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Contos-->TEMPO DE JAMAIS VOLTAR -- 15/10/2006 - 22:56 (Heleida Nobrega Metello) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



TEMPO DE JAMAIS VOLTAR


Já não é uma ilusão o ponto de chegada. Não é mais o perfil inatingível do horizonte, o qual sonhava um dia afagar meu rosto.

Dou as últimas braçadas enquanto o brilho da areia ofusca meus olhos no instante em que o sol navega e joga seus raios sobre os quase invisíveis grãos.

Não posso permitir que sucumba o sobejo de sopro que ainda circula em meu corpo. Não agora, depois de ter enfrentado mares crespos, mares lisos, ondas gigantescas que me levaram ao topo, um palmo do céu, para depois jogar minha pele, meus ossos, minha carne, minha alma nas suas profundezas, donde pensei não ser possível o refluxo.

E após rolar e rolar dentre correntes contrárias a minha sorte pude agradecer pela oportunidade de apreciar a beleza das formas e das cores, o pulsar da vida incrível que existe por lá.

Contudo, devo confessar: nem sempre o retorno à superfície significou o respiro esperado.

Afadigado, por centenas de vezes fui obrigado a enfrentar a fúria que me aguardava do lado de fora: ventos fortes a açoitar-me sem piedade. E em vão aguardei a visita da suave brisa para aliviar as dores do meu corpo. Em vão esperei o tempo de repousar sobre a imensa pedra de esmeralda em que as águas se transformam quando seu espírito se aquieta. Uma luta quase titânica.

Recordo-me do momento em que dei minhas primeiras braçadas sem jamais calcular tantas adversidades. Meus cabelos agora brancos, frágeis e longos se embaraçam com facilidade e chegam a atrapalhar meus derradeiros movimentos.

Estou quase chegando... no entanto, sei que ainda não é o momento da despedida. Sei exatamente quando e como devo desfalecer sobre aqueles minúsculos grãos que tanto se assemelham aos diamantes nas rochas.

E quando eu puder derramar sobre eles tudo que amealhei nessa travessia, aí sim, poderei descansar em paz e assistir a entrada da robusta, feliz e ingênua criança a colocar os pezinhos nas primeiras espumas de um mar ainda sereno.

Sinto-me deveras extenuado. É certo o ditado que diz que no mundo do Senhor existe um tempo para cada coisa. Meu fôlego mal permite que eu possa emitir meus últimos sons, de tal forma que aquela linda criança ainda possa me ouvir:

"É meu tempo de ir embora e permanecer para sempre junto ao passado. É tempo de jamais voltar. E você, futuro, terá em breve o novo tempo em seu poder. Pegue-o com cuidado. Não abuse dele. Saiba ser bondoso. Permita que cada segundo, cada minuto, cada hora, cada dia possam ser coroados de coisas boas, belas e verdadeiras. Esse é o segredo para que você se fortaleça a cada braçada por esse mar adentro. Esse é o segredo para que se torne esplêndido e glorioso."


dezembro de 2005
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