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Contos-->O Teatro -- 09/11/2006 - 12:28 (Ed Carlos Bezerra da Silveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Teatro

Ao meu lado há um corpo nu. Tão maravilhoso e esplêndido quanto de uma brancura sem igual. O corpo cheira a flores campestres quando estamos a borrifá-las, felizes e distraídos. Lindos cabelos doirados e luzidios descansam no leito desarrumado. Enormes olhos olham-me atentamente e a sensação que me passa é de prazer e satisfação. Estamos em um quarto de motel. Seus cabelos servem-me como cobertor neste frio ao qual meu corpo não está acostumado.
Estou deitado, colado ao corpo cheiroso e sedutor de uma mulher que me encantou o coração, que não me é de papel. Ah, que magnífica é a pequenez de sua mão tão bem feita e que grandiosa é sua pele, tão feminina. Apaixonar-me por essa mulher é algo a que não pude resistir. Ela repousa junto a mim, tão espaçosa e fogosa, quanto plena de carinho e dengo. Suas pernas juntaram-se, tão delicadas. Ela as cruzou e as deixou semi-abertas, logo percebi que se tratava de uma letra. Letra ‘’P’’. Paixão, talvez!
Estávamos encenando uma peça de teatro onde ela me falava bobices e eu só olhava seu corpo nu e cheiroso. E como cheirava bem, Deus meu! A formosura que invadia os dedos de seus pés era algo que causaria inveja aos anjos celestes mais lindos que possamos imaginar. Seus seios, tão brancos quanto fartos, eram o que mais me impressionava. Amor, amor, amor. Essas eram as palavras que ela mais me falava, deitada junto a mim, manhosa, mimosa, prendada. Retratava a peça, fria e romântica, as nossas diferenças como homem e mulher. Nós falávamos besteiras, deitados em uma cama de motel barato. Estávamos despreocupados, ambos nus. Disse-me ela que achava os homens imorais e não românticos. Eu concordava plenamente, não queria discordar e, tampouco, parecer não romântico. Ficou brava comigo de repente e disse-me que eu era um tolo. Seus lábios róseos tagarelavam-me tantas idiotices... e eu só apaixonado por minha companheira de quarto. Diaba dos infernos que me tomou o coração! Ficou brava, pois achava que eu deveria contradizê-la. Estava certa, de fato! Era assim que daríamos continuidade ao que estávamos a priori destinados a fazer: o teatro!
Um pequeno quarto de motel barato, onde a luz bruxuleante cobria nossas mentes e nossos corpos nus da vergonha e da moral que nos faz vestir roupas vulgares, pois achamos que estamos sendo safados. Ah, como somos tolos e ingênuos. Estávamos ensinando a nós mesmos jeitos de vivermos felizes. Ui! Como ela cheirava bem. Ora um bálsamo de âmbar, ora uma fragrância de amor, ora a vontade de amar.
Comecemos então? – perguntou-me ela.
- Claro, claro, meu benzinho – falei.
- O que achas do amor?
- O que devo achar, então?
- Eu não sei - respondeu-me a pequena. - Diz que o amor são as mulheres e que os homens são os românticos.
- Eu quero dizer. Eu... bom... amar... amar... eu sou romântico, te dei flores! Sou homem e romântico!
- Achas que por teres me dado um buquê de flores és romântico? – falou-me esta.
Sim.
- É um tolo por acaso? Diz-me, o que achas do amor?
- Uma flor?
- Há, há, há, não passas de um imbecil!
- Não me acho.
- Estou te perguntando e me respondes com uma pergunta, tolinho? O que é o amor?
- Ora, se não são as mulheres maravilhosas! Tu poderias ser amor, uma flor!
- Recita-me uma poesia e se eu gostar dou-te um beijo, se não... uma bofetada.
- Eita! Um beijo será bem-vindo por mim, já quanto à bofetada, eu não acho necessária.
- Dar-te-ei se necessário for, e tu gostarás.
- Não acho que vou gostar. Mas se pretendes a poesia, vamos a ela:
Você é o amor da minha vida
Paixão que envolve meu ser
Serei seu por toda vida
E você será minha até morrer.

- Quero mais! Eu gostei. Há, há! Te livraste da boa bofetada, hein mancebo?
- É necessário, meu benzinho!Depois eu recito, se queres. Depois. Tenho aqui comigo uma bem bela!
- Gostei, gostei, gostei.
- Não esqueceu nada, você?
- O quê?
- Aqui em meus intumescidos lábios, um belo beijo você prometeu!
