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Contos-->O doutor água -- 17/07/2006 - 15:02 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O doutor Água


Fernando Zocca


Quando Van Grogue estava confuso ele não discernia a diferença que pudesse existir entre, por exemplo, water e Walter. Para ele era tudo a mesma coisa.
Por isso quem o conhecia achava que ele não poderia nunca ocupar posições que envolvessem responsabilidade e nem poderia decidir sobre o destino das pessoas. Os danos seriam imensos.
Mas algumas sacadas dele eram geniais. Por exemplo: à similaridade das manchas de tinta usadas nos testes de Rorschach, ele achava que o crepitar da lenha numa fogueira poderia induzir evocações do material latente no sujeito.
Quando ele contou aquilo tudo ali no bar da tia Lucy Nada, na manhã de domingo, antes de o Zinedine Zidane igual a um bode velho, derrubar o 23 italiano Matterazzi, ouviu a reação do doutor Bruce Lose que lhe respondeu: "Ora Van, isso todo mundo sabe. Ou será que você nunca viu alguém desejando escutar as cascatas, ou até mesmo as águas que rolam dos chuveiros?"
Naquele dia o pobre Grogue sentiu-se frustrado. Ele pensava contar uma tremenda novidade e lá estava aquele chato pra lhe estragar o frisson.
Então o doutor Bruce Lose continuou: "Em 74 quando ainda existia a estrada de ferro que cortava Tupinambicas das Linhas, havia um foguista que dizia ouvir do fogo os conselhos usados para solucionar seus problemas". Nesse momento, naquela manhã, todos se calaram ali no boteco e atentos absorviam as palavras do Lose. Ele que não era bobo nem nada, percebendo o monopólio da atenção, o pico de audiência, aproveitou o embalo e mandou a dona do boteco abrir (a fiado) mais uma cerveja. Então continuou cheio de moral: "Ora, havia um moleque danado que andava querendo folgar com a filha do fogueiro. E o que fez o pai dela então para solucionar o problema? Ele numa viagem para São Tupinambos, alimentando a fornalha da balduína 0886 pôs-se a ouvir o que lhe dizia o crepitar da lenha. E a mensagem recebida informava que ele deveria fazer simpatias para que o menino não bebesse mais água".
Grogue emborcou seu copo d água-de-setembro e com um olhar vívido demonstrou, ao interlocutor, mais interesse pelo assunto. Então o doutor Bruce continuou: "Mas o que faria o foguista para causar a hidrofobia no folgado? Foi então que o fornalheiro procurou a seita maligna do pavão-louco. Daí pra frente começaram a associar água com outros estímulos aversivos."
Quando o assunto da bolinação se espalhou muitos se solidarizaram com o fogueiro, inclusive alguns políticos. Em Tupinambicas das Linhas, por volta de 74, a vereadora D. Tinha Pénellas era tão influente, mas tão influente que conseguia até, por trafico de influência - troca de favores no serviço público - escolher o número da identidade de qualquer cidadão postulante. E ela meus amigos, minhas amigas e senhoras donas de casa, fazia parte da diretoria da seita maligna do pavão-abilolado. Essa vereadora engrossou as fileiras daqueles que desejavam esculachar o bolinador. Escolheu o número do veado (do jogo do bicho) para ornar a identidade do moço, quando ele a solicitou na delegacia de polícia.
Mas o pior não foi isso. O pior foi o que fez o prefeito Jarbas o testudo. Após alguns anos, inspirado pelo assunto, ele solicitou a um grupo de amigos que criassem uma empresa de engarrafamento de água mineral. Depois que o negócio iniciou as atividades, o alcaide de tempos em tempos mandava um grupo de funcionários ou lavar ou consertar os reservatórios públicos. A população diante da escassez do produto ou do gosto ruim, consumia a vendida pela empresa dos amigos do prefeito.
O negócio funcionou tão bem que em Tupinambicas das Linhas existe até hoje um museu da água. Para os íntimos um museu "do water".
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