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Contos-->Ironias e Descobertas -- 07/10/2006 - 15:08 (Heleida Nobrega Metello) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

IRONIAS E DESCOBERTAS



Cada vez mais concentrada em meus passos para que fossem certeiros, sem tropeços, senti um frio estranho e intenso perpassar os obstáculos da minha espinha.

A elegante senhora, logo à frente, acabava de atravessar a rua. Sequer percebeu a parada brusca de um carro ao meu lado.

O seqüestro se consumiu.

Após não muito tempo de estrada, jogaram meu corpo feito saco de farinha sobre um trapo almofadado e sujo, num cubículo úmido e sem janela.

No outro cômodo, uma conversa sussurrada e grosseira ecoava fracamente em meus ouvidos: dólares, jóias, contas no exterior, etc.

Do que falavam? De quem? Minhas idéias embaralhavam-se mais e mais...

Tentava rezar, tentava entender o ocorrido. Por que eu? Que tipo de vantagem meu seqüestro poderia trazer? Para quem?

Não conseguia elucidar nem uma coisa, nem outra. Sentia fome e frio.

Tentava manter-me sob controle, para que meu juízo não se esvaísse pelo ralo do pânico. Subitamente, a porta foi aberta e um descontrolado rosto vestido de meia de nylon barata, gritou:

- Você não tem medo de morrer?

Não me ocorreu emitir um mísero som, tampouco, manifestar qualquer sinal assentindo. Permaneci emudecida pelo pavor.

Possuído por uma exaltação demente, o mascarado assustou-me ao jogar o telefone em minha direção.

- Fale com seu marido, sua inútil! Diga-lhe que tem medo de morrer e que não hesitaremos em matá-la, caso se recuse a seguir nossas instruções.

Prossegui calada, mergulhada no irreal, até que uma imensa mão fechada arremeteu um violento soco em meu rosto, pela ousadia do silêncio.

Ele parecia saber onde me machucar realmente, pois acertou precisamente o lado mais comprometido por antiga cirurgia.

A dor despertou meu raciocínio:

- “Para que o desgaste? Não valia tanto. Falar do medo de morrer, quando meu medo de viver parecia-me tão mais significativo.”

Não, não iria falar. Permaneceria muda, pois caso ousasse falar, teria que escutar até os últimos dias de minha vida, o quanto o meu retorno havia sido ‘dispendioso’.

Jamais! Não permitiria tal humilhação. Não mesmo! Preferia morrer com dignidade.

Dois dias se passaram sem que eu voltasse a ser molestada. Um naco de pão e um copo de água por dia conseguiram manter-me desperta.

“Eu não era tão frágil”, pensei com certo orgulho.

Na terceira manhã, por mais uma vez fui pega de surpresa e amarrada bruscamente. Meus olhos, obviamente, mantidos sob uma mal-cheirosa venda.

- Você é um ignorante! Ouvi em seguida, ficando em posição de alerta para o que pudesse vir.

- Como conseguiu errar o alvo, prosseguiu um deles, aos berros, após semanas e semanas de vigilância!

Não pude ver, mas pela agitação percebi claramente que estiveram próximos de matar um ao outro pelo terrível engano e, finalmente entendi, mesmo em meio à confusão ali instalada, que o seqüestro havia sido programado para aquela elegante senhora que atravessava a rua, no átimo em que me cercaram e me empurraram com violência para o interior do carro.

Foi exatamente aí, que eu, Maria da Glória, sem nenhuma glória, acabei mergulhando na maior depressão de minha vida. Tudo por certificar-me, repentinamente, de que não valia um tostão sequer!

No entanto, julgando que fosse ser morta para que não deixassem rastro do seqüestro, assim como, da total falta de competência, concluí, não sem espanto, que permanecia com vida e abandonada numa estrada escura e vazia à margem de um rio totalmente insensível.

Insensível, pois nenhum argumento conseguiu fazê-lo apiedar-se diante de minha súplica ao pedir-lhe carona, pelo temor de desviar suas águas da direção do mar.



Heleida Nobrega Metello
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