Escrevo
Escrevo porque me dá vontade de escrever. É tão forte que parece fome. Fome de mastigar, vomitar letras. Escrevo para desvendar os mistérios do interior, afrouxar os nós apertados e recriar eternidades talvez perdidas ou reencontradas.
Quando escrevo vejo o sol raiando o céu, vejo a lua sorrindo enamorada, as estrelas a piscar prateado num brilho diferente. Estrelas que dialogam comigo no peitoral da minha janela. Levam recados meus ao passado, entrelaçam o meu presente e alinhavam o meu futuro. Futuro bobo talvez. Para que futuro? Viver o presente já me basta.
Quando escrevo, a lágrima não rola, a saudade não cola... Escrever, sempre me consola. Sinto o diálogo entre as teclas do teclado e minha razão. Às vezes, minha razão pede para parar de escrever. Pensa ser bobeira, ser ridículo. Vez outra, derruba essa idéia e retomo a escrita. Sei que tenho todos os defeitos na minha arte literária - se é que posso chamar esses escritos de arte - meus altos e baixos, minha maneira simples de ver e mesmo de redigir. Gastei tempo entre livros e pesquisas, procurando melhorar a escrita para agradar pelo menos um pouquinho alguns leitores. Imaginava o que gostariam de ler. Besteira. Cortei esse umbigo. Não sei para quem, mas eu escrevo, sem técnica, sem rima, sem graça, até sem compromisso. Quero escrever aquilo que desejo escrever não o que o outro, o crítico gostaria de ler. Simplesmente escrevo. Escrevo com paixão, com amor, loucura, tesão, quase uma obsessão. Livre e solta. Muitas pessoas já escrevem denunciando a miséria, a fome, o desemprego, a corrupção, a seca, a falta de moradia, falta de terra para plantar e até sobre fila nos hospitais. Há aquelas também que acreditam só elas saberem lidar com as letras, só o seu estilo é o certo. Não percebem que há quem goste de textos menos rebuscados, linguagem pura e simples, língua nossa, da terra, do cerrado, do camponês. Há vários pontos de vista, tantas janelas para se abrirem...
Só escrevo. Na ponta do lápis ou do teclado chegam rajadas de vento, emprenhadas de poesia, aterrissam num sibilo de encanto.
Certo ou errado, bonito ou feio, veleja meu pensamento! Singra minha poesia!
Permita-me só escrever.
Juraci de Oliveira
Pirapora MG junho 2004
www.jurainverso.kit.net (Aqui texto ilustrado)
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