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Artigos-->Diques sejam construídos! -- 12/03/2001 - 04:34 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Vai fazer mais calor? Vai aumentar o nível do mar? O que fazer?

Uma entrevista com o pesquisador Guy Brasseur, de Hamburgo, a respeito do mais recente relatório sobre o clima mundial, que acaba de vir a lume:



Hans Schuh & Andreas Sentker (DIE ZEIT online, 11/03/2001)

Trad.: zé pedro antunes



Na segunda-feira da semana que passou, o IPCC, que reúne um grupo de experts internacionais, deu a público a terceira parte do seu relatório atual sobre o clima. Enquanto, na primeira parte, é esboçada a alteração climática e, na segunda, se descrevem as suas conseqüências, a atual publicação se ocupa com as opções de ações políticas e econômicas. As sugestões dos especialistas não são novas: poupar energia, fomentar formas alternativas de energia. As técnicas estão aí. Na visão do IPCC, elas se tornaram nesse meio tempo, em muitos casos, também sensatas do ponto de vista econômico. Mas existem ainda barreiras políticas a serem colocadas de lado ...



DIE ZEIT: Agora o terceiro relatório do IPCC sobre a alteração climática global se acha quase que inteiramente à disposição do público. Comparado ao primeiro relatório, de 1990, pouca coisa mudou: O nível do mar se eleva em um metro em no máximo cem anos, a temperatura média global de um a seis graus. Politicamente também pouca coisa mudou de lugar. Muito barulho por nada?



GUY BRASSEUR: Não, num primeiro plano, pode parecer assim. Com efeito, o que houve de movimento foi uma enormidade, na ciência como na política. Antes, todos olhavam predominantemente para o aumento, no mundo inteiro, da emissão dos gases (dióxido de carbono) que provocam o efeito estufa, tendo havido, principalmente em Kyoto, negociações a respeito do CO2. Mas logo se percebeu que também outros gases como o metano, portanto o gás natural ou o gás biológico, os Stickoxide ou os Fluorchlorkohlenwasserstoffe (FCKW), destruidores da camada de ozônio, desempenham importantes papéis na estufa. Mesmo o ozônio, que nas camadas inferiores da atmosfera diminuiu drasticamente, concorre de maneira sensível para o aquecimento.



ZEIT: Mas foram encontrados também fatores associados ao resfriamento, em processo de aumento.



BRASSEUR: Exato, os aerossóis por exemplo, gotículas de névoa finamente distribuídas, que provêm sobretudo da combustão de carvão. Eles desviam a luz do sol, lançando-a de volta espaço e provocam um resfriamento em escala regional, que é aproximadamente dez vezes mais forte do que o efeito estufa provocado pelo dióxido de carbono. Significativos ainda, do ponto de vista regional, são a fuligem ou a poeira. Aerossóis, fuligem e poeira propiciam, além disso, a formação de nuvens. As nuvens, por sua vez, respectivamente de acordo com a densidade e com a altura em que se originam, produzem efeitos contraditórios. Nuvens brancas resfriam, nuvens escuras, ao contrário, aquecem. No conjunto, o clima se mostra muito mais complexo do que se supunha. Se, no momento, configurarmos uma somatória de todos os fatores de aquecimento e de resfriamento, ao final resultará uma cifra positiva, plus/minus uma cifra maior para os possíveis campos de erro em nossos cálculos.



ZEIT: Esta insegurança se acha em agudo contraste em relação à mensagem dirigidas por pesquisadores à opinião pública, de que ninguém pode mais ter dúvidas sobre o efeito estufa e suas devastadoras conseqüências.



BRASSEUR: O IPCC nunca se calou a respeito das grandes incertezas. O importante é que a configuração climática mais complexa se faça acompanhar de modelos climáticos claramente melhorados. Hoje, em relação aos cem anos passados ou mais, podemos entender muito bem por que as temperaturas se desenvolveram da forma como o fizeram.