- Depois do delicioso beijo, levantei-me da cama e me dirigi à janela onde reluzia vívida luz de cores várias. Avistei com meus olhos de nuanças brilhantes um tropel de crianças idiotas que brincavam alegremente, envolvidas todas, na negritude da noite. Ressoaram-me aos meus ouvidos algumas risadas gostosas e insignes. Era minha dama que me ria. Falou-me logo após, que ria, pois minhas nádegas estavam amassadas. Sentei-me novamente junto a ela. Tocou-me a mão e eu toquei a dela gostosamente. Hum. Que mão! Estava fria, tensa e maravilhosamente perfumada. Não teve outro jeito, lasquei-lhe um beijo e ela só me olhou sorridente. Ela gostou. Olhei bem no íntimo de seus olhos e vi-me brilhante e corado. Logo pensei: estou enamorado. Tantas coisas importantes e eu enamorado. O bom é amar, o ruim é quando não encontramos por quem enamorarmo-nos.
- E a paixão? – perguntou-me a minha Mademoiselle.
- A paixão é a mesma coisa. – Respondi. – Quantos anos tu tens?
- Vinte primaveras. Mas o que tem isso? És idiota?
- Nada. Apenas perguntei.- Disse a ela e tomei-lhe novamente as fofinhas mãos e quando eu ia grudar-lhe uma beijoca, lascou-me um empurrão que não pude resistir, beijei o chão do maldito motel.
- Então me diga, você ama?
- A ti, meu benzinho. – Falei, me levantando do miserável chão.
- Não perguntei a quem!
- A ti, meu amorzinho!
- És sonso?
- Sonso, não. Apaixonado! Saiba que teu cheiro me embebeda. Teu corpo me enamora e teus beijos me enlouquecem.
- Muito bem! Por isso, ganhas um beijo meu, pois meu coração é só teu. Tantas coisas eu sonhei, príncipe meu e planejei tantas outras. Ao teu lado quero viver. Até as últimas gotas eu te darei do meu sangue escarlate, pois o amor que agora é só teu, pulsa tão voraz! É só por ti que me perdi. Porque é só a ti que amo e que estou hoje tão despida ao teu lado, sentindo teu calor e teu amor. Recitas-te aquele poema a mim, e agora me encontro perdida. Salve-me de tuas garras romanescas e liberte-me de dentro de teu coração apaixonado. Mas se desejas me amar loucamente, pois não quero teu amor sossegado, toma-me nos teus braços e beija-me em meus lábios que estão ambos a arderem de tanta paixão.
Levantou-se ela. Olhou-me por cima do ombro e sorriu. Ah, que dentes! Fez jeitinho mimado e mandou-me um beijo enamorado que me tocou o rosto que ardia em brasa, tão vermelha quanto à paixão.
- Me amas?
- Com todo meu amor! Com todo meu coração que não me é de papelão! Com todo meu carisma masculino e com toda a minha doçura.
A pequena de lisos cabelos abraçou-me.
- Me amas? – perguntei a ela.
- Claro, seu idiota!
- Me amas? – repeti.
- Absolutamente, seu imbecil!
- Me amas? – tornei a repetir.
- Sim, seu palerma!
- Não acredito.
Emburrei-me e tomei ares de criança mimada. Veio-me ela docilmente em pequenos passos, na pontinha de seus minúsculos dedos gostosos; caminhou e, logo em seguida, bem perto de mim, onde pude sentir o calor e o cheiro de seu corpo, mordeu-me a orelha violentamente.
- Emburraste, infeliz? – perguntou.
- Ah, me deixa, você. – Respondi.
- Emburraste, paspalhão? – repetiu.
- Ah, já disse para me deixar!
- Emburraste? – tornou a perguntar.
- Ah. Não é da sua conta.
- Então fica emburrado e vai para o diabo! – falou-me esta.
Logo arregalei meus olhos e fui me retratar com o amor de meu coração. Claro, ela é mimada e tem todo o direito de o ser realmente.
A pequena toda nua, desfilava para mim, a garota toda nua, unicamente pra mim. Ora deitava, ora levantava, ora sentava e sempre me sorria com alegres lábios. Ela ora deitava de bruços e cantava uma sonatina idiota da sua infância, ora balançava os pés e olhava-me acima do ombro, deitada, nua e maravilhosamente esplêndida. Ah, como seu corpo é sedutor e como seus seios tão firmes e fartos, valsavam alegremente para mim quando ela estava a desfilar. Pegava uma revista qualquer e fingia estar lendo. Eu só ouvia sussurros de uma voz suave e doce. E quando achava que seu fingimento já não estava sendo necessário, alçava ambos os olhos coloridos, vagarosamente, sedutores, apaixonados. Presenteava-me com tanta sedução que me dava na cara. Galharda! Galharda! Galharda! Falei a ela gostosamente. Respondeu-me com um palmo de língua e logo após, sorriu. Diabinha! Quando eu chegava muito próximo de seu corpo cheiroso, ainda deitada, afastava-me com seus pequeninos pés, ambos de uma só vez.
- O que queres tão perto de mim, malandro?
- Beijar-te! – respondi.
- Beija o diabo!
- Não o quero, é feio e fede a enxofre.
- Beija o diabo, pois as minhas belas faces esses feiosos beiços jamais tocarão novamente!
- Não o quero, é horrível, te quero! Beijarei e gostarás muito.
