Usina de Letras
Usina de Letras
140 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62215 )

Cartas ( 21334)

Contos (13261)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10357)

Erótico (13569)

Frases (50610)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140799)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1063)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6187)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Mesa Redonda de Usineiros (O depoimento de Dom Kless) -- 17/10/2002 - 13:33 (U.S.I.N.A.) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
[no capítulo anterior Rose Castro descobre que Madalena havia sido realmente assassinada. Félix M. decide juntamente com seus colegas usineiros que seria a única pessoa habilitada a descobrir o criminoso.]



- O nome elemento! – Berrava Félix. Baixo e truculento, cabelo raspado a moda militar dos anos 70, Félix batia na mesa e perguntava o nome aos berros novamente.

- Seu nome elemento!

- D-D-Dom Kle-Kle-Kless senhor!

- Não estamos no exército aqui filho, qual é seu nome todo... vamos, fale filho. Alternada entre brutalidade e calma, buscava confundir o interrogado.

- Dom Kless.

Félix circulou a mesa e chegou atrás de Kless e, súbito, com as duas mãos puxou a cadeira reclinavel para si. Kless o olhou aterrorizado então Félix berrou.

- Fala o nome todo ou eu te castro...

- De Castro... de Castro... Dom Kless de Castro. Eu tinha medo das pessoas me discriminarem por saber que sou primo de segundo grau do sobrinho de Fidel. Realeza espanhola que nada, eu nem sei falar Catalão. Somos primos de Fidel e o Chaves até já jantou lá em casa.

- Ok! Ok, filho... O que você faz aqui, heim?

- Eu sou cabo-man. Já trabalho aqui faz algum tempo.

- E como foi contratado, filho...

- Bem eu...



Era mal. Desde menino eu batia nos menores pra descontar a dor que a ausência meu pai provocava. Homem grosso era meu pai, mas era trabalhador. Sei lá o que passava na cabeça dele, afinal, não o conheci muito bem, mas eu sabia o que passava na minha. “Um dia não serei eu que irei ter medo e vou me vingar” repetia para mim mesmo e isso foi minando meus valores e eu passei a ficar assim, vazio para o certo. Mas de toda forma eu nem acho isso errado.



Ele está me perguntando como fui contratado...

- Longa história, Dr. Félix...

Longa mesmo. Ela começa com meu pai. Dom Diego Castro de La Guardia era um espanhol com gotas de sangue azul, diziam que por isso era frio e duro. O jovem construtor de casas em Andaluzia, em uma viagem para França buscando o fechamento da proposta de algumas construções em Marrè, teve inicio os meus motivos. Marré era um bairro de judeus de classe média alta. Em Marrè meu pai conheceu alguns Brasileiros exilados políticos, jovens demais para serem criminosos perigosos o bastante para serem exilados. Um deles, mirrado demais, baixinho demais, bonitinho demais pra ser um “comunista”, afinal, esses homens eram brutos. Francisco era o nome de um, dono de belos olhos azuis e de um humor e inteligência desconcertante. Ayra-on era o outro, nervoso e de gestos italianescos, esse sim tinha tudo para ser um comunista, só contradizia o afeto que tinha por uma mulher... uma Madalena. Falava sobre esta com um amor sem fim.



Marrè foi o início de tudo. Meu pai havia se tornado amigo daqueles subversivos. Arrumou um lugar em Andaluzia para ele se estabelecer e, ao retornar para o Brasil, carregou meu pai, minha mãe junto com ele. Meu pai agora era também um comunista. No Brasil viveu muitos problemas no ano de 1975 com meu nascimento e até para alguém como meu pai era difícil agüentar certas coisas. Um dia, no trabalho, meu pai bebeu muito e subiu na construção de um prédio de 20 andares na Vieira Solto. "Dançou e gargalhou como se fosse o próximo" disse uma das testemunhas, e "tropeçou no céu como se ouvisse música" e sentou pra descansar como se fosse um pássaro e flutuou no ar como se fosse um príncipe e se acabou no chão como um pacote bêbado morreu na contramão atrapalhando o sábado. Foi assim que Francisco descreveu em poesia a minha dor, a de minha mãe. Meu pai se matou. Se matou por ser comunista. Se matou por acreditar nos comunistas. Se matou por ter conhecido Francisco e Ayra. Eu odeio os comunistas. Eu odeio Ayra-on. Um dia eu tiro a única coisa que o faz feliz, assim como ele me tirou.



- Acorda cara! – Félix berrava já duas ou três vezes.

- Ah! Sim, foi o Osaka que me arrumou o emprego. Eu estava necessitado e comecei a fazer programas. Osaka era um traveco de renome na televisão. Disse que era produtor. Hoje eu sei que ele é só um maquiador afeminado. – Sorriu.

- Osaka, mas não era uma mulher?

- Ele te enganou Dr. Félix. Riu.

- Que relação foi esta com Osaka... vocês mantinham mais que uma relação sexual?

- Não, Dr. Não é isso não. Era garoto de programa, mas não curto sexo com o mesmo sexo. Ele é que sismou comigo. Me pagava as roupas e o aluguel, mas eu nunca transei com o cara.

- Sei.

- É sério. Sou parente de Fidel, mas não gosto do charuto. Ele é meio obsessivo, me assustava como o Lula assusta a Regina Duarte, só que sem o cachê milhonário. Odeia mulheres e se acha mais mulher que homem. Até aí normal, mas ele vivia dizendo que toda mulher deveria morrer. Sempre repetia isso.

- Sei... sei.



Do outro lado Rose Castro se desesperava, aos prantos nos braços de Milene.

- Calma, Carinho... Calma. Eu adorava aquela moça, você sabe. Éramos amigas desde a infância, mas temos que ter calma.

- Mas os berros. O que o Félix está fazendo? Eu vi algo, sabe. Mas tenho medo de contar. Eu acho que o Dom...

- Rose, Rose, Rose minha poeta... Fala Domingos Oliveira vindo na direção.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui