(história vivida, contada e recontada)
Há muitos e muitos anos, em Portugal, na Região da Guarda, no Vale da Mula, vivia uma família numa casa construída de pedras. Enquanto o patriarca fazia pequenos negócios, a matriarca cozinhava no fogão a lenha que ajudava a aquecer os corpos e a casa ( por vezes, passa-me a imagem de que puseram lenha demais). Todos os dias, no calor e no frio, lavava roupa nas águas de um rio. Um rio que banhava dois povos diferentes na essência, porque um nunca é igual ao outro. “Quando eu vestia a camisa do meu bisavô, (que não conheci), sempre achava que as águas não se misturavam, pois uma manga tinha jeito e cheiro de Portugal e a outra, da Espanha.” Era assim, desde pequeno, que a história caminhava, sinuosamente, pela estreita passagem de meus ouvidos. Meu avô seguiu a mesma trilha, por um tempo. Depois de casado, alguns filhos nasceram e sua mulher, minha avó, lavava e batia roupa na beira do mesmo rio. Todas ficavam brancas, com certeza, mas algumas, difíceis de amaciar. Assustado com a guerra e temendo que algum bombardeio pudesse ameaçar as duras paredes que os protegiam arrebanhou a família, subiu no navio e aportou em São Paulo, Brasil, onde nasceu mais um filho, meu pai. Ele cresceu e apreciou essa terra quente. Contudo, permaneceu com as raízes fincadas nas pedras a na beira daquele rio.
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