Dia desses caiu de pára-quedas no computador da minha irmã um joguinho chamado Sims. Conhecem, já ouviram falar? Trata-se de uma simulação da nossa vida, cuja idéia é mais ou menos semelhante à dos esquecidos Tamagotchis (aqueles bichinhos virtuais que o dono tinha que alimentar, entreter, senão morriam). Mas aqui o simulacro vai mais longe, é como se o jogador pudesse brincar de Deus e controlar a vida de um protótipo de ser humano 24 horas por dia, como se fosse a dele próprio. Começa com a escolha dos personagens, onde cada um formula o que julgar melhor: homem, mulher, preto, branco, mulher, criança, loiro, moreno, punk, comportado, esportista, daí em diante. Vale lembrar que a escolha do signo zodiacal é muito importante, quase fundamental. Depois, escolhe-se a casa em que os Sims morarão (sim, há toda uma `cidade´, com vizinhos, jornaleiro, serviços em geral) e construirão a sua feliz família.
É claro que não resisti e montei a minha família, os Montana. Escrachei nas personalidades. Ela, Monika, leonina, era baixista de uma banda e totalmente anti-social. Ele, Joe, o namorado, era um jornalista boêmio, pisciano. Ou seja, justamente o contrário do protótipo esperado. Tadinhos, com o passar do tempo descobri uma coisa sobre esse jogo: as características que o tornam mais próximo do `humano´ são justamente as nossas piores: ao invés de sentirem tesão, saírem, e outras coisas divertidas, eles herdaram a depressão, a chatice (algumas vezes beirando o insuportável), além das limitações físicas que à s vezes (especialmente aqui) incomodam. Um Sim que se preze sente fome o tempo todo, depois que ela está devidamente saciada tem que lavar toda a louça que sujou, o que gera um ciclo vicioso, porque logo, logo seus índices de higiene estão no vermelho e ele precisa tomar um banho. Só que aí, ele não está se divertindo e precisa ver TV. Mas como outra característica do Sim é ser chato, ele reclama da decoração da casa, fica deprimido e chora, ou faz xixi no meio da sala em protesto, e, em consequência da sua depressão, não consegue nem arrumar emprego. Ufa!
Além disso, eles são um desastre no que diz respeito aos relacionamentos. Muito de vez em quando rola um abraço ou um beijo, mas nunca consegui com que eles dormissem juntos. Num dia mais inspirado, surgiu na tela a pergunta: "Vocês não acham que está na hora de ter um filho?". Sim, eu respondo, algo diferente! Aí, ao invés de transarem, aparece umas florzinhas e logo após a nova mãe está segurando um bebê chorão no colo (que logo foi recolhido pela assistente social, devido ao fraco instinto maternal da minha Sim). E tem mais moralismo por aí: na hora de tomar banho, é claro que eles teriam que ficar nus. Até ficam, mas com aqueles quadradinhos de censura em volta do corpo, coisa que me render mais de dez minutos de gargalhada.
Sei que isso vai fazer muita gente torcer o nariz, mas a felicidade de um Sim depende de três fatores, basicamente: socialização, trabalho e objetos (pra que eles possam ter mais conforto em casa). O resto de complicações do jogo tem a ver com a personalidade que você escolher pros seus Sims. No meu caso, a mulher odeia junk food, não pode dormir com a TV ligada e é muito insegura em relação ao namorado (fica chorando só porque ele vai trabalhar!), e ele é o oposto: nunca dá muita bola pra ela, trabalha de madrugada e adora dar em cima da vizinha, além de botar fogo na cozinha cada vez que tenta cozinhar alguma coisa, totalmente demente. Na real, acho que não fui um bom Deus pra eles, ela acabou enlouquecendo com a minha mania de vestí-la com trajes de festa na hora de molhar o jardim e ele acabou endividado de tanto chamar pizza e bombeiros, além do pobre filhinho que eles perderam...
O melhor de tudo: se você construir uma família exemplar como a minha, pode expor as fotos no site oficial do game (www.thesims.com) e ver os álbuns dos outros. Alguns, bem bizarros. Tem até família de lésbicas, de monstros e de nudistas. Eu não tenho manha pra tudo isso. Aliás, minha encarnação virtual foi um desastre completo, como vocês puderam perceber. Pelo menos eu tentei, acho que não aconselho. É muita pentelhação sem resultado nenhum. Na real, mesmo, não somos nem um pouco superiores à s nossas criaturas, querendo o tempo todo que todos os índices de fome, satisfação, sono, conforto estejam sempre no nível verde. Falando nisso, meu nível de fome está dando a Segunda volta vermelha, I gotta go.
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