Usina de Letras
Usina de Letras
133 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62219 )

Cartas ( 21334)

Contos (13262)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10362)

Erótico (13569)

Frases (50612)

Humor (20031)

Infantil (5431)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140800)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6189)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cordel-->Cordelista argentino em Juazeiro -- 06/02/2002 - 12:59 (José Mario Martínez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
(Coloco de novo porque sumiu. Desculpem.)

" Ô, cordelista argentino!
" Tu não tem vergonha não,
" evocando Zé Limeira
" sem estudar a lição?
Tenho vergonha de nada,
sou cordelista de estrada,
menestrel por vocação.

" Tu és un gringo semvergonha,
" faz favor e fica esperto,
" tu não distingue nosso "e"
" quando é fechado e aberto!
Isso, confesso, é verdade,
é grande dificuldade
e não tenho mais conserto.

" Mas a ti não te arripuna
" rimar fechado co aberto
" fazendo o mesmo com o "o",
" dois sons que nem ficam perto?
Não me repugna, qué é isso?
me encomendo a Padim Ciço
e de vez em quando acerto.

" Acerta coisa nenhuma!
" tá vendo? Já não acertou,
" Padim Ciço não te ouve
" e a musa te abandonou!
Padre Cícero é paidégua,
nem na hora de passar régua
ele jamais me faltou.

" Me mordeu cachorro doido,
" tô afim de brigar contigo,
" me responde umas perguntas
" para ver se tu és amigo.
Pergunta, nego trubado,
hoje ando meio avexado,
vou responder, se consigo.

" Vives evocando a Ciço
" no teu canto, companheiro,
" mas sabes menos do Padre
" que o mais humilde romeiro.
" Ve se me responde já:
" Quando andaste por Ceará
" e em que ano foste a Juazeiro.

Eu nunca estive em Juazeiro
e nunca um juazeiro vi,
vivi vidas muito longas
mas longe do Carir.
Vou te passar um bizu:
nem não cheguei a Caruaru
nessas vidas que vivi.

Patativa de Assaré
me mandaria "cantar lá"
mas eu tenho vocação
para cantar no Ceará.
Trago meu verso azuado
e toscamente arrochado
com cordas de caroá.

Eu andei sonhando muito,
aturando vida aflita,
e aprendi que a realidade
ao sonho observa e imita.
Há um sonho que me estremece:
Padre Cícero aparece,
Lampião e Maria Bonita.

Esse sonho - me disseram -
só pode ser em Juazeiro,
do Norte, pelo Padim,
do Sul, pelo cangaceiro.
Eu pensei que era do Norte,
e acertei não foi por sorte,
foi por ver muito romeiro.

Vi as ruas Santa Teresa,
Conceição, Santa Luzia,
formando uma linda praça
pro curtir da romaria.
A essa praça triangular
chamam "ferro de engomar"
desde os tempos da Maria.

" Não se me adiante, argentino,
" não tem Maria nenhuma
" no sonho que andou sonhando.
" Me sonhe a verdade ou suma!
Amigo, em mar agitado
e em sonho mal assombrado
se navega até na espuma.

Essa Maria que eu disse,
Maria que também vi,
era Maria Araújo,
beata do Cariri.
Seus milagres verdadeiros
na sombra de três juazeiros
no meu sonho conferi.

As datas das romarias
são doze no meu Juazeiro,
começa com a de Reis
no dia 6 de janeiro.
Depois vem São Sebastião,
e outro mes a procissão
com muitos carros romeiros.

A Senhora das Candéias
no dia de Iemanjá,
sabe Deus se são as mesmas
as deusas de lá e de cá.
Dia dois de fevereiro,
outra festa pro romeiro
no coração de Ceará.

Dia 12 de setembro,
Nossa Senhora das Dores,
pro povo se consolar
querendo tempos melhores.
Se até a mãe de Deus chorava,
quem sou eu - me lamentava -
pra chorar de mal de amores?

