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cronicas-->SUMPA -- 23/07/2004 - 23:47 (José Renato Cação Cambraia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
SUMPA

São Paulo é uma cidade esquisita. Mas as pessoas que moram lá são peculiarmente esquisitas. Eu mesmo morei na capital paulista por nove anos e acabei ganhando outras esquisitices além daquelas que eu já tinha. No começo eu estranhava aquele ruído constante do mar de carros mesmo durante a noite e ficava zonzo quando andava nas ruas mais movimentadas, pois insistia em olhar para todas as pessoas (cacoete interiorano de quem mora numa cidade onde todos se conhecem). Só me livrei disso quando percebi que em São Paulo "todo mundo" é a mesma coisa que "ninguém".
O paulistano não costuma prestar atenção nas pessoas. Principalmente naquelas que trabalham em serviços de atendimento e venda de alguma coisa, como garçons, balconistas, arrumadeiras, caixas, etc. Eles simplesmente querem que o serviço seja feito o mais rápido possível, nada além disso. Por isso o MacDonald´s é essencialmente paulistano: pedir pelo número? Acho isso horrível. Eu gosto de quebrar as regras imperialistas impostas pelo Mac. Exemplo, nunca peço rapidamente o que quero, sempre enrolo um pouco. E gosto de não usar os nomezinhos dos lanches.

-Eu quero um xisfrango, batata e coca.
-Seria uma promoção número três, senhor, com um McChicken?Alguma sobremesa, senhor?
-Hummm... acho que mudei de idéia, quero um xis-salada sem maionese e um suco de acerola com manga.
-Senhor, por favor peça pelo número, seria a promoção número um, um Big Mac contendo dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles num pão com gergelim?
-Ah, espera aí, não tem xistudo acebolado com bacon e dois zóiudo?
-Senhor, afaste-se ou serei obrigada a chamar a segurança!

Paulistano ao telefone é uma coisa muito engraçada:
-Aló, quem fala? (nós, caipiras, precisamos saber com quem falamos - não somos acostumados a falar com máquinas. Eu nunca deixo recado em secretária eletrónica nem falo com aquele auxílio à lista da Telefonica totalmente computadorizado - sinto-me um idiota falando sozinho).
-Você quer falar com quem?- o paulistano é muito desconfiado, mesmo com o advento dos identificadores de chamada. Ele não tem tempo a perder com apresentações. Se for engano, ele não dá a mínima se você ligou ou não o número certo, se discou o 2 ao invés do 3.
-Com o Cabeça.
-Aqui não tem nenhum Cabeça. - e desliga (sim, ele desliga nesse instante, pois não conhece nenhum Cabeça. Ele não pergunta "Cabeça? Não, aqui é da casa do Valdir Peixoto, será que é com ele que você quer falar, ou com o filho dele? Qual o verdadeiro nome do Cabeça? Acho que nunca vi ninguém chamando o Valdir de Cabeça...", como nós fazemos.
No trànsito, que todo mundo sabe ser pior que o inferno, a coisa chega a níveis insuportáveis. É certo que dirigir em São Paulo é fácil, desde que você conheça o caminho e saiba ler razoavelmente bem enquanto dirige. Mas tolerància e paciência são palavras desconhecidas de qualquer motorista da capital. Exemplo: se você está na primeira fila esperando o sinal abrir, deve necessariamente observar o sinal do fluxo perpendicular ao seu, pois quando este se tornar amarelo, você deve estar com a primeira engatada, pois o prazo máximo de tolerància para a arrancada depois que o sinal verde abriu é de 23 décimos de segundo. Aos 50 décimos de segundo, o motorista de trás dá uma buzinada curta pra ver se você acorda, pois pra perder tanto tempo assim você é um idiota e só pode estar dormindo.
Eu peguei uma outra mania terrível durante minha estadia por lá: xingar tudo e a todos enquanto dirigia. Igualzinho aquele desenho da Disney, que o pateta pacato e cordial cidadão virava um monstro ensandecido quando entrava no seu automóvel.

-Sai da frente, véia!
-Tá olhando o quê, o bigodudo filho da &*$#?
-Seu &*%$#, tira essa &*%$# do caminho, #@$#
-*&^%$#! *&^%$#! *&^%$#! *&^%$#!!!!

Quando eu voltei pra Paraguaçu, fiquei um tempo com essa mania, mas logo tive que parar:

-Êita &*@%$, sai da frente, miserável! - FOOOMMM! - óps! E aí, tia, tudo bem?

Apesar de tudo isso, adoro São Paulo. Estive lá fim de semana passado e aproveitei para fazer algumas coisas legais que aqui não tem: cinema (sim, eu sei que estou sendo repetitivo, mas fazer o quê?), coringão no Pacaembu, conheci um museu muito legalzinho (Museu Lasar Segall) que tem pinturas, esculturas, um café e (adivinha!) uma sala de cinema (onde vi Kill Bill vol. l, do Tarantino)! Fora isso, tem os restaurantes com cardápios cheios de adjetivos (tipo "respeitável hambúrguer de 187g" ou "suculentos nacos de carne temperada com um ousado molho picante"), tem os drinks infernais dos bares mexicanos, tem o parque do Ibirapuera, a feira de tranqueiras do Masp aos domingos e tantas outras coisas legais que nunca fiz porque com certeza são muito caras ou estão muito longe ou não tem estacionamento no lugar.



Renato Cação Cambraia tem saudade da "República Federativa de Paraguaçu Paulista", em Pinheiros, mas ainda afirma que não foi ele quem deixou o feijão apodrecer na área de serviço.
BECO - julho/04
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