ZEIT: Com a experiência em crescimento, no computador se pode simular quase tudo.



BRASSEUR: Apesar disso, cresce a nossa confiança nos modelos climáticos. No entanto, é verdade que os prognósticos do IPCC acerca da temperatura praticamente não mudaram nos últimos dez anos. Já há cerca de cem anos, o sueco Svante Arrhenius calculou que a terra se aqueceria em aproximadamente cinco graus.



ZEIT: Para que, então, todos os alertas sobre o clima?



BRASSEUR: Porque, nesse meio tempo, ficamos sabendo que a terra, em termos de complicação, se assemelha ao nosso corpo. Ambos são sistemas não-lineares, reacionários, com efeitos à distância e sensíveis pontos de compressão. Também a temperatura do nosso corpo, graças a uma regulagem dispendiosa, permanece o mais das vezes estável. Mas aí vem um infecção, e pronto, a febre aumenta rapidamente.



ZEIT: Como o senhor transpõe a medicina para a pesquisa climática?

BRASSEUR: Por perfurações na calota de gelo dos pólos ou por sedimentos marinhos, sabemos que o nosso clima, nos últimos 400 000 anos, foi bastante estável. Mas, nesse ínterim, nos períodos glaciais e nos períodos entre os períodos glaciais, chegou-se recorrentemente a saltos enérgicos de temperatura. É provável que o elemento desencadeador tenha sido uma mudança relativamente pequena da irradiação solar. Menos sol significa mais frio. As superfícies geladas cresceram. Estas refletem cada vez mais luz solar, fica mais frio ainda. A temperatura fria da água do mar absorve o dióxido de carbono do ar, a produção de metano a partir da biomassa diminui. Fica mais frio ainda, o resfriamento fica cada vez mais forte.



ZEIT: Certos pesquisadores alertam para o fato de que nos encontraríamos no fim de um período de calor de duração pouco comum, de que existe a ameaça de uma nova era glacial. Seria possível contê-la com gases que provocam o efeito estufa.

BRASSEUR: Eu considero irresponsáveis tais experimentos climáticos. Nós não sabemos com exatidão como surgem os períodos glaciais. É grande demais o risco que se venham a intensificar ou desencadear catástrofes. De repente, a corrente do golfo se transfere para a direção da Groelândia, a Europa esfria.



ZEIT: A transferência da corrente do golfo sempre foi exorcizada. Mas, aqui no Instituto Max Planck, cálculos mostram que, nos próximos cem anos, pouca coisa vai mudar.



BRASSEUR: Tomara. Com certeza, sabemos apenas que estamos mudando a economia da irradiação da terra de forma semelhante à mudança sofrida pela irradiação solar nas transições entre os períodos glaciais e os períodos quentes. Ainda não sabemos quais reações em cadeia estamos desencadeando com isso.



ZEIT: Como poderia ser a reação?



BRASSEUR: O IPCC alerta para alterações das precipitações atmosféricas, por exemplo do monção. Nos trópicos, poderia haver mais furacões.



ZEIT: No norte, são esperadas, de longe, as maiores mudanças de temperatura. É certo que os países pobres do sul serão os mais fortemente atingidos pelas conseqüências negativas?



BRASSEUR: Com um grau a mais, aqui em Hamburgo, eu poderia viver bem. Mas as mudanças de temperatura não são o mais importante. Muita coisa fala em favor de uma elevação do nível do mar e do aumento dos furacões. Isto pode ser devastador para Bangladesch ou para a Índia. Com as nossas emissões, nós interferimos no clima e, com isso, arriscamos desencadear dramáticos efeitos a longo prazo. Dez mil vítimas de um furacão, é quase como o lançamento de uma bomba atômica. É inaceitável seguirmos fazendo como até aqui.





ZEIT: Todas as tentativas de cercear as emissões do dióxido de carbono em escala mundial fracassaram, no entanto, politicamente.



