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Contos-->FACE DE LOUÇA -- 16/08/2006 - 20:53 (Heleida Nobrega Metello) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ainda trêmula pela sensação de perda, Renata perambula pelo jardim do casarão antes de afundar suas mãos na antiga arca da avó.

Retira uma boneca. Abraça-a contra o peito. A face de louça a encara como dantes, com os olhos de vidro ainda perfeitos. A mesma expressão. Incrível! Parece arrebatar além do que está sendo avistado.

Não! Não adianta se iludir. Trata-se de uma velha boneca. Sem sentimentos, sem emoção...

Um retrato: trapos de panos de seda em corpo tecido de estopa e face de louça. Nada mais do que isso.

Foi-se com o vento, aquele tempo...

Vez ou outra, o contraste costumava espelhar uma figura interessante.

Contudo, embora sempre tivesse manifestado o desejo de sentir-se superior, nunca havia conseguido.

Jamais havia sido melhor do que a outra vestida com a suave estampa de roça e olhos pintados sobre velha meia, recheada de algodão. Não mesmo!

Juju, como Renata costumava chamá-la, sempre havia sido a sua preferida.

Muitos anos e inúmeras diferenças deixaram profundas marcas na pele de cada uma delas.

Uma coexistência a transformar o bom e belo no ilusório, assim como o seu próprio destino.

Num pequeno átimo, um atoleiro de imagens acaba sendo rebocado em meio a vagões, trilhos, viagens...

Inúmeras bagagens começam a surgir entre partidas e chegadas. Principalmente, as recheadas de não ditos. Tão vazias quanto as que carregavam tudo que havia sido dito, contudo, nada escrito. Nem mesmo em meio ao lamaçal.

Renata cava mais fundo o velho baú. Nenhum cartão amarelado, nem palavras desbotadas. Apenas chinelos desgastados e roupas esfarrapadas.

Olha através da vidraça, como costumava fazer quando criança. O sol traceja o desenho do último suspiro ao vestir-se com o manto de despedida. Era semelhante ao do outro tempo. Mas não era igual. Uma sutil diferença...

A noite chega de mansinho para não assustá-la.

Vem-lhe a imagem da avó afagando seus cabelos antes do sono. Ela costumava soprar sábios versos em seus ouvidos. Como se apenas as duas, pudessem em vida, compartilhar.

Um doce sorriso e uma seqüência de palavras desfilam em silêncio para aquietar-lhe o coração.

Por sorte não haviam voejado com as folhas do outono. Esperaram por ela.

Permaneceram ali, guardadas dentre lembranças desusadas para que pudessem aquecê-la por todos os invernos que estavam por vir.

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