Em julho tem vaquejada
em homenage ao Padim,
três dias inteiros de festa,
é farra que não tem fim.
Rosinha da Conceição,
que não sabia dizer não,
nem por isso disse sim.

" Chega, argentino maluco,
" pára logo José Mario
" que já vi que tu de data
" sabe mais que calendário!
" Teu sonho não tem baião?
" Então não foi sonho não,
" foi um cochilo ordinário.

Os Irmãos Anicetos
e o velho Mestre Miguel
com suas zambumbas de couro
animavam um cordel.
Tocam pipoca-baião,
por modo de imitação
dum cereal que é menestrel.

Os pífanos revezavam
imitando os animais,
os da fazenda e da mata
e o povo dançando atrás.
A dança era um faz-de-conta,
briga de faca e de ponta
com mil bandas cabaçais.

Enterraram um anjinho
e a banda vinha tocando
e os berros das carpideiras
se ouvia de vez em quando.
O anjinho era meu amor,
que foi parido com dor
e já nasceu definhando.

Não se faz mais a zambumba
com a pele do carneiro
esticada na cabaça
pra dar o som verdadeiro.
E o pífano de taquara
vai ficando coisa rara
no meu sonho de Juazeiro.

Sete buracos de espeto
fazem chorar a taboca,
um chorar que se eterniza
cada vez que o artista toca.
Menina da macaxeira,
vindo comigo na feira,
bebe versos de mandioca.

De junco, palha e bambu,
cipós e raiz de palmeiras
vi como sas cestas faziam,
bolsas, chinelos e esteiras.
A de palha colorida
dei com promessa de vida
a uma cabocla juazeira.

Duzentos sessenta e três
da Rua Santa Luzia
é a Gráfica do Cordel,
templo de amor e poesia.
A moça que eu paquerava
os milagres me contava
do Padim e da Maria.

Todos tinham um milagre
do Padim para contar,
milagres que no meu sonho
botavam para quebrar.
Padim Ciço e o Corisco
cruzaram o São Francisco
que nem as águas do mar.

O Padim chegou em Juazeiro,
vindo das terras do Crato,
foi no caixa do Banorte
pedindo saldo e extrato.
Tinha um cartaz que dizia
"Tamos filmando, sorria"
e o Padim tirou um retrato.

O Doutor Marcos Rodrigues
examinou a Maria
procurando a gengivite
que seu sangue produzia.
Pesquisou não achando nada,
a hóstia era consagrada,
de Jesus o sangue fluia.

O Bispo disse a Maria:
"Vou perdoar teus pecados
depois que todos teus truques
tu me tiver confessado"
Ela disse "Monsenhor,
Jesus é meu confessor,
por mim está dispensado".

O Bispo disse a Maria:
"Vou te dar a comunhão,
mas vê se respeita a hóstia
sem provocar confusão".
O Padim disse "Eminência,
a moça tem inocência,
sem sombra de enganação".

O Padim caiu em desgraça
com bispos da capital,
o acusam de liderança,
heresia, coisa e tal.
Chamaram a Inquisição,
o encerraram na prisão
da Polícia Federal.

Os dezessete macacos
esculpidos por Seu Nino
libertaram o Padim
daquele injusto destino.
Apóstolos de madeira,
eles ocultam na feira
seu nascimento divino.

Padim Ciço fez a guerra
à máfia de Fortaleza
e virou rei de Juazeiro
por modo de muita proeza.
Com as putas e os mendigos
e os pecadores amigos
compartilhava sua mesa.

" É melhor parar agora,
" argentino pau de venta!
" Vá pra casa do chapéu,
" que aqui ninguém mais te agüenta!
" Esse teu truque é antigo,
" não dá pra falar contigo,
" o que não sabe tu inventa!

Pode guardar a peixeira,
que em briga de lanchonete
parece tudo tranqüilo
mas o Diabo se intromete.
O que eu disse não é inventado,
metade é sonho sonhado,
metade li na Internete.


J. M. Martínez, 3/2/2002










































































































































































































































Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui