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cronicas-->Capiauzaiada -- 20/07/2004 - 10:43 (José Renato Cação Cambraia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Quando eu era moleque, detestava festas juninas. A primeira e última vez que me vesti de caipira, com uma calça com remendo falso e um bigode pintado, foi no prezinho. Nunca gostei muito de pipoca, de amendoim e principalmente de pé-de-moleque. Mas esse sentimento não se aplicava às bombas, claro. Aliás, bomba é que nem pum: aquelas que a gente solta, adora ouvir explodindo. Quando é dos outros, fica com uma raiva lascada de estar por perto. Eu gostava de fazer várias experiências legais e instrutivas, como explodir latas de Nescau com bomba "de mil" e fazer crateras no chão (mas judiar de animais, nunca). Ficava imaginando como foi feita essa misteriosa escala de potência de bombas (a de cem era aquela fininha, a de duzentos era mais gordinha, a de quinhentos já era mais séria e a de mil era um verdadeiro crime: bomba de mil, só escondido... Ah, tinha também a "triàngulo", que por uma interpolação experimental, acabou levando a escala de trezentos). Eu sempre fui curioso para saber a unidade dessa escala: mil o quê? Decibéis? MegaPascal? Unidades suecas de explosão? Depois de muitos anos, me disseram que o nome vem do preço da bomba: "bomba de mil-réis", na época. Que chato. Eu imaginava um grande laboratório, com aqueles cientistas de avental e óculos de proteção, abafador no ouvido e com uma prancheta na mão fazendo anotações enquanto explodiam bombas na càmara de testes.

-Essa foi forte, hein, Thomas? Veja, o explosímetro marcou 789!
-Pois é, Albert, vamos testar agora dentro desse tubo de PVC na sarjeta!
-Tá, mas agora é sua vez de acender...

Depois eu descobri uns foguetinhos legais de pólvora e acabei esquecendo das bombas. Afinal, a única coisa que elas fazem é explodir...
Bom, como eu ia dizendo, mesmo com as bombas eu continuava detestando festas juninas. Em primeiro lugar, a quadrilha. Isso se deve talvez ao épico e traumático episódio da segunda série, quando fui obrigado a dançar quadrilha dentro da sala de aula. Aquela coisa tosca, uma vitrola tocando música de quadrilha e os alunos numa fila indiana em pares, serpenteando pela sala. Como protesto, simplesmente caminhei com cara de emburrado de mãos dadas com uma menina (será que era tão difícil da professora compreender que eu simplesmente não danço?).
Nunca mais entrei numa quadrilha, nem pretendo entrar. Aliás, se você me vir algum dia indo pra lá e pra cá gritando "olha a cobra", "é mentira" e tal, por favor, bata com força na minha cabeça e chame a polícia, pois aquele com certeza é um impostor.
Outra coisa que eu detestava muito era a cadeia do amor. Nunca entendi o que uma cadeia poderia ter em comum com o amor. Havia sim uma situação de terror em ser preso (principalmente nas festas do Tiro de Guerra, pois eu imaginava que os caras estariam armados de verdade e aplicariam técnicas vietnamitas de tortura).
Mas quando a festa era ruinzinha era legal ser preso só pra elaborar e executar planos de fuga. Pagar pra sair? Isso nunca!
Mas o terror mesmo, pra mim, que sempre fui tímido como uma ostra, era receber um correio elegante (aliás, esse nome é muito jacu: correio "elegante"... se eu fosse o responsável por dar nomes pra essas coisas, eu daria correio galante, e não elegante... faria mais sentido). Eu não recebia muitos, mas sempre mantive a minha média de um ou dois por festa. Claro, ficava roxo de vergonha e claro também, nunca respondi um deles sequer (não, nunca mandei um...).
Mas agora tudo isso ficou no passado. Hoje eu sou um adulto sem (muitos) traumas e compreendo que a festa junina é uma tradição nossa, da nossa terra e, por isso, deve ser valorizada. Mas tem que ser aquelas de verdade, que têm sanfoneiro e zabumba suando pra manter a alegria, o buscapé correndo atrás da molecada, o quentão e o vinho quente aquecendo a alma e o coração, a fogueira enorme lançando partículas em brasa no meio da noite gelada que é sempre bonita e cheia de estrelas... aliás, graças a Deus o céu de Paraguaçu é uma das poucas coisas que não dá pra estragar nem se quiserem!


Renato Cação Cambraia é, foi e sempre será um capiau, mas seu gosto (duvidoso) por punk-rock gera discussões.
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