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Cronicas-->Calma que o Leão é Manso -- 19/07/2004 - 12:16 (Nelson Pimentel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Estava pensando sobre algumas relações doentias, mais precisamente naquela parte em que uma das pessoas envolvidas está em alguma situação terrível, seja ela sentimental, física, financeira ou qualquer outra mazela possível. Pois bem o ser humano tem uma leve tendência (estou sendo bem light) a querer puxar pra baixo a pessoa que estiver mais próxima. No caso em que estou pensando, que é num relacionamento a dois, a pessoa mais próxima é facilmente identificada e muito mais facilmente do que se poderia imaginar arrastada para um buraco qualquer. Como disse, este comportamento é natural, ás vezes a pessoa "emburacada" faz isso sem a menor consciência da realidade. Tudo bem que numa relação estamos aí (lá, ali) pra isso mesmo, mas gente! É preciso separar bem as coisas, ás vezes seria melhor pedir ajuda de alguma maneira ao invés de culpar os outro e criar uma catástrofe sentimental.
Numa de minhas maravilhosas férias em Salvador aconteceu um fato que me ilustra bem essa situação: acontece que três amigos meus foram tomar umas cachaças numa das inúmeras biroscas que nascem de uma hora pra outra nas proximidades da Praça Castro Alves, lugar que os turistas evitam, por ser meio violento. Os artistas, Hugo (doravante chamado Boi), Rodrigo (doravante chamado Camarão) Rigofrasio (doravante chamado Rigo). Pois bem, não é costume dos donos de birosca, em salvador, em pleno carnaval, aceitarem abertura de contas. Geralmente o pagamento é feito em dinheiro e de preferência antes do produto, em sua maioria cerveja, ser entregue pelo balconista. Mas como os rapazes aparentavam ser gente boa o proprietário abriu uma exceção.
Lá pelas tantas, depois de muitas cervejas e algumas coisinhas mais quentes, Rigo disse que iria ao banheiro, mas que voltava logo. Não voltou. Quer dizer, voltou, mas quando chegou lá não encontrou ninguém. Perguntou pelos amigos e ninguém soube informar o paradeiro deles. O que aconteceu? O proprietário, ao notar a falta de um dos três fregueses, começou a desconfiar de que iria sofrer o clássico golpe do "sai um de cada vez e o último sai correndo". Pediu então, o que era absolutamente justo, que os dois que lá estavam pagassem a conta. Mas o Boi não quis, queria esperar Rigo voltar. Camarão a essas alturas estava apagado em cima da mesa! Apenas escutava a discussão do Boi com o proprietário: Paga! Não paga! Aquele vai não vai! Foi aí que nosso ilustre crustáceo resolveu dar fim áquela conversa. Levantou-se bruscamente e bradou: Hugo! Paga logo essa conta! Levou um tremendo soco no olho direito, caiu, foi chutado, tentou erguer-se, caiu, foi chutado, rastejou até a saída da birosca e correu.
Na parada de ónibus, sem um centavo no bolso, pois seu numerário estava na carteira do nosso amigo Boi, fez um relato emocionante de todo acontecimento para um passante que, com os olhos cheios de lágrimas declarou não ter um centavo para contribuir na passagem do ónibus que levaria Camarão para casa. Sendo assim pegou um táxi, explicou a situação ao taxista e quando chegou ao apartamento em que nós estávamos conseguiu com nosso anfitrião, que a partir deste momento ficou absolutamente preocupado com o destino de Boi e Rigo, algum dinheiro para pagar o taxi.
Camarão contou toda a história pra Cláudio, com todos os detalhes possíveis e imagináveis. O olho era um roxo só! Mas vejam que nobre, o que não deixava nosso amigo em paz era a preocupação com Boi! Ele chorava, pensando em como o Boi estaria, afinal de contas ele se arrastou para fora da birosca e deixou o amigo sozinho em meio aos leões (de chácara, mas leões)! E contava a história da parada de ónibus, repetia todo discurso que fizera. Falava que o passante não tinha dinheiro, mas que ficara emocionado com o relato dele. Até que cansado, resolveu se deitar, era preciso descansar! Cláudio muito solícito já estava pensando em ligar para todos os hospitais e delegacias de Salvador para obter alguma informação sobre o Boi. Mas eis que quem bate a porta do apartamento? Ele, o próprio. Camarão se levanta, olha pra ele, vê que o amigo que foi abandonado na birosca em meio ao caos saiu de lá incólume! Sem um arranhão! Lindo e sarado. Vendo isto Camarão não se conteve e urrou: Olha o que você fez comigo cara!!!! Olha como eu fiquei!!! E as lágrimas brotaram de seu rosto retorcido e roxo. O homem era uma revolta só!
Você deve estar se perguntando onde quero chegar, mas acabo de chegar lá: de toda essa história o que me mais me chamou a atenção, além da clara falta de aptidão do Boi para negociar uma saída pacífica para o caso, foi o fato de Camarão mostrar-se mais revoltado com o fato de apenas ele ter estampado no rosto, e muito bem estampado diga-se de passagem, o carimbo da estupidez alheia do quê com o fato de estar ferido. Na verdade toda revolta de Camarão foi externada, agravada e berrada após perceber que apenas ele havia sido atingido. Tanto que mais tarde o Último dos Moicanos, Rigo, chegou ao apartamento com a cara mais lisa do mundo: "Onde vocês foram? Procurei como um condenado e nada... Camarão! O que é isso no seu rosto?" Arranhões que é bom, nada. Só o Camarão ficou marcado. E sua revolta era evidente. Chorava o dia todo, ao Boi, passou a tratar com certa frieza, meio que na base da chantagem emocional, o que deixou nosso amigo com certo sentimento de culpa. Nós ,que não apanhamos nem fomos culpados, não conseguimos deixar de ver a comédia em toda história, Camarão passou a fechar a cara sempre que era criada uma nova versão para o acontecimento, quando não estava presente, o culpado, Boi, que não quis assumir a responsabilidade pelo olho roxo textualmente, mas o fazia sem perceber, censurava qualquer comentário em tom de sátira. Camarão acabou indo embora alguns dias antes do dia previsto para retornar á Brasília. O Boi foi junto, pois não deixaria o amigo viajar só com a cara amassada.
Foram os dois pro buraco. É mais ou menos igual á história do circo em que, durante a apresentação do domador de leões, uma das feras consegue fugir e, furioso, corre em direção á platéia. Um dos espectadores ao tentar se levantar nota que sua perna está presa no banco... Sem ter o que fazer e na certeza de que viraria comida de leão, nosso intrépido amigo começa a berrar aos outros companheiro, que não tinham a perna presa e poderiam correr: "Calma gente!!! Calma que o leão é manso!" Ninguém merece!




nfatorial em 16072004
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