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Contos-->O Destino -- 13/12/2006 - 10:06 (anderson jose de aguilar) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Destino


Foi há alguns anos e essa estória aconteceu no céu.

O céu é organizado. Tudo tão arrumadinho que só podia mesmo ser no céu.
No meio de tanta organização, no departamento dos “ Destinos “, um bom velhinho de cabelos e barba brancos e longos – era o redator-chefe – estava há horas debruçado sobre a mesa escrevendo todos os destinos dos espíritos que deveriam vir à terra, encarnados nos homens.
É bom que se fale que a lei do céu é dura, é justa, e desse modo não pode ser modificada de jeito nenhum, e isso é confirmado no cap. 9 da Lei da Justiça Divina.

Bem, depois de folhas e mais folhas escritas e revisadas, esse bom velhinho estava muito cansado. Na verdade estava esgotado, havia terminado de escrever o último “Destino” daquele dia.
Estava muito alegre e orgulhoso ( no bom sentido), muito satisfeito com esse último destino que acabara de escrever. Era formoso, e o espírito que cumpriria o escrito, teria uma bela missão na terra.
No entanto, se no céu tinha tantos velhinhos bons, tinha também anjinhos muito, muito peraltas, curiosos e espoletas, e que adoravam fazer travessuras.

Pois é, o velhinho redator, esgotado pelo cansaço – afinal não era fácil escrever tantos destinos – acabou dormindo ali mesmo, sentado e debruçado sobre as folhas daquele último destino que tinha acabado de finalizar.
Afinal, tirar uma gostosa e merecida soneca após o término do trabalho, não era contra a lei. Além disso, assim que acordasse, ele mandaria os escritos para o Departamento de Impressão e pronto.
Isso feito, o espírito em questão, tomaria conhecimento do que fora escrito para ele, e logo que partisse para a terra, esqueceria tudo, para poder cumprir a lei.
Por que esquecer o que lera?
Muito simples. Se aqui na terra ele ainda se lembrasse de tudo, poderia modificar o que tinha sido escrito para, desse modo, facilitar sua missão aqui na terra, e já sabemos que isso não é permitido.

Muito bem, vamos voltar ao sono do nosso cansado redator.

O que aconteceu enquanto ele dormia, foi que um anjinho muito sapeca e curioso, entrou na sala e simplesmente deparou com o velhinho roncando em cima de toda aquela papelada. Roncava e babava, nossa!!
Aqui prá nós. Existe uma situação mais atraente e convidativa para se fazer uma bela de uma travessura do que essa?
Pois é. O anjinho não iria deixar passar uma oportunidade dessa, e não deixou.

Primeiro, ele puxou o roupão do velhinho, isso mesmo, os velhinhos lá no céu se vestem com um roupão branco e bem esquisito, que mais se parece com uma grande camisola.
Depois disso, fez tranças nos longos cabelos e os amarrou à barba. Nesse momento o velhinho deu uma roncada mais forte, deu uma senhora esprequiçada e voltou a ficar quieto. O anjinho levou um susto, mas vendo que foi apenas uma bela esprequiçada e vendo todas aquelas páginas escritas, resolveu brincar com elas.
Pegou uma aqui, pegou outra ali, juntou essa com aquela, aquela com essa, fez uma mistura danada com as páginas. Para incrementar ainda mais, fez o mesmo com as palavras.
Como?
Ora, os anjinhos, assim como todos no céu, sabem fazer mágica, e mágica das boas.
Foi usando essa mágica que ele tirou uma palavra daqui e passou prá lá, tirou outra de lá e passou prá cá.
Ficou nessa brincadeira até cansar e deixar tudo bagunçado na mesa, e foi brincar com os outros anjinhos nas nuvens, o quintal do céu. Não sabia? As nuvens são o quintal do céu.
Algum tempo depois, o velhinho acordou assustado, tinha dormido demais. Juntou todas as páginas pela numeração, e por um instante achou que algo estava errado, mas fez pouco caso e foi correndo até o Departamento de Impressão, a gráfica do céu.
Lá chegando, entregou tudo ao velhinho que era o chefe da gráfica – como tem velhinho no céu – não sem levar uma senhora bronca, pois já estava em cima da hora da impressão.
O espírito que cumpriria aquele destino, estava um tempão esperando para ler o que fora escrito para ele.
E foi exatamente nesse momento que se instalou a maior confusão no céu.
Um verdadeiro bafafá, um corre-corre danado, um verdadeiro pandemônio.
Aquelas folhas de papel mostravam um destino tão confuso, tão atrapalhado, que mais parecia ser um quebra-cabeça. E um baita quebra-cabeça.

