Há muito, nossas fragilidades foram desveladas. Contudo, persisto na arte de subornar-lhe a ordem dos pensamentos. Deposito sobre seu braço, uma joaninha, pequenino ser a espreitar-nos do alto da folha da laranjeira.
Totalmente absorto, ele quase se deixa levar por meu intento. Contudo, não se deteve na figura graciosa já no dorso de sua mão.
O ritmo do andar pelo pomar, panorama do início de um amor prometido para a eternidade assemelha-se ao das palavras de um e de outro. As mais amargas, procedem de minha boca e despontam como flechas rumo ao seu coração. Por vezes, as pontas apresentavam-se camufladas com a essência do mel.
O diálogo que se alonga e não se adocica, acaba por perder o viço e a cor a cada novo passo.
Não há mais como iluminar nossas almas. É quase certo que se extraviem em meio à penumbra.
Raras são as ocasiões em que o sol resiste prontamente aos encantos do ocaso. O seu tempo se esgota. Seus derradeiros raios ainda reluzem sobre algumas laranjas e as transformam em bolas de ouro. Indescritível beleza acessível ao olhar que procura.
Antes de pousar seu rosto nos ombros da noite, vê enterrar-se ali a longevidade de um vínculo firmado há muitos anos sob a guarda do calor, seu filho mais poderoso.
Com peculiar generosidade, a mesma terra que se debruça sobre a dor sepultada, oferece o ventre para novas sementes.