A Jorge, filho de Oxossi
São muitas as Áfricas. São tantas que não cabem num tabuleiro só. Acarajé de dia, abará de noite, cocadas de toda hora, vinho de dendê, fios-de-contas, anéis, correntões e pulseiras, um fogareiro e um banquinho, cuscuzeiros, temperos e fornos, vatapá da esquina, dê-cá-o-molho-de-pimenta, panos-da-Costa, balainhos de frete levando a palavra cantada, uma reza, os oriki, hálito de pimenta-da-Costa, o som do axé, vida de nação, peço licença ao tempo, o senhor da gameleira, para entrar neste terreiro, oupué-meti-rié, lanças, machados e zabumbas, mesa dos Ogãs, cardápio dos deuses, atabaques, agogôs e cabaças. Babás, dias de saída da panela, mães-pássaro, mar de saveiros, balaios de fuxicos, dias de agradar a sereia entregando o barquinho, povo Nagô, povo Jeje, povo Angola, ebós para a paz, Yabá do fogo e dos ventos espanando do ar o bem e o mal, som de braceletes e abebês se confundindo com afoxés, mães-d água me protejam dessa penca de maus-olhados, samba de roda, umbigada, o samba da Cachoeira, terra da cobra, mesa farta.
Tudo isto é África, a minha Mãe. Quando piso em teu solo com minhas sandálias de pele de pantera, a bênção de teus deuses faz bulir as contas em meu peito e espantar para longe qualquer catimbó e pensamento ruim, e o vento assobia nas distâncias o canto da minha linha.
Com todo o axé, de uma filha de Xangô |