Usina de Letras
Usina de Letras
156 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62178 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22532)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50582)

Humor (20028)

Infantil (5425)

Infanto Juvenil (4757)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140791)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6183)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->AMAR SEM RETORNO -- 12/09/2004 - 10:42 (IZABEL ROSA CORREA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
- Melhor estar com alguém que me ame e eu não ame, do que amar sem ser correspondida.

A frase ficou ressoando em meus ouvidos. Esqueci o rosto que a pronunciou, mas ela permaneceu. Latejante Incómoda como espinho. Não contradigo. Os verbos, substantivos e partículas invadem meus ouvidos sem resistência, atropelando os sentidos. Amar sem retorno.

A assertiva me atordoa. Anda comigo à beira-mar. Brinca na areia úmida enquanto crio um castelo de formas arredondadas e o vejo despencar ao contato com a primeira onda. Toma cerveja no copo engordurado do bar enquanto analiso a consistência de um sorvete de baunilha. Não há pensamentos. Não há argumentos contrários. Permanece intocável. No início, tímida, procurando espaço. Como cão desejando atenção do dono. Depois, vigia meus passos. Ao menor movimento, fica pronta para revidar um ataque, ressoando novamente sua afirmativa concreta. Quer ser interlocutora. Continua a repetir-se na ànsia de uma resposta. Estou vazia. Os pensamentos esgotaram-se todos em sentimentos revividos. Por que essa insistência? Tortura-me. Por que não me liberar da angústia?

Um lume pequeno avizinha-se. Não é frase. Não é idéia. É uma sensação de descrença. Quero revidar a asserção do comodismo. Enfurecer-me com a negação do amor. Uma rebeldia sem forças contra o sofisma explícito. A dor do esforço rouba-me energia e mergulho outra vez em imagens. O amor vivido. O amor sentido. Sensação presente e passada.

Repentinamente o sol no horizonte. Filtram-se raios entre nuvens espessas. Os esguichos do mar revolto transformam água em cristal. A lucidez me assalta. Amar não é receber. Amar é entregar-se por inteiro. Antes de qualquer certeza. Antes de qualquer indício. É vislumbrar no outro alguma coisa mágica. Única. Nunca antes suspeitada. E renunciar a si mesmo na busca cega dessa miragem. Beber palavras não ditas. Sorver suspiros, intervalos em comentários triviais. A respiração truncada. O peito arfante, aos gritos. Ou silenciosa melodia na conversa sem malícia. Companheiros de viagem. Nenhuma intenção exposta. Nenhum objetivo descrito. O toque leve. A presença do outro alterando o curso da vida.

Fecha-se novamente o cortinado de nimbos. A frase fica atónita com as minhas reflexões em cascata. A verborragia não era esperada após um dia inteiro de silêncio. Volta a se mostrar tímida, atordoada pelo eco arrebatado das minhas afirmações. A mim, parece que discursei truísmos repetidos há milênios. Há um vácuo. Nem eu, nem ela ousamos manifestar-nos. Ficamos respeitosos como inimigos que se reconhecem ferozes. Ela percebe meu recuo e se faz gueixa. Acaricia meus ouvidos. Cedo aos apelos e ouço seu canto de sereia. " Amar apenas na certeza do afeto correspondido..."

Minha voz se faz ímpeto de Julieta ferida. Surge como em um golpe de espada uma revolta incontida. Quero amar sem retorno. Sem certeza, sem nada. Quero estar apaixonada quando me entregar ao abraço. Mergulhar no cheiro, cor, fluido do corpo amado. Sem saber se haverá ressonància, regresso. Mesmo que seja miragem esse toque, esse gesto. Só está inteiro, completo, o ser que dissolve sua essência na ànsia de mergulhar. Num milésimo de segundo tal vibração transmuta o tempo em mero espectador sem função. Simplesmente completar-se no puro desfalecer.
A explosão de energia, a sensação de entrega é de quem está amando, não importando se o objeto amado ama na mesma intensidade. Importante é, sim, que permita ser amado. Receba o amor, o aceite. Mas, não é em razão do amar do outro que aumentará a magnitude do sentimento que emana em mim.

Ela se desfaz derrotada. Repenso a tautologia do discurso. Então, cedo espaço. É necessário um fio para manter o amor. Esgarçado, invisível aos olhos do corpo. Mas, presente. A alma o pressente. Pode ser uma amizade sincera passível de transformar-se num sentimento maior. Ou um carinho hesitante que promete se ampliar. Ou luz de cometa em vivência de mil eras afastando a rotina. O amor precisa desse arfar de ilusão. Senão a dor o encobre. Ele adoece e morre como uma estrela de nêutrons extinta na própria explosão.

A paz encontra um assento entre as idéias lançadas. Acalmo os pensamentos. Recolho as armas. Minha respiração volta a ser compassada. A imagem do ser amado retorna revigorada. Esse é o fio de Ariadne que me guia no escuro. E traz a certeza de um sentimento profundo. Ele é capaz de sobreviver por milhões de anos-luz.

"Amar como amam os loucos na incerteza do hoje
Achar que perder-se aos poucos é boa razão para o risco.
O próprio amar é a paga de quem a ele se entrega."
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui