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Contos-->O homem que queria viver todas as vidas. -- 06/02/2001 - 01:09 (Marcello Shytara) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O homem que queria viver todas as vidas.




Certa vez existiu um homem nada comum. Ele, quando criança, desejava ser engenheiro civil. Quando se tornou um adolescente ficou confuso. Queria ser várias coisas ao mesmo tempo. Chegou à idade madura sem concluir nenhum curso superior. O homem tornara-se frustado consigo mesmo.
O tempo passou, ele nada conquistou e não sabia explicar como passou o seu tempo. Não tinha lembranças porque nada realizara. Hoje esse homem vive a olhar os outros e com inveja em seus olhos, pensa: “Como será a vida daquele cara ali que vai caminhando feliz? Com certeza é melhor que a minha”.
E vivia assim a olhar a vida alheia imaginando como seria ele na vida daquele. “Onde estão agora os que têm muito dinheiro? Se divertindo, com certeza, pois fizeram por merecer e eu aqui enclausurado”.
A obsessão estava ficando cada vez mais grave, tomando já conta de sua personalidade. Ao assistir a um filme na tevê não via mais os atores, mas a ele, não no personagem do filme, mas o ator em vida real. Sua mania doentia vasculhava o mundo buscando os atores onde eles pudessem estar para se materializar num deles. Via-se num cassino rodeado de mulheres lindas, jogando altas quantias sem a menor preocupação, pois dinheiro não lhe era problema. Por vezes se via como um empresário riquíssimo, convidado de um jantar, onde era a pessoa a ser homenageada por uma gorda doação realizada, ou um político de sucesso. Seus delírios cresciam e cada vez que retornava ao seu insignificante ser desconhecia a si mesmo. Este homem chegou a um estágio de loucura tão alta que não mais lembrava seu próprio nome. Fizera questão de esquecê-lo, agora era todos os homens do mundo.

Estava a caminhar pela rua sem ter para onde ir, em uma de suas mãos uma garrafa de cachaça. Seu andar descompassado demonstrava o alto grau de embriagues em que se encontrava. Desistira enfim de viver ele mesmo, não queria mais continuar sendo apenas aquele homem simplório e marginalizado pela sociedade. Caminhando por uma rua deserta, tropeça em suas próprias pernas e cai, ao atingir o solo, bate violentamente a cabeça e tudo começa a girar ao seu redor. De repente vê um vulto crescer bem em frente de si. Bêbado e com a cabeça latejando, não consegue sair do lugar, se assusta com aquele vulto. A figura se aproxima dele e numa fração de segundos invade-lhe o corpo. Antes mesmo do homem entender o que estava acontecendo o vulto já fazia parte dele. Não demorou muito e ficou inconsciente.










Toc, toc, toc
__Ei querem derrubar a porta, porra?
Toc, toc, toc.
__Abra logo essa porta! Gritam do lado de fora.
__Já estou indo.
Ele nem se preocupa em olhar pelo olho mágico para ver quem batia à porta tão bruscamente. Assim que a porta é aberta dois homens entram e o espancam. O rapaz ainda tenta correr para buscar sua arma mas é derrubado pelo outro e novamente leva chutes na boca provocando uma cascata vermelha em seu rosto.
--- Não me matem, por favor, o que foi que eu fiz?
--- Você deve muito dinheiro a Dom de Vito.
--- Eu sei, mas vou pagar, tudo.
--- È bom mesmo, ontem, você perdeu mais uma fortuna e ainda quis fazer um escândalo no cassino de Dom de Vito e isso ele não perdoa.
--- Ontem? Mas não me lembro de nada!
--- Claro que não, o viadinho da Brodway estava de porre!
--- Viadinho um cacete, eu sou Richard Harrison, uma celebridade. E novamente ele leva uma porrada, sendo jogado ao chão.
--- Pois agora não passa de um viadinho filho duma puta que se não pagar tudo o que deve a Dom de Vito vai virar comida de peixe. Você tem 48 horas para fazer o pagamento.
Depois do ultimato ambos saem do apartamento sequiosos em gargalhadas macabras.
O ator se levanta e caminha até o banheiro. Ao olhar-se no espelho toma aquele susto.
--- Sou eu?! O que eu estou fazendo aqui? Que lugar é este? E esse corpo de quem é?
Richard estranha seus pensamentos: como é que pode ele não reconhecer seu próprio corpo? Estava todo estourado. Seu corpo latejando por toda parte, pelos golpes que levara, mas isso não seria motivo para delírios. E ontem à noite o que acontecera?


