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Contos-->Izabelly -- 09/11/2006 - 12:36 (Ed Carlos Bezerra da Silveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Izabelly

Cap:I


Gosto de caminhar para o recanto
Sou poeta, vagabundo e um desencanto.

Era mês de junho para julho e as folhas já se amarelando desmaiavam sobre mim suavemente.
Estou excitadíssimo para rever algumas pessoas que há muito tempo eu deixei ao partir. Chamo-me Lucas Carracine. Estive fora de minha cidade por muito tempo. Antes, eu residia na casa de minha irmã, contra minha vontade. Ela, contudo, não me viu partir. As brigas com meu cunhado estavam insuportáveis e isto tudo estava me deixando um homem doente e perturbado. Atrapalhado pelo fato de eu ser uma pessoa que não gosta de hipocrisia e canalhices. E enfermo, porque certos meses do ano, os mais frios, causam-me infortúnios.
Tenho uma irmã maravilhosa a qual amo muito que se chama Katarine, dona de grandes olhos brilhantes. Tem uma boca extremamente sensual, porque a mulher é sensual por natureza. O cheiro de sua pele é como perfume de rosas do campo. Minha irmã é de uma ternura que não existe em nenhuma mulher. Ah, isso eu posso dizer com firmeza.
Ela é casada com um canalha que me causa excessiva raiva só em mencionar seu nome. O inescrupuloso chama-se Otávio de Magalhães e faz questão de esbanjar sua fortuna com coisas supérfluas. Gosta de menosprezar todos aqueles que não têm dinheiro; os mais pobrezinhos e infortunados. Esse velhaco é um aristocrata dos diabos. Ainda me faltam maiores razões para acreditar no porquê minha irmãzinha, minha querida irmãzinha de pele tão rosada, foi se casar com um homem como aquele desmantelado. Nunca tivemos dinheiro, isso é coisa certa. E que algumas vezes passávamos apurados, são coisas resolvidas. Mas, com mil diabos! Isso não era motivo para ela se casar, ainda mais com uma pessoa como ele. Acho que acima de tudo, ainda existe o amor perambulando pelo coraçãozinho de minha irmã.
O diabo que o leve para o inferno, onde é o seu lugar. Sim, porque o lugar da linhagem desse canalha é ao lado da caldeira de Pedro Botelho. O demônio lá arrancará sua pele com seu enorme tridente, o chifrudo tem lá dessas coisas.
Minha mãezinha se chama Antonieta, também mora com Katarine e aquele sujeito, que para falar a verdade, não pretendo mencionar o nome por hora. Agora estou aqui nesta estação de trem esperando o maldito partir; aguardando a partida que me levará ao endereço de Katarine e mamãe. O mesmo endereço que eu as deixei alguns anos.
Encontro-me devorando um pedaço de pão que trouxe da casa de meu amigo, para matar as ansiedades de meu intestino; já se faz hora de almoço. Quando saí da casa de mamãe e Katarine, fiquei perambulando pelas ruas, dormindo na casa de amigos do peito e comendo o que a boa vontade deles me oferecia de coração. Te digo que são pessoas dignas e de costumes admiráveis. Sobretudo, quando decidi ir ao encontro de minha querida irmãzinha, eu estava alojado na casa de um grande amigo meu, que a princípio, ofereceu-me vários comeres. Mas eu só peguei esse pedaço de pão; um naco de pão ordinário, porque não queria causar mais aborrecimentos a ninguém.
Antes disso tudo, eu carregava moedas ordinárias. Entrei em um restaurante de aparência duvidosa e pedi uma sopa de couves. Estava tão indigesta, que a mandei para aquele lugar. É bem claro e justo dizer: não sou um homem rico, pois mal tenho dinheiro para comprar um pedaço de um pão vulgar. O demo que cuide de minha fome. Verei mamãe e Katarine, mesmo que isso cause adversidades para mim. Eu as amo, são minhas preciosidades. Nem aquele tolo, ou mesmo a fome, me farão mudar de idéia. Em minha cabeça as coisas já estão resolvidas há muito tempo. Irei para o encontro de Kati. Gosto de chamá-la desta forma, quando pequerrucha eu a chamava assim, são coisas mimosas, coisas mimosas de infância. Vou para o encontro delas e direi que as amo muito, muito e muito... E que o motivo de minha partida há tantos anos, foi apenas porque a convivência com indivíduo era quase insuportável, era intolerável aquele parlapatão de uma figa.

