Usina de Letras
Usina de Letras
78 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62243 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22538)

Discursos (3239)

Ensaios - (10369)

Erótico (13570)

Frases (50641)

Humor (20032)

Infantil (5440)

Infanto Juvenil (4770)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140811)

Redação (3308)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6198)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->O último dos dinossauros modernos -- 28/07/2004 - 00:33 (Paulo Eduardo Gonçalves) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O último dinossauro moderno

Você sabia que o velociraptor tinha penas? Ele é aquele dinossauro menor que é abocanhado por um tiranossauro na hora em que vai comer uma das criancinhas do filme O Parque dos Dinossauros. Só que lá ele aparece pelado, como um lagarto. Um erro que foi muito comum, sendo reproduzido em revistas científicas nacionais e internacionais. Pra gente ver como Hollywood e também a ciência, como legítimos produtos da mente humana, se enganam.
Por causa disso eu passei um tempão da minha vida imaginando errado. Mas tudo bem. Pelo menos eu sabia que eles existiram e qual o seu nome, enquanto que a maioria das pessoas da escola só lembrava dos Dinosaucers - um desenho muito ruim - quando o assunto era dinossauros.
Eu tenho guardado aqui em casa um fandangossauro. Achei dentro de um livro, que pelo jeito não era aberto há anos. Está em perfeito estado de conservação, nunca foi colado. Pra quem não sabe, o fandangossauro é uma espécie rara de dinossauro, um estegossauro colorido e sorridente, que tem nas costas uns fandangos gigantes no lugar das plaquetas. O conjunto todo tem um ar meio bobo, com o objetivo aparente de agradar os consumidores infantis. Faz parte de uma coleção de figurinhas lançada vários anos atrás pela Elma Chips, no tempo em que eu era criança.
Engraçado que naquela época eu nem dava bola pras figurinhas. Ia ao mercado aos sábados com meu avó, e no carro mesmo voltava comendo Cheetos com danoninho. Segundo a minha mãe, foram esses hábitos pouco saudáveis que estragaram a minha saúde, me deixando menor e mais fraco que todos os meus irmãos e primos.
A tal da figurinha me despertou um saudosismo daqueles sábados. Do barulho da Variant do vó acordando a gente bem de manhãzinha; da vó xingando pela casa, "Que pressa que tem que ir correndo tudo!"; da confusão fervilhante de pessoas e carros na frente dos Mercados Chamma, aquelas se atravessando e atrapalhando as manobras destes, que por sua vez faziam barbeiragens tão grandes que faziam meu avó - motorista profissional por mais de trinta anos - proferir palavras de realmente baixo calão num tom realmente alto de decibéis. De cada vez a vó replicando "Credo Pedro!", e fazendo o sinal da cruz.
Já faz mais de um ano que a figurinha está comigo, e eu fico imaginando se o saudosismo vai aumentar com o tempo. Mas que credo Paulo! Você tem só vinte e cinco anos! Imagine se nós ressuscitássemos o tal do velociraptor da Mongólia - que morreu faz uns sei lá quantos milhões de anos atrás, supostamente sob um deslizamento de areia, engalfinhado com um protoceratóps - e mostrássemos uma das figurinhas da infància dele, o saudosismo que o bicho não haveria de sentir!
Ultimamente quando passo na casa do vó e vejo as mesmas coisas todas ainda ali, no mesmo lugar em que sempre estiveram desde que eu posso me lembrar, é inevitável que eu comece a divagar. Vai me dando uma sensação estranha, que não é ruim nem boa, que eu acho que é a sensação que se sente quando se é muito velho, e sabe que as coisas são como são, e que tudo está como está porque é bem assim mesmo que é pra ser, inclusive essa minha vontade doida de ir contra, mesmo que acabe soterrado sob todo o peso de todo o resto das coisas contra as quais eu não tenho como lutar.
Aí eu desperto do transe, vou até o banheiro pra lavar a cara e aproveito para dar uma boa olhada nesse meu rosto, que de vez em quando eu chego a acreditar que é o rosto do último dos dinossauros modernos.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui