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Contos-->POLTRONA VAZIA -- 16/07/2006 - 12:19 (Heleida Nobrega Metello) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
POLTRONA VAZIA



imagem:http://www.fotosearch.com.br/DGT083/42-16151731/





A poltrona continua lá, intacta, do jeito que você a deixou. Vazia assim, como eu
fiquei. Todos os dias...

Meu coração sentiu-se incapaz de abarcar a razão pela qual foi embora de forma furtiva e repentina. Todas as coisas aparentavam estar no lugar certo. Era como eu apreendia tudo, à luz da figura de mulher, mãe e ‘dona de casa’.

Nossos filhos, já crescidos, tinham iniciado o processo da desamarra dos laços. Faziam suas próprias escolhas. Tomavam seus próprios rumos. Logo, iríamos ficar apenas eu e você. Enfim, um novo e bom tempo para nós.

Não atino como pôde deixar tudo para trás por uma menina quase da idade de nossa filha. Aliás, a mesma de quando me casei. Era tão nova, tão apaixonada. Toda minha vida pautada sobre a sua e minha identidade se esvaindo de minhas mãos, de meu corpo, de minha alma...

Hoje, se me apresenta uma imagem mais precisa de nossa união. Tenho plena consciência. Mostrei-me absolutamente tola nesse ato de mesclar. Você exigiu e eu permiti. Foi exatamente o que aconteceu. Contudo, você teve o cuidado de se preservar. Permaneceu você. E ingenuamente, apesar de tudo, ainda cheguei a idealizar a possibilidade de um recomeço.

Você, não! Fez traços coloridos para a sua vida e deixou para mim um desenho cinzento: uma poltrona vazia.

Porque irrompe agora em minha porta: mal cuidado, camisa amassada, face cansada e carente. Quer voltar, é isso?

Não era dia, nem noite. Era exatamente a hora em que eu costumava dar uma volta para dentro de mim e que, por vezes, tinha até certo medo de me perder porque vinha logo o anoitecer. Era a hora que vinha aquela vontade louca de morder o cachorro, arranhar o gato, dar coice no cavalo, pular da escada, gritar bem alto, estilhaçar vidraças, assustar vizinhos. Só não chutar pedras. Isso não! Poderia aumentar ainda mais esse tempo de estacionamento. E finalmente, quando a noite substituía esse lusco-fusco, o cintilar das estrelas liberava o impulso para que eu seguisse em frente, sem risco de perder o endereço que eu agora tinha nas mãos.

E nessa hora, ele chega. Chega assim, com o rosto descorado, longínquo tanto da luz do sol, quanto do brilho da lua.

Ah! Agora você vem, bate à minha porta e coloca o fato de maneira tão simplória, como se uma pedra caída no chão pudesse voltar para as minhas mãos, como que por milagre.

Você não se lembra? Fui humilhada, reduzida a uma insignificância qualquer. Dolente, por meses, permaneci mergulhada em profunda escuridão. Essa imagem, embora distante, ainda me desperta sentimentos dolorosos.

Precisei recomeçar: novos passos, novo olhar, nova escuta, novas emoções, uma vez que, por imensuráveis anos de minha existência, havia me amoldado aos seus sentidos.

Hoje, depois de penosa caminhada, sinto-me acompanhando os doces passos da valsa da vida. Hoje, vejo a vida através dos meus olhos. Nunca mais através do seu modo de olhar, de escutar, de sentir. Despertei das trevas, no exato momento do resgate de minha essência. Voltei para mim mesma.

Pensou que fosse eu a lhe atender?

Não, não era mais eu. Além do que, aquela poltrona não está mais disponível.




Heleida, 2005
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