Cap: II
Quando almejamos descansar
Sempre vem alguém para nos apoquentar.

O trem demorou ainda um bocado de tempo e Carracine já estava ficando irritado. Quando a composição parou na gare, Lucas imediatamente levantou e dirigiu-se para a entrada. Ao entrar, viu o seu bilhete marcado com o número 45. Abriu a porta da cabine com certa violência e encontrou um homem corpulento. Esse homem tinha uma barriga descomunal, enorme. No colo uma viola, uma pasta e seus pertences comuns.
Quis puxar conversa, mas Carracine nem sequer olhou para sua enorme cara bochechuda. A cabine onde iriam viajar era toda luxuosa, decorada com cortinas sofisticadas de rendas e bonitas poltronas que cheiravam muito bem. De vez em quando, uma mulher bonita, esbelta, com o semblante fino e lábios pequenos, vinha à cabine onde estavam e oferecia-lhes vinho trivial. Durante todo o tempo, o homem corpulento não parava de falar, sorvendo a bebida em goles enormes.
- Gosta de viola, senhor? - perguntou o homem a Carracine.
- Não, não gosto. - Respondeu-lhe secamente.
- Qual seu nome?
- Lucas Carracine.
- Chamo-me Gustavo Pierre - disse o homem.
- Não lhe perguntei nada meu senhor, quero apenas que me deixe fazer minha viagem em paz. – Falou, quase aos gritos.
- Para acalmar seus nervos, senhor - falando com ar engraçado e gesticulando com suas mãos enormes -, cantarei uma de minhas canções prediletas. A minha canção exalta as maravilhosas mulheres, as raparigas mais lindas.
- Não quero ouvir nada do senhor. Saiba que estou extremamente irritado com suas pilhérias. Vou mandá-lo para o diabo se o senhor não me deixar em sossego por essas horas de viagem.
- Quero apenas conhecê-lo - exclamou Gustavo. – Ouça, meu bom rapaz, e depois lhe deixarei em paz. Juro.
- Vá, vá, vá. Cante a sua maldita canção. Mas, por favor, seja breve. Pois quero que saiba que não estou para cantorias.

Cap: III

Eu adoro todos os cabelos das gurias
Os lisos, que coisa linda
Gosto muito dos revoltosos
E daqueles que bailam langorosos.
Oh, meu Deus do céu, que belas madeixas
Que dançam lânguidas em suas costas
Tenho vontade de falar palavras mortas
A esta dona de belas cabeleiras.
Não sou nenhum trovador
E tampouco sou truão
Eu quero te narrar todo o meu lindo amor
Para te dar sempre a minha paixão.
e por acaso eu te causo aborrecimentos
É só porque não sou tão bom cantor assim
Eu apenas estou te narrando meus lamentos
E contando a você os meus grandes sentimentos
Para que você se orgulhe de mim.

- O que achou de minha canção, meu bom rapaz? Não se envergonhe - perguntou Gustavo a Carracine.
- Não gostei e quero que se dane. - Disse Carracine, extremamente irritado.
- Sim, te deixarei em paz. Saiba meu bom rapaz, és muito irritado. Isso de nada te trará boas coisas, posso te dizer. E ficas sabendo: não me importo com teu mau humor, eu não me importo. Quer ficar aí como um bobalhão? Que fique.

E a viagem seguiu... Não em silêncio, pois o homem, entoava sua canção exaltando as maravilhas femininas.

Cap: IV


Minha irmã está bela
Lembro quando eu puxava a orelha dela.