- Beija o diabo! Sai de perto de mim, mancebo dos infernos! Anda, sai! Ui! Ai! Feioso! Malandro! Ei, me larga! Me larga! Beija mais! A minha orelha. Me beija na orelha, eu gosto. Ui, a outra, a outra! Ai, meu queixo. Há, há, há. Não te quero, já disse! Meu pescoço, agora! Ai, mancebo desgraçado! Pára! Eu já disse que não quero. Por que parou, imbecil? Aqui no outro lado do pescoço. Há, há, há.
Beijei a diabinha nas bochechas, no queixo, na orelha e nos sorridentes olhos e pescoços. Depois me pediu ela para desmaiar-lhe outros voluptuosos beijos.
- Me faz mais teatro, eu quero.
- Não farei! Quero ir embora, agora! Tu me beijaste demais e eu já enjoei disso tudo.
- Ainda é cedo, me faz teatro, pois eu gostei.
- Tu não sabes fazer? Homens não servem para nada!
- Sirvo sim! Me faz teatro. Desfila para mim, é bonito te ver assim toda maravilhosa!
E ela fazia. Desfilava, colocava uma perna na cadeira e juntava alegremente a outra, que formavam letras várias, pois ela mudava de posição vezes variadas. Eu estava adorando encenar com aquela mulher maravilhosa. ‘’Faça-me mais, faça-me mais, pois eu gosto’’- dizia a ela, que me fazia muito mais. Meu Deus do céu.
- Está bom assim, seu malandro?
- Sim, sim, sim. Quero muito mais. É muito bonito! Bravo! Olá! Olé! Maravilha! Dança, dança, meu benzinho!
- Tu me cansas desta forma, hein? Quero parar!
- Não pára, não pára, gosto de te ver desfilar, meu amorzinho.
- Não falamos ainda das nossas diferenças – falou-me gostosamente ela.
- Não quero! Se ditarmos diferenças, brigaremos. Não quero! Quero teatro!
- Vai para o inferno, pois não quero mais encenar.
- O que queres, pois?
- Que tu desfiles.
- Eu?-perguntei assustado.
- Sim. É tua vez.
- Se tu queres, desfilarei.
Comecei a passear pelo chão acarpetado de tão vulgar motel. A luz bruxuleante tornava o ar ainda mais tépido e sombrio. Ela sorria de um sorriso tão gostoso quanto envolvente. Levantou-se a pequena e cantarolando a mesma sonatina de antes, idiota e engrolada, chegou próximo a mim e começou a valsar gostosamente. Nós dois nus, valsando e sorrindo alegremente. Cansou-se a pequena e se dirigiu à cabeceira da cama. Pegou uma maçã que descansava em uma bandeja prateada. Mordeu a fruta e trouxe-me. Eu ainda passeando por todo o quarto, nem ligava. Nu! Ela também. Quando ela bem perto de mim chegou, ofereceu-me a fruta maravilhosamente. Tinha uma mordidela. Mordi com voracidade a maçã e mastiguei com muito mais.
- Dança, dança para mim’’! - disse-me ela.
E eu obedeci. Dancei tanto que minhas pernas já não agüentavam mais. Falou-me a pequena:
- Quero vinho!
- Vamos beber, então. – Respondi e fui buscar Dionísio.
Abri a luxúria e desmaiei boa dose de vinho escarlate em sua taça cristalina. Bebeu de um só gole o bom vinho e embebedou-se a Mademoiselle que se chama Nicolly.
- Quero mais!- pediu-me ela com altivez e prepotência. Suas faces enrubesceram por medidas do bom Dionísio, e eu sorri por isso. Perguntou-me:
- Do que ris?
- Rio de tuas faces! – respondi ainda sorrindo.
- Ora, seu tolinho. – Ela trovejou-me, as palavras distorcidas, sorrindo também de suas meninices.
- Quero mais!
- Dar-te-ei, portanto.
Descansei mais um bocado de Baco.
- Mais!
Repousei mais um outro bocado e, num estalar de dedos, dormitou Nicolly, profundamente inocente, com a cabeça encostada em meu peito aflito. Seus longos e luzidios cabelos cobriam-me e, assim, o frio de meu interior fugia a longos passos. Adormeci com aquele cheiro gostoso de mulher, misturado ao do vinho e sonhei com a dama que dormita ao meu lado. Fizemos teatro, falamos de amor, dançamos uma valsa descompassada num quarto de motel. Ela adormeceu nua junto a mim.
Acordamos horas depois, rimos e saímos tagarelando coisas sem importância, sem culpa, sem segredos, sem qualquer tipo de regras estabelecidas a nós todos os dias. Saímos, pois! Andamos por todos os lados. Sua magnificência não mudava nunca! Paramos e nos olhamos. Mergulhei em seus olhos e vi-me profundamente interiorizado neles. Ela, por sua vez, beijou-me os lábios e, logo após, nos abraçamos dizendo que nos amávamos muito e que seríamos felizes até onde durasse o nosso amor.

Ed Carlos Bezerra
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