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cronicas-->índio não quer apito -- 13/06/2004 - 22:38 (Vera Ione Molina) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
As pessoas que necessitam de um trabalho intelectual, têm uma tendência a pensar que o trabalhador, seja ele tradutor, revisor, orientador de qualquer tipo de produção textual, de artes plásticas, ou musicais nasceu com um dom que deve ser repassado gratuitamente ao cliente, independente de sua situação financeira.
É comum pessoas telefonarem para nós, professores, tradutores, revisores para o que elas chamam de "ajudar" a fazer um currículo ou carta de apresentação, por exemplo. Mesmo estudantes que recebem bolsa de estudos para fazer mestrado ou doutorado, portanto são pagas para se prepararem para um trabalho intelectual, telefonam e perguntam se podemos ajudar a traduzir um resuminho de sua dissertação ou tese. Esse resumo é obrigatório e se chama "Abstract". Chegam às nossas casas, caderno e caneta na mão e nos perguntam se tal frase poderia ser traduzida assim ou assado e, dessa forma, vão até o fim do texto, quando verificamos que realizamos todo o trabalho.
Antes de eu ter me dedicado a essas funções profissionalmente, alguns amigos que haviam recebido meu auxílio, até me davam um presente: um perfume, uma caixa de bombons.
Eu tive uma amiga que coordenava oficinas literárias e, quando ia começar um novo grupo, chegava a minha casa com a conversa de que gostaria de fazer um trabalho diferente, quem sabe pensávamos juntas. Depois de duas horas mais ou menos, ela não só tinha o projeto pronto, totalmente idealizado por mim, como todos os livros de que necessitaria para executá-lo.
Essa concepção é subsidiada por uma visão religiosa de que temos um dom divino, se cobrarmos pelo serviço o perderemos. Também se relaciona com a predominància de mulheres a executar esse tipo de tarefa. "Ela deve ter outra fonte de renda, não vai querer cobrar um trabalho tão fácil de fazer".
Parece fácil agora, depois que passamos uma vida dedicados a ler, fazer cursos, escrever diariamente, tudo isso pagando mensalidades e comprando livros, tintas, pincéis e tudo quanto necessitamos para desenvolver trabalhos intelectuais e artísticos.
Felizmente essa concepção está mudando, meus últimos clientes me enviaram e-mail encomendando o trabalho de tradução e revisão respectivamente e, na mesma mensagem, solicitaram o número de minha conta bancária. Eu, uma cinquentona que em outros carnavais cantava:"Eh, eh, eh, eh, eh, índio quer apito, se não der, pau vai comer e aprendia na escola que se chegássemos a uma reserva indígena, para sermos bem recebidos, devíamos levar apitos, espelhos e outras bugigangas, faz pouco tempo que me dei conta de que até os índios agora exigem pagamento em espécie. Apito? Nem pensar, para quê? Eles usam até computadores.
Vera Ione Molina
Homepage: www.veramolina.com.br
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