O trem correu viagem por quatro horas e, ao chegar, Carracine logo se levantou frenético e impaciente. Pagou uma charrete para levá-lo ao seu destino, onde não demorou mais que quarenta minutos.
Assim que chegou, viu uma linda casa, pintada de branco, com um jardim muito verde e florido. Havia um enorme portão, dando para entrever vários criados e perto deles, uma bela mulher vestida aristocraticamente. Ela tinha lindos cabelos. Seus delicados dedos seguravam uma minúscula sombrinha. Estava muito alegre e brincava com as borboletas, que rodeavam-na, batendo as pequeninas asas para cima e para baixo. “Uma beldade’’- exclamou abobado o pobre do mancebo.
Ele, ainda apalermado diante de tanta beleza e ingenuidade, não percebeu um empregado que se aproximara...
Deseja algo, senhor? – perguntou o criado.
Sim, desejo falar com Katarine.
Qual o seu nome, senhor?
- Lucas Carracine, irmão de Katarine e filho de Antonieta.
Um momento, senhor - disse o empregado.
Enquanto isso, Lucas apreciava a menina que brincava com as borboletas...
As folhas pós-verão, avermelhadas, desfilavam desordenadas no ar. O vento, mesmo com o sol suave, ainda soprava frio, desmanchando seu lindo coque. Seus trejeitos desengonçados e seus pequeninos braços brancos, jogando a sombrinha de um lado para o outro, davam mais charme a seu ombro que desvendava a maciez inconfundível de uma pele esbranquiçada. Mesmo vestida como uma nobre mulher, seus pés nus, contemplavam a grama verde, que em troca deste gesto sublime e puro, deste primor da natureza, amaciava a polpa inferior de seus pezinhos, saltitantes como crianças ao barro; ela contemplando a grama, deixando gostosas marcas.
A fragrância de seu corpo sedutor desmaiava no ar um bálsamo de amor, metamorfoseando com outros saborosos aromas da natureza. Os seios brancos, ricamente enfeitados com um belo vestido, davam mais sedução ao seu semblante fino, emagrecido, esbranquiçado. Os lábios afinados, cor de rosas vermelhas e decrépitas, conversavam com as borboletas, tornando-a ainda mais linda e sedutora. Izabelly, tão feminina...
Ele perdia a noção de tudo ao vê-la daquela forma, só imaginava seus lábios junto aos dela. Lábios rubros, intensos. Olhos grandes e coloridos como camaleões ao se disfarçarem. Olhos que se abriam e fechavam graciosamente. Donzela intacta à brutalidade. Inocência pueril de menina brincalhona. Suave desejo do amor. Volúpia, primor, admirável paixão delituosa. Mãe do mundo, dona do ventre fecundo.
Katarine desceu correndo rumo ao portão para recebê-lo.
- Meu irmão, por onde você esteve por esse tempo todo? Eu estava com muitas saudades.
- Minha querida irmã, minha querida irmãzinha, você não mudou absolutamente nada. Continua bela como sempre. Amável como sempre e delicada como nunca. Saiba que minha partida foi necessária. Mas por ora, quero que me abrace e me beije. Também senti muitas saudades. Minha estadia nessa casa será breve. Diga-me, onde está mamãe?

Um breve silêncio...

- Mamãe faleceu. Isso ocorreu um ano após tua partida. – Respondeu Katarine com lágrimas nos olhos.

Lucas empalideceu. Ajoelhou-se ao barro negro da entrada do portão e começou a chorar.
Infortúnio minha irmã, infortúnio. Como isso pode acontecer? O culpado, diga-me quem é o culpado dessa desgraça em nossa família? Eu arrebentarei a cabeça dele e juro que vingarei mamãe.
Mamãe morreu tísica. Sua doença já estava avançada quando você nos deixou, nada podíamos fazer. E quero que saiba que Otávio foi muito complacente com o problema de mamãe. Por favor, seja cordial com ele. Tudo isso que aconteceu, acho que pode ter sido culpa nossa. Sobretudo você não devia ter nos deixado.
Ser cordial com o paspalhão? – perguntou Lucas, assustado. - O diabo que o carregue. Não quero ter maiores contatos com ele e, outra coisa minha irmã, eu não sabia do problema de mamãe.
- Eu também não sabia. – Falou Katarine com certa ira. - Mamãe escondeu isso de nós todos, sobretudo de ti. E não sei como agüentou isso tudo sozinha. Eu acredito que mamãe seja uma guerreira, sim, uma guerreira orgulhosa. Tu não achas, meu irmão?
Certamente, certamente – disse Lucas a irmã.
- Então paremos com esse choramingo. Vamos subir lá para casa, está quase na hora do chá. Quero saber de tudo, todos os pormenores. E tu dirás para tua irmã por onde andaste por tanto tempo. E que diabos de roupas fedorentas são essas? Que cheiro ruim, meu irmão. Vamos entrar, lá te darei roupas limpas e poderás te alimentar.

Subiram ambos abraçados.

Lucas ainda com lágrimas nos olhos, viu sua beldade brincando com as borboletas. Ela, completamente alheia ao tema, continuava linda, cantando com os rouxinóis.
- Aconteceu algo, Katarine? – exclamou.
- Não minha amiga, eu apenas dei a noticia do falecimento de mamãe ao meu irmão. Aliás, quero apresentá-lo. Ele é uma pessoa maravilhosa. Só um pouco carrancudo e fedorento. Suas roupas imundas estão causando este cheiro maldito, mas não se importe, pois ele tomará um belo banho e lhe darei roupas decentes para vestir. Acredito que se criará entre ambos uma amizade duradoura de fato, pois vocês são pessoas magníficas.
Encantado com tanta beleza, como se chama? - perguntou Lucas.
- Chamo-me Izabelly. Eu fico lisonjeada por tanta cortesia a minha pessoa.
- Sou apenas sincero, gosto de apreciar o que há de mais bonito em tudo que vejo. Gosto de falar verdades e estimular os sentidos. Isso precede tudo o que existe de real no mundo. Gostaria de lhe presentear com um belo poema que escrevi, aceita?
- Certamente, será um prazer recebê-lo. – Respondeu Izabelly.
- A tua beleza me fascina, tu és para mim o jasmim mais lindo do campo - disse Lucas olhando-a nos olhos. - Queres tomar chá conosco?
- Seria um enorme prazer. – Disse Izabelly corada.
Ela o fascinara de tal forma que por um instante ele esqueceu o infortúnio em sua família.


Cap: V


Otávio gosta muito de Dionísio
Mas ele abusa demais do bom fígado.

Otávio de Magalhães estava em um sofá luxuoso.. Parecia já embebedado pelo vinho, pois algumas garrafas se encontravam desmaiadas ao chão. Com palavras entrecortadas e, quase indecifráveis, mandava todos para os quintos, inclusive Lucas, que ficou encolerizado ao vê-lo.
Já sem paciência para aturar Otávio, Lucas exclamou enfurecido:
Então além de palhaço é bêbado também.
- Vai te catar. Você está na minha casa e quero que me respeite, seu fujão! Lucas, fui eu quem cuidou de tudo de sua mãe, quando você faltou como filho. E quero que saiba também, que suas críticas não me ofendem, nunca me ofenderam. Não me importo com nada que me fale, sou casado com sua irmã e a amo. Você não passa de um pirralho que não sabe nada da vida ou de responsabilidades. Você passou a vida inteira me odiando e odiando a si mesmo, simplesmente por birra. Não me importo. Não me importo mesmo. Fala que sou um bêbado anda, miserável, fala. Eu arquei com responsabilidades, você não. Você viajava e ninguém te encontrava. Não quero saber para que veio e nem me importo com você, só quero que me deixe aqui degustando meu vinho, vá, vá. Sou um bêbado e não devo nada a você.
- Saiba que não estou aqui por tua causa e te odeio de coração. Faltei com mamãe e isso são coisas minhas. Se não fosse por você, eu não teria ido embora. Você é um homem mau. Basta apenas um gole de vinho ordinário e vemos a verdadeira máscara de um idiota; você tem que ser mais humilde. Por acaso você já leu Os Miseráveis?
- Não li e não lerei. - Respondeu Otávio, com a voz enrolada.
- Você é um simplório de alma, um inculto- disse Lucas.
- O diabo te leve. Não venha me tomar como um rapazola em minha casa. Não quero mais falar com você. Saio agora mesmo, porque não quero nem olhar para esta tua cara desaforada.
Katarine ouvindo tudo em silêncio, gritou frenética:
- Parem com isso os dois. Não admito isso aqui em minha presença. Se quiserem se matar, duelem lá fora. E outra, que morram. Ou então venham a mim e dêem-me um beijo, cada um de vocês. Ambos não passam de uns bobalhões. Encerremos essa discussão enfadonha. Vocês estão agindo como crianças. Saibam que é muito ruim ouvir toda essas besteiras, sobretudo de ti meu irmão, que somes e apareces já brigando com Otávio. Quero que saibam que estou muito irritada. Olhem como estou irritada. Olhem-me, seus tolos!
Neste mesmo instante entrou Izabelly com os pés nus no chão empoeirado...

Cap: VI


Tenho nos meus segredos uma coisa
Tão bela que derruba a minha dor
Não quero você como uma simples esposa
Eu desejo você como te dou o meu amor.

