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Infanto_Juvenil-->VOCÊ ACREDITA EM FANTASMAS? -- 14/12/2003 - 10:59 (ADELMARIO SAMPAIO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O FANTASMA

Quando eu era adolescente, meu pai contava muitas estórias de assombração. Eu e meus irmãos gostávamos de ouvir, e todos sempre que podíamos estávamos ao redor dele apreciando da sua habilidade nesse particular. E não só nós os filhos, mas algumas outras pessoas da família ou não, se juntavam a nós nessa escuta prazerosa e por vezes arrepiante.
Havia uma minha prima que quase sempre, também por outros interesse, estava no nosso meio também apreciando as conversas. É que nesse tempo, eu e ela estávamos naqueles namoricos de criança que muitas vezes nos deixam saudades. E quando meu pai contou uma estória de uma mulher que vinha atormentar o marido que se casara com outra, a minha prima disse que se ela morresse e eu arranjasse outra namorada, ela viria todas as noites me atormentar.
O tempo passou, nós crescemos e tanto eu como ela arranjamos outros amores. Mas havia sempre uma brincadeira entre nós quando nos víamos, dizendo que iríamos atormentar o outro.
Anos mais tarde ela morreu. E eu fiquei sempre me lembrando dela, de quem eu gostava mais como uma irmã, e das brincadeiras que fazíamos um com o outro.
Quando comecei a freqüentar a faculdade durante a noite, não tinha mais tempo de jantar em casa, e por isso a minha mãe deixava sempre um lanche, ou mesmo um prato da janta pra mim. E como eu não resistisse à tentação, por vezes, mesmo a contragosto por causa do horário avançado, comia toda a comida. Esperava um pouco que fizesse digestão, mas acabava dormindo logo.
Foi nesse mesmo tempo que comecei a ter uns pesadelos como os tivera quando criança, no tempo das saudosas estórias. E sofri muito com eles, porque via sempre a minha prima. Ela sempre aparecia rindo de uma forma irônica, apontando o dedo para mim, e eu sempre acordava sobressaltado. Foi nesse tempo inclusive que comecei a ser sonâmbulo como conseqüência.
Os pesadelos coincidiram também com um novo relacionamento que tive com uma colega de turma, e logo comecei a sonhar com a minha prima me acusando, e recordando em sonho é claro, tudo o que acontecia comigo e a minha nova namorada. Havia também nesses sonhos, um angustioso diálogo em que eu tentava me defender das acusações.
Sem falar com ninguém sobre o problema, resolvi consultar um médico e não falei sobre o fantasma que via, mas sim dos pesadelos que me perseguiam durante a noite. O médico me encaminhou a um especialista da área psíquica, e tive um acompanhamento, mas os meus pesadelos continuavam.
Falei com a minha namorada, e ela como era de família evangélica, acabou por me convencer a ir à igreja. Disseram que era um demônio de adivinhação e era por isso que sabia de tudo o que acontecia entre nós. Expulsaram o demônio repetidas vezes, fiz uma corrente freqüentando regularmente a igreja, mas os pesadelos não acabavam.
Foi então que um dos meus colegas disse a mim que sua namorada tinha tido alucinações, e que elas acabaram quando foram ao centro espírita, e descobriram tudo o que acontecia com ela. A pressão e o cansaço que eu tinha eram tantos que acabei indo também ao centro espírita, e numa das sessões ouvi clara a voz da minha prima. Acabei por freqüentar por um tempo o centro espírita, mas os pesadelos continuavam.
Continuei com esse problema por muito tempo, até que um dia conheci o Poeta, um homem estranho que conheço que tem demonstrado a sua sabedoria em todos os sentidos, embora seja muito simples no seu modo de vida e de falar.
Um dia desses, quando o visitei, ele percebeu as minhas olheiras e o meu ar de casaco. Eu acabei contando dos pesadelos, da minha prima que aparecia nos meus sonhos, e as suas estranhas adivinhações do que acontecia comigo durante os dias. Contei dos diálogos que tinha com e menina, e da angústia que sentia quando tentava me defender.
O meu amigo ficou calado por um tempo e depois disse:
_ Vou te dar uma receita para que esse tormento acabe. Mas preste bem atenção às minhas instruções. De hoje em diante você vai comer uma maçã vermelha a cada uma hora depois das seis horas da tarde. Não coma mais outra coisa. Tome um pouco d’água em um copo de vidro transparente, todas as vezes que comer a maça vermelha. Quando a moça aparecer nos seus pesadelos, pergunte coisas a meu respeito. Por exemplo, como é o nome do meu pai, da minha mãe, onde eu nasci, quantos cabelos eu tenho na cabeça, quantas vezes eu respiro por dia...
_ Mas estas coisas são absurdas, amigo... Nem eu que sou seu amigo sei as respostas...
_ Mas pergunte, porque se é um espírito mesmo que está te seguindo, deve estar aqui agora, vai saber todas essas respostas... Não importa, faça o que estou dizendo, e vamos ver o resultado...
_ E as maçãs, precisam ser vermelhas?... – eu perguntei com ironia.
_ Claro que cada detalhe deve ser seguido à risca... Copo transparente, e tudo...
Essa vez foi a primeira que duvidei da sabedoria do meu amigo. Eu não o tinha como um curandeiro, ou um bruxo, mas como um sábio poeta, e agora ele me saia com essa. Mas para que não transparecesse que eu estava duvidando do seu tratamento, resolvi assumir uma atitude de que iria fazer o estranho tratamento.
Mas como não acreditei, não fiz.
Mas uma semana depois, quando cheguei em casa, minha mãe tinha guardado umas maçãs, o invés da janta que sempre guardava. Comi então uma delas, tomei um pouco d’água, e fui dormir mais cedo, porque não precisava esperar que fizesse a digestão.
No outro dia, tinha novamente uma maçã na janta. Uma semana depois eu já estava acostumado a comer uma maçã na hora de dormir. E levei um grande susto, quando me lembrei do meu amigo. Lembrei que ele havia me receitado umas maçãs vermelhas durante as noites acompanhadas de um pouco d’água. Percebi que nesses dias que a minha mãe não mais guardara a janta e que eu estava comendo as maçãs, não tivera mais pesadelos, e fui falar com meu amigo.
Ele parecia me esperar. Elogiou meu estado, e percebeu que eu estava melhor. Contei das maçãs que estava comendo à noite, mas não contei que não tinha acreditado nele. Perguntou se eu tinha feito as perguntas ao fantasma da minha prima, e eu disse que sim, umas poucas vezes que ela apareceu nesses dias. Então ele disse:
_ Você está curado.
Eu o olhei espantado. Ele continuou:
_ Seu problema era o seguinte: Dormia com o estômago cheio, e tinha pesadelos. Como tinha arranjado uma namorada há pouco tempo, lembrava no subconsciente do que sua prima disse, e essas lembranças, faziam com que você acabasse sonhado com ela. E era você mesmo quem “adivinhava pra ela”, o que acontecia. Como você passou a fazer perguntas pra ela que nem você sabia a resposta, ela também não sabia...
_ E porque “maçãs vermelha”?
_ Qualquer maçã... Eu disse vermelha, só pra dar mais um toque de mistério, porque todas as pessoas gostam de mistérios. O copo transparente também é um detalhe inteiramente dispensável, mas dá também um toque de magia ao tratamento. Uma pessoa que não goste de tomar água, acaba tomando se você receitar um comprimido a cada meia hora com um copo d’água. É um jogo psicológico. Só a água não funciona...
Eu fiquei pensando calado, e ele perguntou:
_ A sua mãe vai bem?...
_ Você conhece minha mãe?... – eu perguntei estranhando.
_ Conheci quando fui levar as maçãs, e recomendar que não mais desse janta pra você nessas horas.
_ Quem disse pra você que eu jantava tarde?
_ Você mesmo, uns tempos atrás. Eu já tinha ligado seus pesadelos com a sua mania de comer tarde e dormir com o estômago pesado...
Nunca mais tive pesadelos, nem vi o fantasma da minha prima.

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Adelmario Sampaio
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