Eu queria lhe dar um beijo sem fim,
Que me trouxesse a guerra
E me ofertasse a paz,
Que me fizesse pensar em tudo que eu vivi,
Nas coisas que sonhei
E nas que eu não sonho mais...
No movimento hídrico das nossas línguas
Eu beijaria os amores que passaram
Nos meus tempos de rapaz,
Lembraria dos porres com os amigos,
Das glórias e dos fracassos,
E dos meus olhos estendidos na beira do cais...
Reviveria as rodas de crianças
E a mágica ciranda,
Dobraria os meus joelhos na matriz,
Brindaria aos anos que se foram
E em cada velho reveillon
Fingiria ser feliz...
Sentiria novamente as dores mais agudas
E os intensos gemidos de prazer,
Leria os livros empoeirados
Guardados na estante,
Que embora admirados,
Eu nunca quis ler...
Passearia na praça da cidade
Abraçado com o amor
Que por ingenuidade eu soube perder,
Beijaria a face da minha mãe
E as mãos dos meus avós,
Rostos cansados que eu nunca mais vou ver...
Nadaria para uma ilha distante
E quando lá chegasse
Encontraria a mim,
Com os olhos fechados,
De mãos dadas contigo,
Num beijo assim sem fim.
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