Usina de Letras
Usina de Letras
163 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62228 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22536)

Discursos (3238)

Ensaios - (10365)

Erótico (13569)

Frases (50624)

Humor (20031)

Infantil (5434)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140803)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6190)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->A MENINA DA CHUVA -- 03/02/2001 - 21:30 (MARCIANO VASQUES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CRÔNICA DO PEREGRINO

A MENINA DA CHUVA


Quando o motoqueiro fez aquilo com a cachorra, a menina Elenká chorou muito. Foi, para a pequena, uma visão forte ver o olho do animal arrancado por uma pedrada. O resto do dia não teve mais brincadeira.
Elenká é uma criança feliz, difícil alguém compreender por onde escoa a felicidade que chega até ela ou se nasce dentro dela como uma inesgotável fonte talvez.
Quando a sua mãe estava endividada deu-a como pagamento e desapareceu.Chovia muito nesse dia. A família que ficou com ela é comandada por uma senhora idosa que a trata como uma neta. É muito bom nascer no coração de alguém. Elenká, que já tinha nascido do ventre de uma mulher, agora nasce no coração de outra.
Mas a menina, chamada de preta pela família, tem o defeito de pegar as coisas dos outros. Na escola isso já trouxe vários problemas, pois os pais das crianças reclamam e exigem uma atitude.
Elenká pega tudo: lanche, lápis... Já apareceu na escola com um relógio de pulso.
Seu sorriso é largo, de beleza africana. Tal sorriso a coloca no palco da infância como uma destinatária de amor, carinho e atenção.Sorriso que prova que a criança rompe em sua própria natureza bloqueios causados por dores e abandono.
Enquanto crianças de azul e branco festejam o aniversário do Estatuto, num outro mundo Elenká segue a sua vida. No seu primeiro dia de aula, um dia chuvoso, a mãe foi presa por causa de drogas, não a mãe primeira, a de ventre, mas a que a recebeu como pagamento.Assim Elenká perdeu a segunda mãe, mas tem a avó, com quem vive, junto com um tio.
Num dia de chuva parou no abrigo de uma banca de jornais e pela primeira vez olhou as coloridas capas de gibis. Sentiu algo diferente, foi tomada por uma súbita felicidade, quis tatear um gibi, segurar, senti-lo em sua pele. O jornaleiro foi logo perguntando se tinha dinheiro.
-Não moço! Eu só estou olhando.
Acabou a chuva e lá se foi Elenká, asfalto molhado, cabelos crespos, sorriso largo, olhos brilhando. Ela, que ainda não está alfabetizada, sonhando a cada passo com os quadrinhos do gibi que segurou.
Elenká se esqueceu de tudo, nem lembra mais do seu mundo, da cachorra que ficou cega, das coisas que pegou dos colegas, da cena da polícia levando a sua mãe, só tem batendo forte no peito a vontade de entrar no outro mundo,colorido, de personagens, exposto na banca de jornais.
No dia seguinte o tio grita muito, reclama que sumiu um dinheiro da sua carteira, o único que ele tinha, para comprar cigarro.


*****
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui