Usina de Letras
Usina de Letras
12 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62282 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50671)

Humor (20040)

Infantil (5457)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6208)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Ética, questão de classe -- 21/10/2002 - 12:36 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ao longo de épocas inteiras, um número incontável de pessoas trabalhou sem ter uma teoria ética. Elas se preocupavam e lutavam apenas pela sobrevivência. À medida que a civilização se desenvolveu, uma minoria conseguiu colocar-se à margem da luta pela existência e teve tempo para indagar-se sobre o justo e o bom, o injusto e o mau, sobre qual seria a vida ideal para o homem. Desenvolveu-se também um sistema legal. A esfera da lei é uma parte, codificada, da esfera da moral e está sujeita a medidas de castigo impostas pelo poder de um Estado impessoal.

Os integrantes dessa minoria viviam afastados da luta pelas necessidades da vida, consideravam a bondade como algo abstrato e refinado. Tendiam a identificar a justiça e a vida sem preocupações com a sobrevivência com sua condição de existência e com a perpetuidade desta condição. A discussão da ética e do bem-estar estava desvinculada das condições concretas da existência humana.

Em todas as sociedades e civilizações, o homem criou o ideal de vida e julgou as coisas e os fatos como bons ou maus segundo a facilidade ou dificuldade que estas coisas e fatos representavam para ele. Não existe uma moral imparcial, uma ética acima das classes. "A justiça dos gregos e dos romanos sustentava que a escravidão era justa. A justiça da burguesia de 1789 reclamou e impulsionou a abolição do feudalismo porque o considerava injusto... A concepção da justiça eterna varia, assim, não só segundo o tempo e o lugar, mas também segundo as pessoas que a julgam" (Friedrich Engels, O problema da habitação).

Karl Marx e Engels afirmavam que, em uma sociedade de classes, os juízos morais e seus fundamentos diferem segundo as classes, e que "as idéias dominantes em uma época são as idéias das classes dominantes" (A filosofia alemã). Encontramos no mundo antigo um imperador e um escravo defendendo a mesma filosofia; e, no mundo atual, burgueses e proletários advogando, às vezes, o mesmo ideal.

A ética é uma criação humana, um reflexo das necessidades e desejos, esperanças e aspirações do homem em sua própria consciência. Os conceitos morais mudam da mesma forma que as condições materiais de vida, as forças de produção e as relações produtivas e não podem ser em nenhuma época mais elevados que o nível da estrutura econômica. Uma sociedade escravista não pode crer na fraternidade e igualdade.

Aristóteles (filósofo grego, 384 a 322 antes de Cristo), por exemplo, acreditava que os escravos eram incapazes de ter uma vida virtuosa.

A vida social é impossível sem certos princípios, regras e ideais que prescrevem a maneira que os indivíduos têm de se relacionar um com o outro ou diante de uma situação determinada. Ao tratar-se de uma sociedade dividida em classes, os conflitos morais refletem as divisões classistas e tratam de justificar as relações econômicas existentes, ou de mudar estas relações. Com base nesse posicionamento os conceitos de bem, de justiça e outros parecidos tomam seu significado.



Império da mercadoria



A ética do capitalismo está baseada na propriedade privada e na produção de mercadorias. O capitalismo trata as relações humanas como relações objetivas de um mercado. E o mercado não se preocupa com a bondade moral, a amabilidade ou a justiça. Ao capitalista interessa obter o máximo de proveito de seus negócios. Ele não se importa com o salário ou com as condições dos trabalhadores de onde vêm os seus lucros ou no que estão sendo afetadas as condições de vida no planeta, como foi constatado na reunião Rio +10, onde os países capitalistas mais poderosos recusaram qualquer proposta que mexesse com seus lucros. As relações econômicas assumem um caráter impessoal, até o ponto em que parecem puramente relações objetivas de mercadorias, com as quais nada têm que fazer as considerações morais.

No capitalismo, o ideal dominante é o êxito, a prosperidade, o auge econômico; sua precondição é olhar o trabalho manual como algo inferior; seus objetivos são a independência econômica, devido à prosperidade de um negócio, os lucros de um investimento ou "trabalhar por conta própria". O ideal que esse sistema apresenta aos membros da sociedade capitalista é de tal natureza que só é possível ser alcançado por alguns, à custa da maioria.

Afirmar que esta é a natureza do capitalismo não significa negar que existam valores morais pessoais, como a integridade, a honestidade, a amabilidade, a generosidade e outros sentimentos humanitários. Mas a natureza do sistema econômico capitalista impõe limites às melhores intenções e atua sem levar em conta os valores morais. Quanto aos proletários, o custo da retidão resulta freqüentemente na perda do emprego, na inclusão de seu nome na lista negra, na perseguição política.



Atitude conseqüente



Hoje, pela primeira vez na história da humanidade, existem facilidades para produzir artigos materiais suficientes para garantir uma existência decente para todos os homens. A responsabilidade da pobreza e da exploração devem-se às relações econômicas, fundadas sobre a propriedade privada dos instrumentos de produção. É necessário substituir o sistema social que multiplica pobreza e disparidade social por outro, onde os homens atuem em cooperação. E os trabalhadores, os explorados e oprimidos são diretamente interessados nessa substituição.

Ser ético, na atualidade, significa atuar em defesa dos direitos e dos interesses dos trabalhadores e das instituições através das quais esses direitos e interesses são preservados, entidades democráticas e populares, sem as quais não há perspectiva de progresso humano. A tentativa para resolver os problemas atuais recorrendo às chamadas verdades morais universais e eternas, ao "bem comum" da humanidade em abstrato, corre o grave risco de ser simplesmente um gesto vão e até de obstaculizar as soluções possíveis. A moral serve para ajudar à humanidade a levantar-se a um nível mais alto e terminar com a exploração dos trabalhadores." A ética é boa caso possa resultar em bem para todos os homens. A moralidade consiste em um código de princípios que pode guiar os homens a valorizar seus atos segundo favoreçam ou prejudiquem a satisfação de suas necessidades e desejos materiais e espirituais. É boa e moral toda melhoria do nível de vida das massas do povo.



Para a elaboração deste artigo foi utilizado o livro "Socialismo y Ética", de Howard Selsam. Ediciones Siglo Veinte. Buenos Aires, Argentina. 1946.



Leia também Gente de pouca fé.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui