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Contos-->Um ônibus chamado George -- 04/12/2006 - 14:51 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Fernando Zocca

Van Grogue saiu do bar da tia Lucy Nada naquela manhã de sábado e pensando em assistir o Corinthians pela TV achou que chegaria mais rápido à sua casa se tomasse o ônibus por ele já visto a aproximar-se lá na esquina do outro quarteirão.
Era a segunda volta completada pela jardineira naquele dia. Todos sabiam ser bem tumultuado o percurso feito pelo veículo. Diziam que os sinais de trânsito não eram tão respeitados e que se alguém bobeasse na frente dele, poderia sofrer algumas surpresas desagradáveis.
Grogue fez sinal para o motorista; o carro parou e Van pôde então entrar. O ambiente no conhecido George, não parecia muito acolhedor. Seu condutor era magro, já passado da meia idade. Tinha os cabelos brancos e fizera tratamento contra o alcoolismo.
Depois de pagar sua passagem Grogue notou que o motorista respondia com muitos erros de português, aos que lhe dirigiam a palavra. Porém havia muita determinação nos movimentos que efetuava para dirigir, bastante energia mesmo. Yes, sir!
O ônibus foi conduzido até sair do bairro onde estava o famoso bar da tia Lucy Nada. Num dado momento o condutor pôde perceber que o espaço interior, antes vazio, escasseava e o aglomerado de pessoas, que se comprimiam, tornava a marcha do carro bem lenta. O motorista resolveu então proibir o ingresso de mais gente dentro daqueles limites.
Quando estavam quase chegando ao ponto central da cidade, de onde prosseguiriam ao outro extremo da urbe, uma Belina velha, conduzida por um famélico competitivo, tocou levemente na lateral direita dianteira do ônibus, provocando alguns danos materiais.
O condutor da marinete foi abalado por um susto tremendo. Alguns passageiros disseram que ele ouvia, pelo rádio, a transmissão da aula dada por professoras a um grupo de crianças do primário.
O chefe tomado por uma indignação enorme passou então a perseguir os albaroadores; queria prendê-los. Mas não conseguindo êxito com os primeiros movimentos da ação vingativa, saiu do trajeto destinado ao seu veículo e, tomando rumo diverso entrou, em compasso acelerado, num bairro que ele julgava ser o local onde residiam os causadores dos danos.
A grande maioria dos passageiros protestava contra as atitudes bélicas do condutor, mas de nada adiantava reclamar ou queixar-se. Outros se postaram ao lado do dirigente e apoiavam seu comportamento vingativo; davam palpites que eram prontamente seguidos pelo motorista.
A impressão que se tinha era a de que os palpiteiros desejavam a destruição total do veículo que os levava. Talvez fosse por ressentimento provocado por atrasos ou serviços mal prestados.
A filha do cabeleireiro Armando Frênico, um morador antigo do bairro e residente na vizinhança da tia Lucy Nada, agarrada ao assento berrava a plenos pulmões. Tomada por uma fúria histérica ordenava a parada imediata do ônibus. Ela queria descer e esgoelava aos prantos: “A moela, a moela. Parem! Eu perdi a moela que comprei. Parem imediatamente! Um quilo inteiro de moela, num saco plástico. Assim não dá! Vocês não fazem nada e ainda roubam. Se pelo menos fizessem alguma coisa!” Depois com o cenho fechado rosnou em direção ao motorista, soltando a palavra entre os dentes cerrados: “Gracinha!”
Um jovem que também se agarrava nas poltronas, olhando para seu vizinho do lado esquerdo, pôde perguntar aos berros: “Quem é essa doida que quer saber de carne, a essa hora, dentro dum ônibus desgovernado?” O interlocutor mais assustado ainda respondeu aos gritos: “Essa é a Nilbe Frênica, filha do Armando Frênico. Mas não liga não. Ela é daquelas que confunde ´Ralou hein?´ com Hallouween e check in com chequinho.”
O coletivo entrou então num bairro muito pobre. E com aquela velocidade, com aquela força bruta, foi violentando as coisas do lugar. Os desarranjos eram terríveis. Poder-se-ia comparar aqueles movimentos a uma tempestade.
Via-se muita poeira no ar; dezenas de crianças e pessoas idosas assustadas, aos prantos e desesperadas correndo pelas ruas. Era o caos, um inferno de barulho, fumaça, gritos, e choro.
Os palpiteiros defensores do refrão “quanto pior, melhor” assopravam idéias que sem dúvida levariam à destruição maior.
Anos mais tarde depois de passado o episódio, alguns observadores poderiam comparar e classificar aquelas atitudes insensatas com outra semelhante tomada trinta anos antes, por antigo condutor equivocado.
Cançado, sem poder identificar e prender os causadores do choque, o motorista desistiu da perseguição e resolveu voltar ao ponto central. Relatou as ocorrências aos policiais que o aguardavam e preencheu relatórios enormes a pedido dos proprietários da empresa.
À noite, pelo noticiário da TV não pôde conter seu espanto ao ver as cenas de dezenas de ônibus sendo queimados por populares revoltados.
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