E toda a confusão começava pela construção da cruz que o espírito deveria trazer para a terra, pois todo espírito traz a sua cruz, ela representa a Redenção, a Resignação e a Salvação.
Acontece que todas são feitas de madeira, umas mais pesadas, outras mais leves, umas maiores, outra menores e por aí vai, mas ... aquela ... aquela cruz ...
Nossa mãe, para cumprir o que estava escrito naquelas folhas, ela teria que ser construída de ... chumbo.
Puxa vida, de chumbo!

- Como de chumbo?! Eu não escrevi nada disso. Gritou sem nada entender, o velho redator.

Qual a sua surpresa quando lhe foi mostrado as páginas daquele destino que ele tinha escrito.
Ele não conseguia entender e muito menos explicar.

- E agora, o que fazer?

- Se está escrito, não pode ser modificado.

Disse com tom firme, o velhinho chefe da gráfica. É a lei.

Em meio a todo aquele alvoroço, pois a notícia do que acontecia logo se espalhou pelo céu, apareceu na oficina o anjinho travesso, causador de toda aquela confusão.
Chegando lá, vendo o escarcéu que aprontou e vendo a cara de desolado do espírito, que a esta altura, tão desanimado estava com o que lera, que procurou uma cadeira para se sentar e lá ficou, e tão cabisbaixo que dava dó, o anjinho puxou um tamborete, subiu nele e com aquele jeitinho puro e doce, que só as crianças tem, falou bem alto :
- Fui eu que fiz toda essa bagunça. Vi aquelas folhas e fiquei brincando com elas, não sabia que ia causar todo
esse bafafá. Mas vou dar um jeito. Não se preocupem, vou consertar tudo, tudinho.

Ouvindo isso, o espírito levantou animado.

- Isso não pode ser feito. Soou uma voz bem forte vinda da porta da oficina.

Todos se viraram. Era o velhinho chefe da fiscalização. Repetiu o que dissera e encaminhou-se para a mesa onde o anjinho estava em pé.
Ouvindo isso, o espírito sentou-se de novo, mais desanimado que nunca o coitado.

- O destino depois de escrito e assinado, não pode mais ser alterado. Continuou.
Se isso for feito, vai de encontro à Lei da Interferência. O artigo 33 inciso III diz :

“ Nenhuma ação no céu ou na terra, pode interferir no cumprimento de um destino já escrito e assinado.”

O velhinho fiscal puxou o tamborete para se sentar e calmamente tirou o anjinho da mesa, o colocou sobre seus joelhos, olhou para todos, afagou os cabelos encaracolados do sapeca e falou :

- Mas existe uma solução.

Todos que ali estavam, entreolharam-se sem compreender direito o que o fiscal quis dizer.
Entretanto, o olhar cândido e vivo do anjinho começou a brilhar, enquanto o velho fiscal o fitava.
De repente, ele deu um salto e gritou:

- É! Tem solução.

Todos os olhares voltaram-se para ele.

- A Lei da Benevolência. Gritou com toda a força dos pulmões e cheio de alegria.
- Ela permite salvar até mesmo as almas mais pecadoras lá na terra, continuou.

- Senhor – disse o anjinho voltando-se para o velho redator – use a Lei da Benevolência no final do que
escreveu e antes da assinatura. O senhor trouxe as páginas sem assinar porque acordou e veio prá cá correndo, está lembrado?
Então, se fizer isso, não haverá alteração no que foi escrito e o espírito terá uma recompensa divina no final da missão dele na terra.

Todos sorriram. Era a saída. E assim foi feito.
O velhinho redator pegou a última página e antes da assinatura, escreveu um final bastante feliz para aquele espírito.

Na porta da oficina, uma jovem senhora, que ali estava há algum tempo sem ser notada, vestida com uma túnica branca e por um manto azul celeste, e com um capuz que lhe cobria os longos e negros cabelos caídos sobre os ombros, de expressão doce e serena, deu um sorriso ... e se afastou lentamente.


19/03/2004 Anderson Aguilar






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