- Senhorita. - Disse Lucas curvando a cabeça.
- É muito gentil. Saiba que aqui nesta casa está faltando um pouco de bom humor. - Falou Izabelly, olhando para Otávio, que se retirava.- Fico aqui muitas vezes sozinha, me perdendo a brincar no jardim.
- É mais bonita que a flor – disse Lucas. – Eu a vi com as borboletas e a achei fabulosa.
- Por que fala essas coisas para mim? Por favor, não se apaixone por mim, não quero isso de forma alguma. Não diga que está, mesmo por que não nos conhecemos deveras. Sou uma pessoa muito difícil de conviver. Saiba que desejo ficar sozinha a minha vida toda.
- Talvez esteja apaixonado deveras, mas infelizmente minha estadia nessa casa será breve. – Bradou calmamente e entristecido Lucas. – E se te disser que te quero como esposa?
- De forma alguma isso seria possível. – Disse Izabelly.
- De forma alguma? Ora, sei que não sou lá muita coisa com relação a dinheiro. Viver pobremente não é de forma alguma vergonhoso. Você é uma rapariga muito bonita e merece o melhor dos homens. Não digo que serei eu, não digo, não digo. Só acho que se não se casar ficará para titia.
- O que tem a ver com minha vida? – perguntou Izabelly corando as bochechas.
- Ora boa rapariga, só desejo dizer que gostaria muito de casar-me com você; respeitá-la, amá-la, e tudo mais... Irei embora em poucas horas, mais poderei te levar comigo para vivermos os dois juntos felizes e pobres. Pobres, porque não quero ter pecados, os ricos são pecadores e merecem o fogo do inferno. Eu sou uma pessoa paupérrima. Não de alma, mas de coisas materiais. Diga-me, diga-me se gostaria de ir comigo viver, mesmo que pobremente. As coisas já estão resolvidas para mim, e agora só penso em ti. Veja como tudo corre muito rápido: eu mal a conheço e já me apaixonei. Talvez seja o teu trejeito desengonçado, ou as tuas formas pueris e simples. Não sei, não sei. Só quero que me diga: vais comigo viver pobremente? Talvez até miseravelmente, “Jean Valjean’’ era grande personagem de Victor Hugo. E digo mais, digo que os melhores humanos, as melhores pessoas, são as mais pobres, porque em seu coração reina a simplicidade. E veja minha pequena rapariga, que aquele idiota não é nada humilde nem humano; aquela coisa parece mais é um estorvo. Mas não estamos a falar daquele sujeito e sim do amor que sinto por você. Isso está causando umas coisas engraçadas em meu coração. Agora quero que me fales alguma coisa e não fiques aí com esta cara assustada, não gosto que fiques me olhando dessa forma engraçada. Tudo isto é muito complicado para mim; sou um miserável, mas um miserável que sabe das coisas. Gosto muito de ler e escrever, e também gosto de política. Porque um país precisa de políticos não despudorados, você está me entendendo, minha criança? Pois creio que está , creio que sim. Pois está a me olhar com muita atenção. Parece até que irá me esbofetear a carantonha. Gosto muito que me dê atenção, gosto muito. Sou uma pessoa muito corajosa e tenho mãos para trabalhar. Veja você que quando mamãe era viva, eu a ajudava bastante. Só depois que a pequerrucha se casou, foi que tive um desequilíbrio mental muito grande. Gosto muito de minha pequerrucha, e custa-me muito deixá-la novamente. Não consigo viver com ele aqui, é penoso demais.
- Deus, como você fala!
- É muito necessário que eu fale, minha criança. Escute mais um bocadinho. Veja bem, vou-me embora. Eu só vim ver minha Katarine e mamãe, que agora não se encontra mais conosco, minha querida mamãe. Mas as coisas estão resolvidas. Depois deste chá delicioso irei embora e, se quiseres vir comigo, serei um homem muito feliz. Diga-me o que achas e dependendo da resposta não te encherei mais com minhas baboseiras.
- Por favor, não. Eu sou uma miserável e você tão gentil. Tenho que viver miseravelmente para pagar o meu pecado e, acho que em toda a minha vida, não conseguirei pagar. Não quero que te apaixones e nem que esperes nada de mim, pois sou uma rapariga desgraçada e muito má, sim, muito má. Às vezes, eu desejo mal às pessoas mais gentis e bondosas. – Disse ela freneticamente. – Tenho que sofrer para pagar tudo o que fiz a mim e a todos... Não descansarei enquanto isso não for realizado. Não sou mulher de dever nada a ninguém; não deverei nada a Deus ou ao demônio. Sou orgulhosa. Meu orgulho me fere e machuca outras pessoas. Eu pagarei, ao demônio ou a Deus, ou a ambos. Pagarei com todos os juros que forem necessários. E te digo, que se eu fosse tua esposa, estarias a me presentear com bondades. Eu só mereço as maldades mais cruéis e impiedosas. Sim, sou cruel e maldosa. Meu coração é uma pedra. Houve um dia que um mendigo me pediu algumas moedas para comer pão, e eu o xinguei. Esbofeteei sua cara suja e chutei-lhe as nádegas... Eu sou uma pessoa má, má e má. E não quero ter coisas boas em minha vida. Agora me entendes? Tu és tão bom rapaz... Veja como estou corada perto de ti, meu bom homem. Eu sou uma mulher cruel, mas tenho sentimentos. Sobretudo, sentimentos de mulher. E te digo que és também muito bonito.
- Ah, sim. Um bocadinho elegante, nada mais.
- É bonito.
- Já que acha, meu benzinho... Não digas mais nada. Sentemo-nos e vamos tomar chá junto. Veja, bombons, frutas, bolos deliciosos, queijos vários, pãezinhos e um bom chá quente que minha pequerrucha nos trouxe, ela logo voltará para juntar-se a nós neste fim de tarde, não percamos tempos com tolices. Se não queres ser minha esposa eu não te forçarei. Saibas que te estimo muito.
- Hum... Como és bom. – disse Izabelly. – Tens um coração de leão e és tão bondoso...
Logo chegou Katarine para se juntar a eles. Conversaram bastante sobre assuntos diversos em gestos animados. Izabelly admirava-o. Ele sempre que podia mandava olhadelas a ela, onde dava para ver seu rosto, que mesmo sem querer, transpirava admiração e desejo. Ele não podia ficar ali e entristecia-se com isso. Ela sabia que sua partida estava breve e, sentia uma mistura de desejo e admiração, num rosto oprimido pela tristeza. Suas mãos, suadas e trêmulas, mal podiam segurar a xícara de chá, que suavemente lhe beijava os lábios rosados.
Neste mesmo dia, Carracine resolveu escrever. Sobre um papel finíssimo fez uma carta de despedida a ela.
Depois quando todos estavam dormindo, levantou-se suavemente e vestiu-se. Depôs a carta em cima de um móvel bonito e visível, olhou por um momento a sala onde se encontrava. Lágrimas rasgavam seu rosto...saiu sem fazer barulho rumo ao seu destino...