O prazo estava se findando e o ator não conseguia o dinheiro. Estava quebrado e sem trabalho. Por causa da sua estupidez não foi mais convidado a fazer filmes. Richard Harrison chegou ser o numero de um de Hollywood, entretanto deixou que a fama lhe subisse a cabeça. Se julgando ser “deus” passou a tratar mal as pessoas. Saía com todas as mulheres e depois que as comia as deixava, como se fossem descartáveis. Tornou-se a pessoa mais indesejada do mundo. Perdera todos os amigos pois quando estava junto deles os humilhava jogando dinheiro em suas caras. Por causa de sua prepotência foi abandonado por todos. Quando percebeu que estava sozinho e que ninguém mais lhe reverenciava passou a beber, cheirar heroína e jogar nos cassinos. Entrou numa depressão avassaladora que o levou à lama. Richard devia para quase o mundo inteiro. Altas quantias a bookmakers, produtores de filmes e mafiosos. Estava com a sua alma vendida ao “diabo-financeiro”.

Ao tentar entrar num cassino, já totalmente embriagado é recebido pelos leões-de-chácara e levado ao escritório. Dom de Vito o aguardava impaciente!
__Cadê meu dinheiro? Não falava, gritava!
__Eu vou te pagar em breve. Richard estava desesperado
__Em breve um caralho! Quero-o agora! Num sinal ordena para espancá-lo.

Richard, totalmente anestesiado pela heroína, não sentiu as primeiras porradas mas o espirito que agora estava dentro dele sentiu e gritou.
__Puta-que-te-pariu! Eu não lhe devo nada! Porque estão me batendo?
Aquelas palavras deixaram Dom de Vito furioso:
__Quebrem todos os ossos desse filho-da-puta e joguem-no ao rio. O ator levou uma surra que o deixou quase desmaiado. Aquele espírito ficou horrorizado, sentindo fortes dores também. Mas o pior ainda estava por vir. Depois que os leões-de-chácara fizeram a festa, levaram-no para a ponte. Chegando lá, amarram-no a uma barra de ferro e o atiraram ao rio. Aquele espírito gritava desesperado:
__Quero sair daqui, este não sou eu!
Os leões ouviram e se espantaram para em seguida fugirem horrorizados com a cena a que assistiram. Viram sair do corpo do ator um vulto enorme, que demorou uns minutos para depois desaparecer junto ao vento. Antes de desaparecer o vulto olha para o corpo que caía ao rio e se lamenta: “Como pôde terminar assim? Teve de tudo, fora um privilegiado pela vida e não soubera viver com isso!” Nunca mais foram os mesmos.









Santa Ceia, capital do estado de Alegrando é uma cidade igual às demais. Possui seus ricos e pobres. Ricos bem ricos e pobres bem miseráveis! Apesar de ter esse nome, só poucos realmente a têm em suas casas, o restante vive da caridade que o “diabo” lhes dá. Irônico não é mesmo? Mas é assim que vive essa população de Alegrando!
Ah! Não posso deixar de mencionar aqui: o “diabo” é um fazendeiro que se sensibilizou pela fome desse povo há mais ou menos uns sete anos e desde então vem repartindo os grãos que tira de suas terras. Esse fazendeiro ficara conhecido e amado pelo povo, também se tornara uma ameaça para a classe dominante. Numa linda tarde de sol vermelho, reunidos na igreja, todos foram unanimes: tinham que desmoralizar o fazendeiro. O Padre, numa revelação “sagrada” deu-lhe esse apelido.
É, parece que tudo estava armado, mesmo!



A praça Nossa Sra. das Dores de Jesus estava apinhada de gente para ouvir o discurso do senador Moreira, candidato a governador do Estado.
___Meus amigos, vocês me conhecem bem. Nasci aqui em Santa Ceia e trabalhei sempre para melhorar a situação de meu povo.
Durante seu discurso um anônimo comenta com outro: “Realmente melhorou muito a situação da gente, filho duma puta. Temos que controlar a natalidade para não morrerem de fome antes mesmo de nascerem!”
O outro apenas concordava com acenos de cabeça ouvindo o discurso inflamado do senador.
___Farei do estado de Alegrando o mais desenvolvido e rico do país. Prometo a todos vocês que terão trabalho e serão todos muito bem remunerados. Não faltará comida na mesa de todos vocês.
E o povo sempre ludibriado e manipulado pelas poderosas forças que regem o mundo se deixam inflamar pelo discurso do senador. E veneram...e gritam o nome do verme!
Nesse momento o senador é interrompido por um grito que agita a multidão. É o anônimo de novo:
___Claro que não vai faltar comida, ainda temos o “diabo” para nos matar a fome. Enquanto isso fica você aí falando um monte de merdas. Mas fazer algo realmente que ajude o povo, isso não faz!
Novamente o povo se manifesta, desta vez a favor do anônimo. Pobres crianças que andam pelas pernas dos outros...gozam...!
O senador estava estarrecido e furioso com a intromissão. Para garantir-lhe a segurança resolveu por bem acabar com o comício. Mas ele não sabia que aquele anônimo liderava um complô para sequestra-lo. E quando estava saindo, antes mesmo de perceber o que estava acontecendo, já se encontrava nas mãos dos seqüestradores. Os seguranças foram rendidos e golpeados. Aquele grupo estava fortemente armado. Eles eram contra a candidatura do senador Moreira pois sabiam que ele é um déspota e que continuaria favorecendo aos poderosos da cidade. O senador Moreira já estava com a vitória na mão. Seu partido havia comprado os mesários para que deixassem pessoas votaram mais de uma vez, também para abrir os votos e jogar fora os que iam para o adversário. Esse anônimo ficou sabendo dessa armação através de um dos mesários, que apesar de ter recebido o suborno, para a própria segurança, contou-lhe tudo. Reuniram-se todos e decidiram que o mal deveria ser cortado pela raiz. Com o rapto do senador, eles o forçariam a renunciar à candidatura.

