Em toda cidade deveria haver uma praça dedicada à liberdade, a praça é do povo, já dizia o poeta.
Idealizo uma enorme, capaz de abrigar o orgulho e coragem de cada brasileiro que está reinventando o Brasil.
Em sua orla, semearia sabugueiros, para alegrar os passantes e invejar as solteironas, bancos, muitos bancos, todos de madeira, confortáveis e pintados de branco. Acho que ainda sou um romântico.
O manacá seria imperioso, mais umas duas ou três espécies de jasmins dariam o toque bucólico faltante.
Árvores do cerrado como protagonistas dos jardins centrais. Saguis e passarinhos, pretendo os tico-ticos, movimentariam as folhas dos jacarandás e pequizeiros. Os ipês de variadas cores estariam também presentes.
Não se assuste com o arranjo, porque são quimeras a serem organizadas por excelente paisagista.
No centro, bem no meio da praça, um busto majestoso, sustentando a efígie do poeta das estrelas, Olavo Bilac, um profeta dos tempos que estamos a viver. Ele, desde àquela, sabia ouvir estrelas.
Na banda direita, Cassimiro de Abreu, Gonçalves Dias e Castro Alves. Bustos ou estátuas de corpo todo, não me decidi.
N’outra o majestoso poetinha Vinícius de Moraes, o poeta plural, Marcus Vinícius de Moraes, em sua singela soberba, em pose de quem já partiu desta com convicção de que não foi pra melhor.
Ladeando este operário em construção, a maviosa clarividência do espantado Drummond, que mesmo sem ter nome de poeta, Carlos Drummond de Andrade, tornou-se deles um dos maiores. Este quero de chapéu, conforme estava quando no Rio, ao lado do Capanema... é para que todos o confundam com o Fernando Pessoa.
Completando a tríade, o grande e imaculado João Cabral de Mello Neto, o cantador das dores da gente sofrida do Brasil. O menestrel de Severina, em vida e morte, o homem do Auto da Compadecida, sabedor dos mais misteriosos escondidos da alma.
Entremeada a estes ícones da liberdade e da poesia, quero uma fonte de água límpida jorrando incessantemente, a claritude e pureza dessa boa gente de Minas, das terras dessa Uberaba hospitaleira.
Não tenho dúvida que todos que adentrarem a praça, imediatamente lembraram Manoel Bandeira, ora, ora, a omissão também chama a atenção, talvez, uma homenagem negativa.
Para inaugurar convidaria o povo. Não só o daqui, mas os de lá, os de trás os montes, os árabes da Palestina e da Tristão de Castro, os do Egito e da Síria, conforme seria desejo do Calixto Cecin. Também os Judeus, os sionistas, os marranos e os idiches, para louvarem Deus na Praça da Liberdade, ao ar livre, cada um com seu credo, falando ao Deus de seus corações.
Não convidaria autoridades ou personalidades, apenas o Gullar, é, o Ferreira Gullar, poeta mais imortal que os outros, é vivo e ativo, um dos muitos bons frutos que vicejam neste imenso Brasil.
Reconheço, minha praça, é machista, não homenageei mulheres, nem mesmo lembrei-me delas.
Perdoem-me Adélias, Clarices, Cecílias, e tantas outras que nem sei, mas a praça é do povo e ele não esquecerá tampouco das Florbelas, que dirá as divas pátrias que tanto fizeram pela liberdade de sonhar.
Fato também, e de todos sabido, é que, o moto contínuo do mover engenhoso dos poetas, nada mais é senão as Beatrices, Dulcinéias, Marílias.
A cada palmo de poesia, quilômetros de saudade, de mulheres, mães, esposas, amantes, namoradas, outras, noutras, filhas e avós, madrinhas, vizinhas e primas, sempre as primas.
E a praça teria luzes, muitas luzes de estrelas, para que cada um que nela passasse, pudesse brilhar em sonho de paz, amor e liberdade de estrelas.
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