BRASSEUR: É particularmente frustrante que as pessoas absolutamente não se entristeçam com o fracasso do protocolo de Kyoto. Praticamente, ele não teria levado a nada. Mesmo com a decisão unânime de congelar as emissões de CO2 no nível atual, a alteração climática terá prosseguido. Se quiséssemos, na verdade, manter o teor de CO2 no ar que temos agora, seria preciso baixar radicalmente as emissões, a cerca de 90 por cento. Isso é impossível.



ZEIT: O que fazer?



BRASSEUR: Precisamos de uma estratégia multifacetada. Primeiro, baixar as emissões. Segundo, deveríamos nos equipar para os crescentes danos climáticos. Erigir diques ou passar a construir com maior segurança em relação a tempestades, ainda que nem todo indiano possa erguer uma sólida casa de pedra. Terceiro: são necessárias mudanças culturais, por exemplo, com relação à combustão indiscriminada de biomassa, tal como ela hoje se dissemina pela Ásia. Quarto: precisamos de fontes alternativas de energia e novas técnicas como células combustíveis e células solares. Quinto: a pesquisa deveria ser intensificada.



ZEIT: O novo governo americano dificilmente irá ratificar o protocolo de Kyoto.



BRASSEUR: A longo prazo, eu não sou absolutamente pessimista. O pai de George Bush apoiou-se na pesquisa, assim não precisou agir em termos de política para o meio-ambiente. Também a atual administração deveria fortalecer a pesquisa. O protocolo de Kyoto se baseava, principalmente, na ciência européia. Seria bom que o próximo relatório do IPCC fosse muito fortemente marcado pelos americanos. Aumentaria, então, a pressão sobre a política dos USA. E ela compreendeu, nesse meio tempo, que, nas pesquisa climática, também tecnicamente ela acabou ficando para trás.



ZEIT: O senhor está pensando no desenvolvimento de supercomputadores para o cálculo dos modelos climáticos?



BRASSEUR: Exatamente. Os americanos perderam a sua posição de ponta. No momento, os japoneses constróem em Yokohama um "simulador da terra", uma aparelhagem do tamanho de um campo de futebol, pela quantia de meio bilhão de dólares, que é aproximadamente 100 vezes mais eficiente do que as nossas máquinas na Europa.



ZEIT: A Europa não possui nada comparável?



BRASSEUR: Não, e nós precisaríamos urgentemente de máquinas como essa, também para melhorar os nossos prognósticos sobre a temperatura.



ZEIT: O senhor aposta, então, que o progresso científico haverá de chamar os americanos, algum dia, de volta à razão?



BRASSEUR: Não apenas o desenvolvimento científico. Na Europa e em muitos outros países, os políticos e a opinião pública progressivamente passam a aceitar que o clima muda e que o homem tem sua parte nesse processo. A mudança de consciência nos últimos dez anos foi enorme. E se eu tomar os paralelos no combate à destruição da camada de ozônio no protocolo de Montreal, então eu fico otimista, pensando que também a indústria haverá de colaborar, assim que ela farejar um bom negócio. Na época, os americanos se achavam à frente, e os europeus no freio, sobretudo os britânicos. Quando a indústria compreendeu que se pode ganhar dinheiro com materiais substitutivos ao FCKW, muito de repente as coisas passaram a avançar.



ZEIT: Onde estão os paralelos com a política em relação ao clima?



BRASSEUR: As grandes firmas automobilísticas vêem que é possível ganhar suntuosamente com modelos econômicos. Quase todas as grandes firmas desenvolvem células combustíveis. A Shell tomou como bandeira a construção de células solares, a BP interpreta, recentemente, o nome da firma como "Beyond Petroleum", além do petróleo. Se houver uma conjunção de pressões científicas, políticas e econômicas, então pode haver muito rapidamente uma reviravolta. É no sentido dessa mudança que nós devemos seguir trabalhando.



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