Cap: VII

Uma carta eu te escrevi
Pois pra você eu já morri

.Queria poder beijá-la uma única vez. Talvez não fosse justo, ainda mais se tratando de uma pessoa como você.
Não seria eu, o homem certo a beijá-la e amá-la, como eu acho que deveria ser, mas eu te amei. Viverei doravante como um andarilho e morrerei como os grandes mestres da literatura, que também sofreram como eu, por causa das falhas do mundo e da ausência do amor.
O amor sempre está ausente. Ele nunca é demais para nós. Deve ser por isso, que permanece pouco tempo dentre da gente. A necessidade de procurarmos sempre a diferença, o novo, é o que faz de nosso amor, ausente, curto. Andamos sempre contra o vento, só para sentir ele contra nós mesmos. Sempre procuramos as dificuldades. Acho que é também por isso, que nunca amamos de verdade.
Peço que nunca esqueças de mim, bem como nunca esquecerei de ti.
Tudo o que pensei e passei, servirá como um ensinamento. Talvez eu passe para algumas pessoas o que mais achei digno no mundo: a simplicidade.Quem sabe isso seja a única coisa que o homem ainda não conseguiu acabar?
Saiba que como amante de tudo que é bonito e verdadeiro, admirei você muito. Você é uma beldade entre monstros. Uma luxúria intocável, pois foi feita sob medidas sublimes, para ser contemplada sem os toques brutais de nossas ásperas mãos.
Acho que conheci uma boa parte do mundo em que vivo. Os teus sentimentos pueris, sobretudo, são de uma grandeza impressionante.
Eu buscaria um bocado de estrelas do universo para dar todas a você, se me fosse possível. Eu viveria olhando você sorrir todo tempo. Talvez seja isso tudo que sonhei.
Diga a minha irmã que a amo muito e que talvez não nos vejamos mais. A você, ficam minhas lembranças e o desejo de que seja muito feliz.
Tudo o que sentimos e passamos na vida pode servir para darmos mais valor a ela, pois nunca vivemos duas situações semelhantes. Na vida tudo é uma única vez.
Não esqueci o poema que prometi a você. Aprecie e nunca deixe de sonhar, pois sonhar também é viver, mesmo que por um instante.


Os ventos já se foram para muito longe
Junto com ele a fatal sedução.
O amor e a mulher são pura atração
Que transpira ardor
Por onde sempre vai vazar
Uma brasa de paixão.


Ed Carlos Bezerra Atenciosamente L.C.
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