Soneto XXV
Tere Penhabe
Perdão Bocage... se clara fosse a cova
seria festa, não seria um funeral
de ultrajado se cobre o céu agora
que vil tormento se tornou coisa banal.
Sem justa causa, acusa em vão a tua musa
que ela, por certo teve o merecimento
se a tua sorte do destino foi reclusa
que culpa a pobre tem do teu tormento?
É mal que enleio, sem ratear o meu lamento
e sorvo aos goles para não me sufocar
mas não tento à mocidade retornar...
Aretina não fui... oh céus, de certeza!
Não partilhei, sequer um dia, tua acuidade
e desde sempre, é minha crença, a eternidade!
Santos, 09.04.2007
www.amoremversoeprosa.com
OBS: inspirado no "Soneto ditado na agonia", de Manuel Bocage, que me foi enviado pelo amigo Jorge Alberto R.M. Pinto, a quem agradeço o carinho.
Soneto Ditado na Agonia
Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.;
Conheço agora já quão vã figura,
Em prosa e verso fez meu louco intento:
Musa!... Tivera algum merecimento
Se um raio da razão seguisse pura.
Eu me arrependo.; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:
Outro Aretino fui... a santidade
Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!.
Manuel Bocage
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