No estacionamento de um super-mercado, um homem andava à minha frente, carregando uma bolsa de papel cheinha de tomates. (Pra quê tanto tomate, meu Deus - parodiando Carlos Drummond de Andrade.)
Vai que, de repente, não mais que de repente (desta vez, é Vinícius), o homem tropeça em alguma coisa e se espatifa no chão. Tomates se esparramam por toda parte. Ao tentar se levantar, o homem se apóia em alguns dos tomates e os esmaga, sujando as mãos, fazendo uma tomatada sem fim...
Um adolescente estava passando e caiu na gargalhada. Por pouco eu não comecei a rir também, porque a cena era de lascar. O homem olhou para o rapaz e gritou, possesso:
-- Não é nada engraçado, não!
Ao que o outro respondeu:
--- Engraçado não é, mas que é gozado, é!
Pegou num dos tomates, jogou e acertou-o na bolsa que tinha permanecido de pé no chão, como cesta à espera de ser usada. Mais um tomate que se esmaga, dessa vez, lá dentro da sacola.
Um samaritano ajudou o caído a se levantar e também ele se lambuzou de tomate. Lembrei da guerra dos tomates na Espanha. (A isto se chama intertextualidade.)
Apareceram voluntários para recolher os tomates. Os frutos que se foram para baixo dos carros, por lá ficaram. A bolsa, de cheia, passou a ser meio-cheia. O homem, de mãos machucadas com a queda e a calça suja do chão, vermelho como a mercadoria que tinha carregado, murmurava agradecimentos.
-- Se mal pergunto, por que o senhor comprou tanto tomate? -- alguém se aventurou a indagar.
--- Porque eu gosto de tomate. Faço sopa, salada, bolo e sorvete de tomate.
Ouvindo sua resposta, pensei: engraçado não é, mas que é gozado, é.
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