O senador Moreira ainda estava zonzo com a pancada que levara na cabeça. Mas não foi o grupo ou o lugar onde se encontrava que o assustou. Um vulto penetra de forma violenta seu corpo, arrancando-lhe gritos apavorantes. Nem mesmo aqueles homens decididos entenderam.


“Onde estou? Cadê o rio, não estou molhado! Espere me lembro agora. Antes de me arrebentar nas águas, sai de dentro daquele corpo. Pobre diabo! Mas onde estou agora? E esse corpo de quem será? Porque está tudo escuro?”


O dia amanheceu e na cidade de Santa Ceia só falavam numa coisa: onde estaria o senador Moreira? Quem o seqüestrara? Seriam motivos político ou por dinheiro? Perguntas e mais perguntas, porém nenhuma resposta. Os seqüestradores ainda não fizeram qualquer contato com a família. O governador mandou colocar toda a policia na rua à procura do cativeiro do senador. Até Brasília se pronunciou: queria que o caso fosse resolvido imediatamente e que os culpados pagassem pela audácia de seqüestrar um senador...um político. Brasília até deu um ultimato ao governador, __claro este é do partido de oposição___ para encontra-lo o mais rápido possível ou teria as verbas de seu estado cortada e autorizaria o exército a assumir as investigações. Brasília estava desesperada, queria de volta e sem nenhum arranhão esse ilustre membro da família e para os raptores...bom, para os raptores ninguém jamais saberá!
O caso estava ganhando repercussão internacional. A mídia não falava de mais nada, só no seqüestro. Na cidade de Santa Ceia os seqüestradores estavam se tornando mártires e ganharam o apoio do povo. Não tiveram eles conhecimento das identidades desses homens, entretanto jamais os esqueceram.

O espirito estava dentro do corpo do senador viu quando aqueles homens que se autodenominaram “Grupo da faxina parlamentarista” entraram no quarto encapuzados e o anônimo disse:
___Só tem um jeito do Sr. sair vivo daqui, assinando este documento.
O senador ao ler o documento ficou espantado e praguejou:
___Não assino porra nenhuma! Não vou renunciar e ponto final.
Neste instante leva um chute na cara e um outro berra:
___Filho duma puta ou você assina a porra desse papel ou você não sai vivo daqui. E desfere uma bicuda no estômago do homem, que cospe sangue. Aquele pobre indigente que ali estava em espirito sente também as porradas e entra em desespero.
“Que merda! O que estou fazendo no corpo deste verme? O que foi que eu fiz de errado para merecer esse castigo? Se esse filho da puta morrer eu também vou pra roça!”
O desespero lhe trás a memória dele de volta.
“É mesmo! Eu estava totalmente entregue ao fracasso e bebendo todas. Renunciei a minha própria vida, por estar infeliz pelo que eu era”
___Eu assino, me de esse papel que eu assino, porra!
Diversas cópias da renuncia do senador foram entregues aos meios de comunicação. Noticia durante várias semanas.
___O que levara o senador a renunciar à candidatura uma vez que, já estava dentro do palácio central?!
Assim que o senador foi liberado o espirito se deixa o seu corpo. O senador se borra todo quando vê aquele vulto crescer em sua frente e soltar gargalhadas altíssimas. Nunca mais foram o mesmo.



Ainda sentindo uma forte dor de cabeça e numa ressaca sem fim, aquele homem se levanta, atira longe a garrafa de cachaça e sai andando. Neste momento um transeunte vem se divertir com o bêbado:
___Aonde você vai o bebão? Vai tomar mais um pileque? Vá otário! Ahahahahah...
Aquele homem que esquecera o próprio nome o olha fixamente e diz:
___Estou indo para Santa Ceia. Quiaquiaquiaquiaquiaquia!



No anais da política isso nunca aconteceu numa época de paz social. A partir deste dia tornou-se uma rotina na política deste país.
Todos os candidatos que tentavam enganar o povo com suas “milongas” eram raptados e forçados a renunciarem, caso contrário não voltariam mais para a enorme “teta” carnuda do poder. Iniciou-se então uma limpa natural dessa espécime. Os bons sobreviveram e os ruins foram extintos. Aquele indigente passara a ser conhecido em Santa Ceia como um__”simplório?”__ anônimo.

Shytara...
Este conto é parte integrante do livro O conto nosso de cada dia.

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