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Humor-->O MINEIRINHO III: RECONTANDO STANISLAW -- 05/05/2000 - 19:43 (Mario Galvão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Esta estória de mineirinho foi contada originalmente pelo imortal Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, publicada na Última Hora, mas vale a pena recontá-la, até porque o original deve estar perdido nesses arquivos de jornais por aí.
É mais ou menos assim:
O mineirinho Antônio Bento tinha se estabelecido naquela vila há pouco tempo, mas, com muito trabalho e esforço, rapidamente, começou a enricar.
Chegara numa mula meio desengonçada e já estava indo para a vila numa vistosa égua baia, de arreio de primeira. Armazém, já pagava à vista e os meninos chegavam na missa dos domingos com roupa nova e sapatos de verniz.
O vigário ficou atento.
No advento da festa do Padroeiro, foi, lampeiro, visitar o sítio do Bentinho.
Chegou como não quer querendo, se aboletando tão logo convidado para o cafezinho na caneca de ágate, acompanhado de bolinhos de trigo, fritos na hor na banha fervente da frigideira negra.
E puxou prosa, o Toninho meio que desconfiado, encolhido na cadeira, naquele jeito típico de mineiro, enquanto os meninos rodeavam a Mariquinha, a servir o café, puxando-lhe a saia por todos os lados, intimidados com a imponência da visita, a batina negra do vigário fazendo prega no chão:
"--Muito bem, Seu Antonio. Que Beleza! O seu sítio está um encanto. Olha que pus reparo, quando entrei, no milharal. Que maravilha, tudo granado. Uma beleza."
Toninho, aí, puxado pelo seu orgulho de caboclo trabalhador, não desmereceu o elogio do Padre:
Escancarou um sorriso, olhos brilhando:
"--Èééé...seu Padre. Tá bão demais. Ói que este ano nós vai coiê ali, eu, a muié e os bacuri, uns mais de cem cargueiro de milho..Tá bão demais, seu Padre."
Mas, não é que o vigário, aproveitando a deixa, admoestou:
"--Meu filho, só que você esqueceu-se de uma coisa, ao manifestar sua alegria pela colheita farta que virá. Esqueceu-se de agradecer ao Ser Supremo, ao Criador de todas as coisas. Num momento desse não se esqueça nunca de dizer...Graças a Deus! Graças a Deus, meu filho!"
Toninho embatucou, os olhos cairam e os dedos começaram a virar, como se fosse um disco, o chapéu de palha espremido entre as pernas.
Mas, o vigário, enquanto sorvia o café e triturava os bolinhos de chuva, não se fez de rogado e continuou:
"-- E Seu Toninho, que beleza o gadinho seu, meu rapaz. As vaquinhas com os ubres cheios, os bezerros gordinhos, tudo muito bem tratado...você está de parabéns, meu rapaz, de parabéns..."
Toninho não se arriscou, ficou calado, mudinho da silva, não fosse ele mineiro da gema, prá pegá o bonde errado pela segunda vez.
Pois foi a mulher, a Emerenciana, que, incauta, desta vez se entusiasmou, ao servir mais uma cesta de bolinhos à mesa coberta com uma toalha de renda, no capricho, em homenagem ao representante de Deus:
"Ah, seu Padre, é verdade. As criação tá que tá umas beleza. Ói que nóis, tem dia, que já tá bateno mais de 60 litros, um latão cheio e um quarto, no caminhão de leite, afora os garrote que, lá pro fim do ano já vai dá pro matadouro."
O Padre não perdeu a oportunidade e de dedo levantado, pontificou:
"--Minha filha, a senhora também esqueceu-se do muito obrigado ao Pai, ao Senhor que está nos Céus. A gente não deve nunca deixar de dizer, numa hora dessas, Graças a Deus!!! Graças a Deus!!! Não é mesmo, Seu Toninho?"
O Toninho não gostara da repreensão e muito menos da mulher ser chamada à atenção diante dos filhos. Mas não podia fazer desfeita pro vigário, embora já tivesse certeza, malandro que era, da intenção do pastor daquelas ovelhas, disposto a não sair dali sem arrancar um bom patrocínio para o leilão de gado da festa do Padroeiro.
E lascou esta preciosidade, mesmo com o olhar meio baixo, e torcendo mais ainda a aba do chapéuzinho de palha:
"É mermo, Seu vigário, É Mermo. O sinhor tem toda razão, Graças a Deus!!! Graças a Deus!!! Mais, seu Vigário, agora, prá falá mermo a verdade verdadera... (os olhos agora olhavam bem matreiros, os do representante de Jesus Cristo).. Quando Deus trabaiáva sozinho neste grotão, sabe que isso aqui era que só um matão danado!?!"

Mário Galvão é jornalista e profissinal de RP






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