seja.
Agora, vinha de algum lugar o som de palmas; pensei que estava salvo. Mas prestando atenção na cadência, vi que eram minhas próprias palmas, as da minha entrada. Outra luz se abriu, os meus gemidos de socorro poderiam aparecer a qualquer instante, ou em muitos séculos. Não importava muito, para mim o tempo não fazia muita diferença. Eu parecia estar ali há muitos anos e ao mesmo tempo, parecia que acabara de entrar.
O cão havia sumido. Agora eu estava só, e sem entender a louca viagem na qual entrara. As paredes começaram a sumir; os móveis há muito já haviam se dissolvido. Eu estava completamente só em lugar algum.
O novo cenário que se desenhou não tinha traços, era apenas a tela borrada tentando chegar a algum forma, mas o artista parecia neófito no assunto.
De repente, alguns grunhidos compareceram à minha presença. Eram três gritos distintos, cada um se anunciava a seu tempo. Juntando as três entidades, resolvi que eram: Socorro, Me ajudem. A princípio se posicionaram de tal forma que eu consegui entendê-las como mensagens, mas aos poucos foram se modificando as suas posições, os seus volumes, a entonação e o timbre; e mais ainda, cada entidade começou a “anagramar-se”, formando palavras desconhecidas e sem significado e, num último estágio, se tornaram uma só entidade, mas eu não conseguia mais vê-la, apenas um grande ruído com aparência de eterna despedida era reconhecido pelos meus sentidos, que já se confundiam. E tudo se tornou calmo e tenebroso novamente.
Enquanto ouvia a minha própria voz transfigurada, vi o mundo real, e vi, também, dois homens em profundo sono, bem á minha frente. Eu deveria estar dentro dos sonhos daqueles dois imbecis.
Muitos anos depois, após a minha morte, descobri que aqueles dois homens haviam morrido de uma dose excessiva de heroína.
O episódio de minha morte se deu antes do meu nascimento. Foi pouco depois d’eu conseguir sair da prisão da prisão psicodélica em que me encontrava:
“Aconteceu de aparecer novamente a pequena mansão, com o cão feroz adormecido na porta. Resolvi, então, sair o mais rápido possível daquele lugar horrendo. Encontrei lá for a uma escuridão que até então não conhecia; andei por muito tempo na direção oposta à casa, até que uma luz noturna se apresentou lá ao longe. Corri desesperadamente em busca da vida que prometia me aguardar do outro lado.
Chorei como criança ao pisar do lado de for a da enorme caverna, não era a emoção de estar livre, mas a tristeza da certeza de estar eternamente preso.
Eu chegara de alguma forma a um passado longínquo. Aqueles homens primitivos me assustavam. Não sabia, eu, se seria venerado como um deus, se seria oferenda a um dos seus, ou mesmo me tornaria a sua próxima refeição.”

Copyright by Manada
data ignorada, mas deve ser em torno de 1985
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